Fundação

Comunidade celebra 101 anos de fundação do bairro Liberdade

Bairro completou mais um aniversário neste sábado (25); moradores relembram momentos vividos na Liberdade; para comemorar a data, programação especial foi dedicada à comunidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Matadouro é símbolo do bairro Liberdade
Matadouro é símbolo do bairro Liberdade (Liberdade)

SÃO LUÍS- A área onde, até 1918, havia apenas um matadouro, deu origem ao, hoje conhecido, bairro Liberdade, na região central de São Luís, que, neste sábado (25) comemorou 101 anos de fundação. Para celebrar a data, uma vasta programação foi dedicada, durante o fim de semana, à comunidade que relembra momentos inesquecíveis vividos em um dos bairros mais tradicionais da cidade. Manifestações culturais como bumba-meu-boi e bloco afro foram algumas das atrações que animaram a população durante todo o dia.

Conhecido pela diversidade, o bairro Liberdade é berço de diversos grupos e manifestações integrantes da cultura maranhense. Para celebrar seu 101º aniversário, atividades religiosas, esportivas, artísticas e culturais fizeram parte da programação alusiva à data. Na Rua Corrêa Araújo, próximo ao Viva Liberdade, foi realizado um culto ecumênico, além de corrida rústica e apresentações culturais de grupos de bumba-meu-boi, tambor de crioula, cacuriá, bloco afro e grupos musicais dos mais diversos ritmos, como forró, reggae, samba e seresta.

As comemorações, que mobilizaram o bairro durante todo o fim de semana, não foram materializadas apenas nas ruas. Algumas famílias aproveitaram a data para relembrar momentos importantes vividos no bairro. Na casa da octogenária Célia Maria Abreu, mais conhecida na comunidade como Celina, as lembranças se voltaram à chegada ao bairro.

“A minha família é de São João Batista. Viemos para São Luís em 1951, meus pais, eu e três irmãos quando eu tinha 11 anos de idade. Crescemos aqui, constituímos família, fizemos amigos e assim segui até hoje. Todos os meus 12 filhos também foram criados aqui e hoje tenho netos e até bisnetos que, apesar de morarem em outros bairros, visitam e frequentam a Liberdade”, contou a matriarca.

Para ela, apesar de todos os momentos eternizados no bairro, o desejo de mudar vem se tornando uma possibilidade real, visto que a idade traz consigo o desejo de sossego, característica que, para ela, já não condiz com o local. “Antigamente era um bairro muito tranquilo, existiam poucas casas, não tinham carros nem criminalidade. Podíamos dormir de portas abertas que nada acontecia. Hoje, apesar do respeito e consideração que temos uns pelos outros, nos sentimos inseguros. E a Liberdade é um lugar muito animado, algo que para os mais jovens é muito bom, mas quando a idade chega, queremos ficar tranquilos”, declarou.

Bairro secular que nasceu de um matadouro

Se antes era área de um imenso matadouro, cujas ruas serviam de travessia para várias manadas vindas da Baixada Maranhense, atualmente o bairro da Liberdade – considerado o maior conglomerado urbano de população negra da capital, São Luís – mantém tradições de forma fidedigna e problemas que ainda são comuns em boa parte dos bairros da cidade.

Quem imagina um bairro permeado apenas por histórias marcadas por violência perde a oportunidade de conhecer um lugar essencialmente ocupado por pessoas que vivem a luta diária por melhores condições de vida e constituído, em sua maioria, por um povo guerreiro, que carrega vitalidade e bom humor. Atualmente, não existem dados oficiais acerca da população oficial do bairro Liberdade. Apesar de não haver pesquisas, presume-se ser uma das localidades mais populosas da cidade, não somente por seus moradores em si, mas pelas chamadas “invasões”, que surgiram ao longo dos anos, no entorno do bairro, e que ajudam a explicar parte da violência registrada na Liberdade.

Para entender o que é hoje a Liberdade, é necessário voltar no tempo. Mais especificamente ao início do século XX, em 1918. Foi nesse ano que se estabeleceu no bairro, ainda conhecido como Campina do Matadouro, os primeiros moradores. Muitos deles oriundos do interior do Maranhão, em busca de uma vida melhor na capital maranhense. Até a década de 1930, começaram a ser construídas as primeiras casas, feitas por pessoas que migraram do interior e por trabalhadores do próprio matadouro, que recebiam à época uma espécie de “ajuda de custo” para residir próximo ao empreendimento.

Historiadores apontam ainda que a Liberdade começou a surgir no antigo Sítio Itamacaca, de propriedade de Ana Joaquina Jansen Pereira. Em meados da segunda metade da década de 1930, o então prefeito, Otacylio Saboya Ribeiro, rescindiu o contrato com a chamada Companhia Matadouro Modelo pelas “péssimas condições de higiene no local”. O empreendimento foi reaberto nos anos 1940 e fechado novamente 10 anos depois.

SAIBA MAIS

Curiosidades da Liberdade

O dia em que um boi matou uma mulher

Se a passagem dos bois era tratada, na maior parte do tempo, como uma “festa” por crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos, houve um dia em que a passagem da manada foi motivo de tristeza. Sem saber a data exata, seu Olegário de Carvalho, de 73 anos, e que mora na Liberdade desde os seis anos de idade, jura que – quando era mais jovem – viu um boi matar uma mulher. “Na verdade, os bois começaram a descer do trem e foi aquela correria. Uma mulher, uma senhora já de idade, se apavorou e correu. O boi afoito e assustado foi para cima dela e sentou em cima dela. Ainda a levaram para o hospital, mas não teve jeito”, disse.

Primeiras vias

Assim que foi oficializada como Liberdade, o bairro começou a se desenvolver. Foi neste período que começaram a surgir as primeiras vias, como Correia de Araújo, Alberto de Oliveira, Gregório de Matos, Luiz Guimarães, Inglês de Souza, Alberto de Lima, dentre outras. “Na verdade, o bairro da Liberdade é um dos poucos da cidade que nasceu de forma planejada, com ruas feitas sob medida e casas construídas em tamanho proporcional”, frisou Seu Olegário de Carvalho Gama, outro morador antigo do bairro.

“Bairros” dentro da Liberdade

Floresta, Japão, Alto do Bode, Alto da Carneira, Baixinha, Brasília do Matadouro e Camboa são algumas das comunidades incorporadas pela Liberdade.

Iziane
Iziane Castro Marques, nasceu e morou na Liberdade até os 15 anos de idade. Começou jogando basquete nas escolinhas do Colégio Batista e foi destaque da seleção brasileira, sendo comparadas com grandes nomes do esporte, como Hortência.

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