Conscientização

2 de abril é dia mundial de conscientização do autismo

A ONU argumenta que, para muitas pessoas no espectro do autismo, o acesso a tecnologias assistenciais é um pré-requisito para poder exercer seus direitos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Conscientização para garantir o acesso a tecnologias assistenciais a preços acessíveis para os pacientes
Conscientização para garantir o acesso a tecnologias assistenciais a preços acessíveis para os pacientes (autismo)

São Paulo - A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o tema central do próximo Dia Mundial de Conscientização do Autismo (no original, em inglês: World Autism Awareness Day), celebrado em 2 de abril, desde 2008): “Tecnologias assistivas, participação ativa”. A ONU argumenta que, para muitas pessoas no espectro do autismo, o acesso a tecnologias assistenciais a preços acessíveis é um pré-requisito para poder exercer seus direitos humanos básicos e reduzir ou eliminar as barreiras à sua participação em igualdade na sociedade.

Segundo o Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, uma criança a cada 100 nasce com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O aumento é grande: há alguns anos, a estimativa era de um caso para cada 500 crianças. Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham autismo, sendo 2 milhões delas no Brasil.

Mas, afinal, o que é o autismo (TEA) e como lidar com essa doença que ainda gera tanto preconceito? De acordo com o prof. dr. Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e membro filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, o diagnóstico começa pela observação do comportamento da criança (paciente). O TEA, na realidade, envolve um grupo de doenças do neurodesenvolvimento, de início precoce (antes dos 2-3 anos), e que se caracteriza por dois aspectos principais: dificuldade de interação social e de comunicação.

Uma criança sadia começa a interagir com outras pessoas em tor­no dos 4-6 meses. “Ela é capaz de sorrir quando vê alguém conhecido ou reagir com medo se um estranho, por exemplo, tenta pegá-la no colo”, explica Louzã. À medida que a criança cresce, o amadurecimento permite que a interação com outras pessoas se torne possível antes da aquisição da linguagem e da fala.

Estas evoluções ao longo dos primeiros anos de vida dão indicações do progressivo aumento da capacidade de interação social da criança. Já a autista se mostra indiferente à interação social e não expressa a reciprocidade no contato com outras pessoas. Tem grande dificuldade na comunicação verbal e não-verbal e parece desligada do ambiente em torno de si. A linguagem corporal e o contato visual com outras pessoas se mostram prejudicados.

Numa idade maior, o desinteresse em brincar com outras crianças é ainda mais nítido. Normalmente, ela se isola e se fixa em uma única atividade, com ritualização de movimentos repetitivos. Outra característica é a dificuldade de seguir rotinas, além de apresentar hipo ou hiperatividade aos estímulos sensoriais.

Sintomas associados
Segundo o psiquiatra Mario Louzã, o autismo propriamente dito não é tratado com medicamentos. Estes são utilizados quando há outros sintomas associados ao autismo, como ansiedade, TDAH, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, agitação, irritabilidade, distúrbios do sono, entre outros. Para cada situação, há uma medicação específica.

Sobre efeitos colaterais, depende do medicamento, da dose, da idade da criança e de outros fatores. Como são vários remédios de classes terapêuticas diferentes, fica difícil generalizar os efeitos colaterais. Também há indicação de psicofármacos para casos mais leves.

E como facilitar a integração do autista na sociedade? “Infelizmen­te, ainda há muito preconceito, principalmente por parte das crian­ças, que não têm o poder de compreensão de um adulto, e excluem o autista. Por incrível que pareça, há até mães e pais que evitam a amizade de seus filhos com as crianças portadoras do TEA, o que é uma triste ignorância”, afir­ma Mario Louzã.

Para quem tem filho autista, a melhor dica é motivá-lo a levar uma vida normal, na medida do possível. Incentive-o nas atividades, estimule-o a fazer tarefas em casa e, quando ele perceber suas próprias limitações, explique que as pessoas são diferentes, e que tem gente que consegue fazer certas coisas, e outras, não. Se for o caso, há escolas que têm maior preparo para integrar um autista em uma classe comum.

Mesmo quando ele já for maior e tiver ciência do seu autismo, nun­ca o deixe pensar que é incapaz ou inferior a outras pessoas. De acor­do com o psiquiatra, o apoio da família é sempre o melhor tratamento para qualquer tipo de transtorno.

SAIBA MAIS

Canabinoides e TEA

Nos últimos anos, o uso terapêutico da cannabis vem atraindo atenção em todo o mundo. Países como Canadá, Reino Unido, Israel e, mais recentemente, Peru – que regulamentou o uso medicinal da planta em janeiro deste ano – já flexibilizaram suas leis para ampliar o acesso dos pacientes a medicamentos derivados da cannabis. Esse movimento global vai ao encontro não só de reivindicações da sociedade civil, mas também de pesquisas e estudos clínicos que visam identificar os benefícios da cannabis para o tratamento de diversas condições, como Parkinson, Alzheimer, epilepsia, dor crônica, distúrbios de ansiedade, câncer. O mais recente deles avaliou o uso de canabinoides para tratamento do TEA – Transtorno do Espectro Autista, e os resultados são animadores.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Ben Gurion e do Soroka Medical Center, ambos em Israel, e publicado na revista científica Nature em janeiro, acompanhou 188 pacientes com TEA menores de 18 anos tratados com canabinoides de 2015 a 2017. Após seis meses de tratamento regular, 83% dos pacientes relataram avanços significativos ou moderados em aspectos comportamentais – melhora do humor, nos níveis de ansiedade, na concentração e na qualidade do sono –, além de maior facilidade para realizar tarefas cotidianas, como tomar banho e se vestir sozinhos.
Também houve impacto direto na rotina dos pacientes: antes, apenas um terço (31.3%) afirmava ter uma boa qualidade de vida, índice que dobrou (66.8%) após seis meses de tratamento.

“Estudos recentes têm relacionado o autismo a um desequilíbrio do sistema imunológico – principalmente dos astrócitos, células de defesa localizadas no cérebro –, levando a um processo neuroinflamatório crônico que afeta os neurônios. É justamente na comunicação entre os sistemas nervoso e imunológico que o sistema endocanabinoide atua, com moléculas e receptores que agem buscando o equilíbrio”, afirma o especialista”, comentou Vinicius Barbosa, psiquiatra e pesquisador membro do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos.

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