Crime ambiental

Milhares de sardinhas encontradas mortas no município de Raposa

Pesca de zangaria foi apontada como um dos fatores; mas um processo natural de migração dos cardumes para as áreas de mangue seria a explicação mais plausível; Sema informou que fará coletas e análises no local

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Um tapete de sardinhas mortas cobre a terra e a água na região de Carimã, em Raposa
Um tapete de sardinhas mortas cobre a terra e a água na região de Carimã, em Raposa (Sardinhas)

Um fenômeno calamitoso foi registrado na terça-feira (30), no município de Raposa, localizado na Região Metropolitana de São Luís. Milhares de sardinhas foram encontradas mortas em pontos distintos da área costeira da cidade, o que deixou os moradores e pescadores impressionados. O “mar de peixes”, em grande volume, estava espalhado na água dos igarapés e também no mangue.

A grande quantidade de sardinhas mortas foi localizada em trechos como Porto do Braga, Carimã, Vila Laci e Jussara, como O Estado apurou. Ao lado das embarcações ou boiando na água, os cardumes deixaram as pessoas atônitas. As explicações para o fenômeno são muitas, mas, para alguns moradores da região, a pesca de zangaria – considerada altamente predatória, sendo proibida nos meses de julho e agosto devido à reprodução dos cardumes – seria a principal motivação para a mor­te dos peixes.

O uso dessa rede de zangaria alta é considerado prejudicial para a fauna marinha, uma vez que atrapalha a reprodução das espécies. O fato é que a morte das sardinhas deixou a população de Raposa revoltada, não apenas pelo aspecto da sobrevivência, como, também, no aspecto ambiental. Dessa atividade, as famílias se sustentam, como declarou o pescador Edilson Pereira. “Como é que nós vamos sobreviver? A sardinha é a isca do peixe. Matando ela, os peixes também vão embora”, pontuou.

Fenômeno também ocorreu em Ribamar
O problema também aconteceu no Porto do Vieira, no município de São José de Ribamar, onde uma grande quantidade de sardinhas foi encontrada morta. O secretário de Meio Ambiente de Ribamar, Nelson Weber, disse que já solicitou ao laboratório que fizesse uma análise físico-química e bacteriológica da água.

Segundo ele, que descarta a possibilidade de que a pesca predatória tenha provocado a mortandade dos peixes, uma equipe do órgão também fez uma visita ao igarapé, como parte do procedimento de averiguação do fenômeno.
Posicionamento da Sema

Em nota, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Sema) informou que o Laboratório de Análises Ambientais (LAA) efetuará hoje, 1º, coletas e análises no local para periciar e emitir laudo sobre a mortalidade dos peixes no município Raposa.

Ainda segundo o órgão, o caso já estava sendo monitorado, tendo em vista que o fato ocorre, geralmente, no mesmo período do ano, devido ao número elevado de sardinhas que se reproduzem na cos­ta maranhense.

Sobre a pesca de zangaria
Segundo a Sema, a atividade de pesca com esse tipo de rede foi regulamentada pela Instrução Normativa do Ibama nº 39, de 2 de julho de 2004, em todo o litoral do Maranhão, incluindo as baías e reentrâncias. Conforme o documento, o uso das zangarias somente será permitido nas seguintes condições: malha igual ou superior a 50 milímetros entre nós opostos da malha esticada e comprimento máximo da rede em operação de pesca de 1.500 metros.

A prática se mostra altamente predatória, sem chances de sobrevivência às espécies que são descartadas (50% em média do que é pescado) por não apresentar valor comercial, representando uma das principais ameaças à manutenção dos recursos pesqueiros.

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