Zé Gotinha sério

Com cobertura vacinal ainda em baixa, Saúde lança ação

Levantamento mostra índices de imunização de menores de 2 anos longe da meta; os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
As peças publicitárias mostram casos reais de pessoas que sofrem pela não vacinação
As peças publicitárias mostram casos reais de pessoas que sofrem pela não vacinação (Divulgação/alerta)

BRASÍLIA - Apesar do maior debate em torno da importância da vacinação, dados do Ministério da Saúde mostram que a cobertura ainda está abaixo da meta neste ano para as principais vacinas indicadas a bebês e crianças. Levantamento preliminar feito pelo Programa Nacional de Imunizações aponta que o país registrava, até agosto, coberturas entre 57% e 76% em crianças menores de dois anos.

O ideal, no entanto, é que essas coberturas cheguem até o fim do ano a 90%, no caso da vacina BCG, e 95% para as demais. Entre as vacinas com menor cobertura até o momento estão a hepatite A, com 57,1%, e a pentavalente, com 59,6%, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, entre outras doenças.

Os dados foram divulgados pela pasta ontem com uma nova campanha para informar sobre os riscos da não vacinação. A coordenadora do programa, Carla Domingues, pondera que os índices ainda podem crescer, já que costuma haver atraso de até três meses no envio dos dados pelos municípios. Ainda assim, ela diz que o panorama gera alerta devido à queda nas coberturas vacinais nos últimos anos. Ela defende um esforço conjunto.

“São dois anos de campanha de vacinação do Ministério da Saúde, que adota tom mais grave, mudando até a expressão do personagem Zé Gotinha. Não podemos entrar no terceiro”, diz. “Apesar de ter atingido a meta de cobertura na campanha de pólio e sarampo, estamos falando de 11 vacinas ainda sem cobertura adequada.”

Cobertura

Para Renato Kfouri, do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, é preciso analisar os dados com cautela, já que o atraso no envio de dados pode reduzir os índices. “Mas sabemos que a cobertura não está boa, senão não teríamos esse surto de sarampo no Norte do país”, diz.

Diante do problema, o ministério lançou ontem uma campanha de alerta nas redes sociais e televisão sobre os impactos das baixas coberturas vacinais. A ideia é mostrar casos reais de pessoas que sofreram com doenças e sequelas por não terem sido vacinadas no passado, com o slogan “Contra o arrependimento não existe vacina”.

Cartazes

Figura central em campanhas de vacinação, o personagem Zé Gotinha, criado na década de 1980, deve mudar de tom. Famoso pelo sorriso que estampa sua cabeça em forma de gota [em alusão à vacina oral contra a poliomielite], o personagem agora aparece em tom sério e preocupado.

Em cartazes, a campanha traz imagens de adultos e crianças atingidos pelas doenças ou suas sequelas, ao lado de frases como "Dor, sofrimento, sequelas, morte" e de textos de alerta. “Vamos falar da gravidade das doenças, mostrando as consequências da paralisia infantil e uma família que perdeu cinco pessoas pelo sarampo. As pessoas não sabem mais o que é isso”, diz Domingues, em referência a doenças como poliomielite, cujo vírus não circula no país desde 1990, e o sarampo, que voltou a registrar surtos neste ano, com 2.044 casos confirmados e 7.966 suspeitos.

Segundo a coordenadora, campanhas como essas eram mais comuns nas décadas de 1980 e 1990. “No momento em que parou de ter as doenças, buscou-se uma linguagem mais lúdica. Agora que diminui a cobertura vacinal, voltamos com outro cenário.”

A campanha faz parte de um conjunto de estratégias adotadas pelo governo para tentar aumentar a adesão à vacinação no país. Em junho, o país atingiu em 2017 o menor índice já registrado de vacinação de crianças no país em mais de 16 anos. Entre os fatores investigados para a queda, estão o baixo temor de doenças e a falsa sensação de segurança, horários limitados dos postos de saúde, falta de busca ativa, influência de notícias falsas, entre outras.

Depoimentos

A campanha conta com 2 filmes de 60” e 30”, spots de rádio, anúncios de jornal e revista, mobiliários urbanos, painéis e diversas ações na internet e nas redes sociais, com o Zé Gotinha assumindo um papel de influenciador digital. Além disso, serão produzidos materiais com o calendário de vacinação para serem distribuídos para todas as unidades de saúde do Brasil. Para facilitar a busca, todo o conteúdo pode ser acessado procurando pela hashtag #FalaGotinha e encontrado na página: saude.gov.br/vacinacao.

Os depoimentos de pessoas que sofreram consequências pela falta da vacinação é o ponto alto da campanha publicitária. Um dos filmes, traz um caso emblemático, o de Eliana Zagui, que tem 44 anos e há 42 anos sofre de uma paralisia severa que a obriga a viver dentro do Hospital das Clínicas de São Paulo. Eliana é tetraplégica e respira com a ajuda de aparelho. Quando criança, não foi vacinada contra a poliomielite por estar com febre. Apesar das dificuldades, Eliana se tornou artista (pintando com a boca), já escreveu um livro e hoje faz questão de dar o seu depoimento para mostrar a importância da vacinação para não deixar que outras pessoas sofram com a enfermidade que a privou de uma vida fora do hospital.

Outro filme, retrata o drama de Neuza Costa, que tem 57 anos. Quando criança, ela perdeu cinco irmãos, que morreram por consequência das complicações do sarampo, uma doença de alto grau de contágio e que já registra um número importante de casos no país.

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