Tradição

Busca por doces movimenta o dia de São Cosme e Damião

Tradição, apesar de mais tímida que em outros anos, é mantida por devotos dos santos em toda a cidade; além de católicos, os santos são homenageados pela Umbanda e Candomblé

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

SÃO LUÍS-Em mais um 27 de setembro, o dia de São Cosme e Damião, padroeiros de médicos e farmacêuticos, levou centenas de crianças às ruas de São Luís. Embora mais tímido, o costume resiste ao longo dos anos e devotos dos santos distribuem doces, balas e brinquedos em homenagem aos irmãos. Além dos católicos, a data é celebrada por umbandistas, que sincreticamente representam os santos católicos como Erês ou Ibejis, entidades alegres e festeiras, de grande prestígio junto aos orixás, que representam as crianças.

No Bairro de Fátima, o dia de São Cosme e São Damião é comemorado há 18 anos pelos quase 300 alunos do Educandário Manoel da Conceição Pinheiro Sobrinho - escola comunitária vinculada à Associação Carente São Benedito do Bairro de Fátima - e, de acordo com a presidente da instituição, Andrelina Joana Costa, no que depender do empenho da equipe, voluntários e parceiros, além de, claro, a alegria da meninada, não há indícios de que a festa deixe de ser realizada tão cedo.

“Hoje é um dia de festa. Os alunos já chegam animados, ansiosos para a distribuição dos bombons e doces e a alegria deles nos deixa muito gratificantes. Além da nossa equipe, muitas pessoas fazem questão de doar balas e brinquedos e isso nos ajuda a manter as homenagens a São Cosme e Damião vivas, não só na escola, mas em toda a comunidade, porque pela manhã distribuímos para os alunos e à tarde para os meninos do bairro”, contou Andrelina Costa.

Madre Deus
Nas ruas da Madre Deus, bairro histórico e festivo de São Luís, grupos de crianças nas ruas, de porta em porta, buscavam doces distribuídos religiosamente, a cada ano, pelos admiradores da dupla de santos. Neste roteiro de guloseimas, a casa da radialista Maria Rosário Costa é parada obrigatória dos pequenos.

“Além dos doces, distribuo, todos os anos, almoço às 27 primeiras crianças que vierem aqui a partir de meio-dia e meia. Foi uma promessa que fiz há 35 anos, quando o meu filho, que na época tinha cinco anos, corria o risco de ter o pé amputado após um acidente jogando futebol. Pedi primeiramente a Deus e Nossa Senhora e também a São Cosme e São Damião que foram médicos, que, se eu fosse merecedora, me concedesse a graça de restituir a saúde do meu filho. Até hoje ele está ótimo, sambando como ninguém”, garantiu.

Católica e frequentadora da umbanda, Costa se apega, também, aos Erês que, para as religiões de matrizes africanas, são representados pelas crianças. Para ela, que investiu cerca de R$ 1.500,00 para proporcionar a festa, cada centavo foi válido. “A gente comemora e oferece tudo que tem aos Erês, que são as crianças. Quem gosta de festa e guloseimas é criança. Então dedicamos a festa a todos os Erês, porque são pessoas alegres, que nos dão vida, abrem e fecham nossos caminhos. Criança é coisa de luz, por mais triste que seja uma casa, se tem criança, tudo melhora. Por isso eu me dedico há 35 anos para manter essa festa. Se eu pudesse investiria muito mais”, contou.

Dia de Cosme e Damião

Mais do que uma comemoração religiosa, o dia de Cosme e Damião, ou dia dos Erês ou Ibejis, nos terreiros de povos tradicionais é marcado pela distribuição de doces e guloseimas para as crianças. Tradição esta que é repetida por católicos, que em suas casas recebem os meninos e meninas que correm de um lado para outro, buscando encher suas sacolas de coisas de criança.

A distribuição de doces no dia de Cosme e Damião, dentro do catolicismo, se deve ao fato de que os santos, em vida, ofereciam doces para amenizar a tristeza das crianças e enfermos. Os dois são considerados protetores dos pequenos, e por isso em seu dia muitas pessoas repetem o mesmo gesto de carinho, que foi trazido pelos portugueses.

Independente da origem das guloseimas, o fato é que se trata de uma data doce, que deve servir para espalhar alegria, cada um com suas próprias convicções e dentro da mais absoluta harmonia. Delas, o único risco que se pode esperar é uma cárie ou umas calorias a mais no fim do dia.

SAIBA MAIS

Cosme e Damião

São Cosme e Damião, sincretizados as crianças gêmeas conhecidas por Ibejis ou Êres, são entidades alegres, festeiras e têm grande prestígio junto aos orixás Cosme e Damião, dois irmãos gêmeos, médicos de profissão e santos na vocação, que viveram no Oriente e eram reconhecidos por sua habilidade na medicina, além de missionários.

Eles jamais abandonaram sua crença e, devido a isto, foram perseguidos e decapitados em 303 dC. Cosme e Damião são considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e profissionais da saúde. Na Umbanda são sincretizados como os Erês ou Ibejis, divindades gêmeas, duas crianças arteiras e brincalhonas.

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