Variação climática

Transição climática no Maranhão intensifica focos de calor e queimadas

O período mais seco do ano deve começar, definitivamente, em agosto, mas as consequências do calor mais intenso já podem ser vistas, sobretudo no sul do estado

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Com a mudança climática, aumenta a temperatura, que deve se manter na faixa de 30º a 32º graus na Ilha
Com a mudança climática, aumenta a temperatura, que deve se manter na faixa de 30º a 32º graus na Ilha

SÃO LUÍS - O período de transição entre a estação chuvosa e o verão no Maranhão começou, e essa mudança climática pode trazer consequências, como o aumento nos focos de incêndio, sobretudo no sul do estado. Até o dia 7 de julho, 1.887 focos de incêndio foram registrados em solo maranhense, tornando-o o quarto estado com em maior número de queimadas.

Andrea Cerqueira explica que transição traz complicações
Andrea Cerqueira explica que transição traz complicações

“Essa transição também pode trazer alguns riscos à saúde, como por exemplo o aumento no número de doenças respiratórias. Apesar disso, a mudança climática em 2019 não será diferente da vista nos anos anteriores”, explica Andrea Cerqueira, meteorologista do Laboratório de Meteorologia do Núcleo Geoambiental (NuGeo) da Uema.

O clima na capital deve se manter na faixa de 30º a 32º, na máxima. Fora isso, o que deve variar é a sensação térmica. “Em lugares arborizados as temperaturas são, obviamente, mais amenas”, diz Andrea Cerqueira.

No norte do Maranhão, o período de estiagem deve começar, de fato, em agosto. Esse período deve se manter até novembro, onde é esperado que as chuvas voltem a cair com mais frequência, anunciando mais um período de transição de estações.

“Acreditamos que as chuvas devem voltar a cair entre novembro e dezembro, como em 2018. Lembrando que o que aconteceu no último ano não foi um fator incomum. A falta das chuvas nesses meses que é um indício de mudança climática”, finaliza a meteorologista.

Variação climática
Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos deixados pela mudança climática estão cada vez maiores devido às emissões de gases de efeito estufa sem precedentes, provocando um aumento das temperaturas mundiais a níveis perigosos, e tornando ainda mais fortes os períodos chuvosos e as estiagens.

Segundo o relatório mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o estado do clima mundial, correspondente a 2018, a elevação recorde do nível do mar, assim como das temperaturas terrestres e oceânicas foram destacadas. Não distante disso, as consequências podem ser vistas de maneira clara no Maranhão.

Os meses de novembro e dezembro de 2019 foram marcantes no estado, que foi atingindo por temporais iniciados a partir de efeitos da Oscilação Madden e Julian, também conhecidas como oscilações 30-60 dias, que acontecem, normalmente, em anos de El Niño.

“É difícil a gente dizer que está havendo um cenário de mudança climática, porque estaríamos afirmando que daqui em diante, todos os anos, as chuvas seriam iguais a essas, o que contraria as expectativas da climatologia, que são datadas em cerca de 30 anos”, explica Marcio Eloi, meteorologista do NuGeo da Uema. Os profissionais do laboratório afirmam que todos os pontos do apresentado pela Declaração da OMM são pertinentes e sérios.

Em novembro, as chuvas foram sete vezes mais fortes do que o esperado com os números base. Em dezembro, as chuvas ultrapassaram em quatro vezes as estatísticas. Em todos os seis primeiros meses de 2019 as chuvas também foram maiores do que o esperado, chegando a bater recorde em março, com 752 milímetros de média em São Luís, representando 75% acima do esperado.

“O planeta, como um todo, está passando por mudanças climáticas, que já se tornaram tendências. Mas os casos das fortes chuvas, como as vistas nesse ano no nosso estado, ainda não se enquadram como tendência, e sim variabilidade. Tendência seria afirmar que no ano que vem isso vá se repetir, e ainda não sabemos”, diz o meteorologista.

Queimadas
Com o período mais seco do ano se aproximando, as queimadas devem se intensificar, principalmente no sul do maranhão. Apesar das chuvas estarem superando o esperado desde novembro de 2018, o Maranhão é o 4º estado brasileiro onde foi registrado o maior número de queimadas e incêndios florestais. Com base em um boletim divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com dados atualizados até o último dia 7 de julho, pode-se afirmar que 1.887 incêndios foram registrados no estado, em 2019.

Os dados são alarmantes, se comparados aos índices dos dois últimos anos. Em 2018, foram contabilizados 1.571 queimadas e incêndios no mesmo período do tempo, número 20% menor do que em 2019. Os focos são constatados, em sua maioria, na região do cerrado maranhense, que ocupa a maior parte do território do estado. Para se ter uma ideia de como a incidência de queimadas no estado está cada vez maior, nas últimas 48 horas foram identificados 42 focos pelo Maranhão, sobretudo no centro-sul.

SAIBA MAIS

Efeitos das queimadas
No contexto local, as queimadas destroem a fauna e flora, empobrecem o solo, reduzem a penetração de água no subsolo, e em muitos casos causam mortes, acidentes e perda de propriedades. No âmbito regional, causam poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação e transportes; elas também alteram, ou mesmo destroem ecossistemas. E do ponto de vista global, as queimadas são associadas a modificações da composição química da atmosfera, e mesmo do clima do planeta; neste último contexto, as maiores contribuições do Brasil provêm das queimadas.

É importante lembrar que as queimadas são parte integrante e necessária de alguns ecossistemas onde ocorrem naturalmente devido a raios, como no cerrado, mas apenas umas duas vezes por década nas estações de transição, e não tão frequentemente e no período de estiagem, como se constata.

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