Especial / O Estado

Vila Passos: bairro que nasceu da "intervenção" de irmandade

A partir do fechamento do Cemitério dos Passos, pelo poder público, região passou a receber a população que, aos poucos, constituiu um dos bairros mais tradicionais da cidade, e que completa 84 anos neste mês

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

[e-s001]Em abril de 1935, o então prefeito de São Luís, Manoel Vieira de Azevedo, que, de acordo com o pesquisador Benedito Buzar, esteve na gestão da cidade a partir da influência do Poder Executivo do Maranhão, lançou o Edital nº 23, em que a população era notificada do lançamento “de casas de palha” e de telhas, situadas no subúrbio da cidade. Dentre os lugares onde estariam estas habitações, conforme cita Heloísa Reis Curvelo em seu brilhante trabalho, intitulado “Análise Toponímica de 81 Nomes de Bairros de São Luís”, estava a Rua Nova da Vila Passos, no Centro, nos arredores de um “antigo cemitério”.

Meses após a notificação, ou seja, no dia 24 de agosto do corrente ano, o Poder Executivo Municipal à época convocou as pessoas interessadas para solicitação da transferência de “domínio de imóvel” de terrenos do Patrimônio ligado à Prefeitura. Era o começo do bairro Vila Passos, que, conforme pesquisa, deve completar este mês exatos 84 anos de existência com história dependente do surgimento e consolidação de uma das irmandades (termo em referência a grupo religioso) mais conhecidas da cidade.

A trajetória da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos – congregação do século XIX, em especial, com considerável interferência na sociedade ludovicense – se confunde com o nascedouro do bairro. Segundo Curvelo Matos, a irmandade administrava o Cemitério da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, ou Cemitério dos Passos, com boa parte da área situada onde atualmente está o Nhozinho Santos (estádio).

De acordo com o “Relatório do Presidente da Província”, de Eduardo Olímpio Machado, - citado por Carlos Henrique Pinto da Silveira – no ano de 1841, foi autorizada pela Câmara Municipal de São Luís a construção do cemitério. Oito anos depois, em 1849, uma Lei da Província autorizou o funcionamento do espaço.

Segundo os registros da época, inicialmente o local para enterros seria apenas para membros da própria irmandade. No entanto, surtos de doença na segunda metade do século XIX obrigaram o acolhimento de mortos de outros locais. O fato causou rivalidade considerada assaz com o grupo da Santa Casa da Misericórdia.

Por causa disso, a administração dos Passos sofreu perseguições. A maior delas, de acordo com o historiador César Marques, ocorreu em 1869, quando uma informação alarmou a população. O informe trazia que “algumas mortes na cidade estariam ocorrendo devido à má qualidade da água potável da fonte do Apicum”. O ponto natural estaria, de acordo com autoridades, supostamente contaminado pelo enterro dos corpos na região.

Averiguação
Para averiguar a situação, o então presidente da Província do Maranhão, Brás Florentino Henrique de Souza (um médico e professor da Faculdade de Direito do Recife) – nomeou uma comissão para analisar a água e a “possível relação” com o Cemitério dos Passos. Mesmo sem a existência de um parecer técnico, em 1870, foi solicitado à Câmara local o fechamento do cemitério dos Passos que, de acordo com levantamentos não-oficiais, teria recebido exatos 1.782 sepultamentos.

Alegre “arrebalde”
Após o fechamento do cemitério, surgia um alegre “arrebalde” ou vizinhança, como descreveu César Marques, no entorno da construção. Era o início do bairro, que também consolidou o desenvolvimento da cidade para a região central. A área ainda era considerada por pesquisadores como espaço de “subúrbio”, pela simplicidade das construções e, principalmente, pela localização geográfica.

Com o passar das décadas, ganhou moradores que buscavam uma opção barata para residir nos arredores do Centro e adjacências. A Vila Passos se fixou entre outros bairros, como Coreia, Retiro Natal e Monte Castelo.

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Quanto às primeiras casas, de acordo com as famílias mais antigas, a armação era feita de materiais simples, como barro e taipa. Aos poucos, as residências – em especial após a expansão sofrida pela cidade na região central – também incrementaram as casas.

Em relação ao estilo dos primeiros moradores, a Vila Passos começou como bairro do proletariado, sendo a maioria funcionários do segmento industrial (da antiga Fábrica Santa Izabel), além de comerciantes e servidores da administração pública. Na localidade, residiram também ex-governadores como Luiz Rocha (ainda vereador), além do ex-vereador Eliezer Silva e outros representantes populares.

[e-s001]Anos 1930 e os sinais de violência
Com a alta concentração de populares, a Vila Passos – atualmente qualificada como localidade pacata – sofreu com as consequências da violência popular. Como atesta o registro do jornal A Pacotilha, de 21 de maio de 1935. Na ocasião, com o título “Uma cena de sangue”, a matéria registrou um crime no bairro.

De acordo com o texto, a vítima foi identificada como Adonias Ferreira, de 42 anos de idade, conhecido como “Barbadiano”. Com fama de “contumaz e desordeiro”, a vítima estava em uma barraca existente na Vila Passos quando foi ferido em discussão. A reportagem não explicitou de que forma a vítima foi ferida. Dias depois, o acusado foi preso.

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