Adeus em Codó

Ícone da umbanda, Bita do Barão é velado em clima de comoção

Babalorixá que se tornou conhecido no país, morreu ontem em hospital de Teresina (PI); entidades e personalidades lamentaram e divulgaram nota

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Wilson Nonato de Sousa, o Bita do Barão, era referência da umbanda no Maranhão; ele morreu aos 86 anos
Wilson Nonato de Sousa, o Bita do Barão, era referência da umbanda no Maranhão; ele morreu aos 86 anos (Bita do Barão diz que a reportagem serviu para espalhar ódio e discriminação)

SÃO LUÍS - O babalorixá mais importante do Maranhão e um dos mais conhecidos do Brasil, mestre Bita do Barão, faleceu no início da tarde de ontem (18), no Hospital São Paulo, zona leste de Teresina, no Piauí. A confirmação foi dada pela filha do mestre, Janaína Nonato de Sousa.

“Papai infelizmente veio a falecer aqui no hospital. Estamos cuidando para que o corpo vá para Codó, onde será o velório”, disse. Segundo estudiosos da umbanda no Maranhão, Bita do Barão morreu com 86 anos.

Bita estava internado há 10 dias para o tratamento de uma infecção pulmonar. Problemas renais e de pressão alta teriam surgido, agravado seu estado de saúde e levando-o para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na quarta-feira (17), os médicos recomendaram que ficasse com a família em sua residência, visto que o tratamento seria cada vez mais agressivo e sem resultados reversíveis. Um boletim médico informou que a morte ocorreu às 12h40. A causa não foi divulgada.

O pai Rondinele de Oxúm, vice-coordenador do Centro Nacional de Africanidades e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) e amigo próximo de Bita do Barão, lamentou a morte do mestre. “Agora é real. Em nossos eventos, como na inauguração da Praça dos Orixás, na Lagoa do Norte, ele sempre estava presente. Pai Bita era resistente contra o preconceito de nossa religião e fará falta”, afirmou

Conhecido internacionalmente, Bita do Barão, natural do município de Codó, interior do Maranhão, recebeu do ex-presidente da república, José Sarney, o título de Comendador da República, na década de 1980.

Boatos
Desde a quarta (17), quando o quadro de saúde de Bita piorou, surgiram diversos boatos sobre sua morte. A confirmação ocorreu somente pela filha do babalorixá, por meio de um comunicado:

“Estão saindo muitos boatos, estão dizendo que a gente está tirando os aparelhos para levá-lo para morrer em casa”, declarou. A família não teria pensado nessa hipótese, visto que também comprometeria o hospital".

Segundo ela, Bita somente seria levado para Codó quando tivesse condições físicas para isso. Enquanto necessário, permaneceria sob os cuidados médicos na cidade de Teresina.

Velório
Após a confirmação da morte, a filha do líder umbandista afirmou que o corpo seria levado para Codó ainda ontem (18). “O velório vai acontecer na nossa residência, na rua Rui Barbosa, no Centro de Codó”, disse. Segundo ela, todas as pessoas que desejam deixar seu último adeus ao mestre serão bem-vindas na Tenda Espírita Rainha Iemanjá. O corpo do mestre deveria chegar em Codó por volta das 19h de ontem.

Homenagenm
Nas redes sociais, diversos admiradores do babalorixá deixam suas mensagens de apoio a família. O vereador Astro de Ogum (PR), vice-presidente da Câmara de São Luís, lamentou o falecimento de Bita do Barão. “Foi com muita tristeza e pesar que recebi a ligação da neta do Bita, informando sobre o seu falecimento. A umbanda perde um dos seus maiores filhos”, lamentou o vereador, que também é pai de santo.

A Federação de Umbanda e Culto Afro-brasileiro do Maranhão (Fucabma), também lamentou, por meio de nota, sobre a passagem para o plano espiritual de Bita do Barão. “Ao longo de muitas décadas, exerceu o ofício de liderança religiosa da umbanda e terecô à frente da Tenda Espírita de Umbanda Rainha Iemanjá. Dada sua grande projeção, foi considerado por muitos como o maior babalorixá do país, atraindo milhares de pessoas de todas as partes do mundo para atendimentos espirituais e acompanhamento das festividades rituais do terreiro, notadamente no mês de agosto, quando se celebrava a Festa de Todos os Santos e Orixás”.

A entidade ressalta ainda a importância do babalorixá para a cultura, por ser tema de inúmeros estudos por parte de pesquisadores e cineastas brasileiros e estrangeiros. Destaca ainda que Bita foi um grande expoente da salvaguarda e memória das religiões de matrizes africanas, uma vez que acolheu centenas de clientes, amigos, babalorixás e filhos-de-santo, com os quais dividiu saberes e fazeres referentes à ancestralidade e resistência cultural do povo afro maranhense.

“Diante de sua esplendorosa trajetória espiritual no plano terrestre, pela qual expressamos gratidão pela honrosa oportunidade de aprendizado, temos a certeza que o pai Bita do Barão terá lugar de destaque, não apenas na memória do povo de santo, como a de que também será bem recebido no Orum. Inspirados em sua história, seguimos na profissão de fé em busca da construção de um meio social mais humano, tolerante e amoroso que a Umbanda nos motiva”, finaliza a nota da Fucabma.

A Secretaria de Estado da Igualdade Racial (Seir) também liberou nota em condolências do falecimento do religioso de matriz africana. “Neste momento de perda para as comunidades de matriz africana, o Governo do Maranhão se solidariza com a família e com as lideranças religiosas dos cultos afros”, diz a nota.

Campeão nas passarelas
Com o enredo “No terreiro do Maranhão, o mestre é Bita do Barão”, o babalorixá foi o grande homenageado da escola de samba Turma do Quinto, da Madre Deus, no desfile das escolas de samba de 2014. Com o tema de grande aclamação e um belíssimo desfile, a escola foi a grande campeã do Carnaval desse ano.

A influência afro-brasileira na cidade de Codó, onde Bita do Barão realizava obrigações religiosas chamadas de terecô, foram o grande destaque. “A gente pretende fazer um grande teatro na avenida, mostrando Bita do Barão como um ícone da umbanda internacional”, disse, a época, o carnavalesco Wilson Bozó. A devoção dos rituais afro que chegaram no Brasil, trazidos pelos escravos se tornaram um verdadeiro espetáculo na avenida.

Quem foi Bita do Barão
Wilson Nonato de Sousa, o Bita do Barão, nasceu em 10 de julho de 1932 segundo estudiosos da Umbanda no Maranhão. Recebeu o apelido de Bita do seu padrinho, pelo fato de ser muito danado, comparado a um bode. Já o Barão ganhou na Umbanda, uma homenagem a Barão de Guaré.

Em 1954 fundou a Tenda Espírita de Umbanda Rainha Iemanjá, que recebeu grandes personalidades, entre políticos e artistas. Seu poder aquisitivo também cresceu e na cidade de Codó manteve por anos diversos projetos sociais, além de festas religiosas que atraem, todos os anos, pessoas do mundo todo.

Nota de pesar

A ex-governadora Roseana Sarney emitiu no fim da tarde de ontem a seguinte nota de pesar pela morte de Bita do Barão:

"Bita do Barão será sempre para o Maranhão e para o mundo uma referência de preservação do culto e religião de matrizes africanas.
Externo o meu pesar aos familiares, amigos e seguidores do Babalorixá.
Que Deus o tenha".

Roseana Sarney

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