Referência administrativa

Logradouro e via são centro administrativo e refúgio de informais

Com a fixação de prédios importantes para a gerência da cidade e do país, pessoas aproveitam o grande fluxo da região para complementar a renda

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

[e-s001]Além de ter elementos consistentes no aspecto histórico, a atual Avenida Pedro II – antiga avenida Maranhense – também é referência por concentrar prédios com grande importância administrativa para a capital e o estado. É lá que estão fixados os palácios do Governo (Palácio dos Leões) e de La Ravardière (sede da Prefeitura). É na avenida e na praça que estão concentrados vendedores ambulantes que aproveitam o intenso fluxo de pessoas durante a semana no local para oferecer, em especial produtos do gênero alimentício.

Pessoas que trabalham e transitam pela Avenida Pedro II diariamente elogiam a beleza da via. A maioria não dispõe de informações acerca da história da via. “Poucas vezes ouvi informações tão detalhadas acerca desta via. Passo por ela há mais de 10 anos todos os dias e não sabia, por exemplo, que por aqui já teve um cemitério”, disse o servidor público Fernando Alves, que, atualmente, presta serviços na sede do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA) – sede do Poder Judiciário do estado.

A funcionária pública Maria das Graças, que é auxiliar de serviços gerais na Prefeitura de São Luís (Palácio de La Ravardière) disse a O Estado que a proximidade com a história da cidade – por trabalhar a poucos metros da Avenida Pedro II e da Praça Pedro II – a faz ter mais orgulho de São Luís.

Povo que fatura na praça
Muita gente aproveita o espaço para ganhar um dinheiro extra. Um deles é seu Riba, que comercializa lanches no local. Ele trabalha na via há pelo menos 20 anos e disse já ter visto muitos fatos que tiveram a via como sede. “Vários protestos, confusões no trânsito, pessoas que vêm até aqui para aproveitar o pôr do sol. Enfim, quem está por aqui todos os dias já viu de tudo um pouco”, disse.

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Questionado sobre o faturamento, o vendedor desconversou. “Até que dá para ganhar um troco, sim. A gente sempre alia bom atendimento e produto de qualidade. Uma combinação que independe do lugar em que você venda o seu produto”, afirmou.

Palácio dos Leões
O Palácio do Governo – ou Palácio dos Leões (denominação mais recente do imóvel) – é carregado de história e faz parte da origem e desenvolvimento do espaço público denominado de Avenida Pedro II. Antiga fortaleza erguida pelos franceses em 1612, a construção se transformou em palácio com o domínio português em São Luís.

Atualmente, as dependências do imóvel contam com peças de decoração oriundas dos séculos XVIII e XIX. É possível, por exemplo, fazer visitas programadas de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h30. Nos meses de junho e julho, época em que costuma aumentar o fluxo de turistas na cidade, o atendimento externo também ocorre aos sábados, no mesmo horário.

[e-s001]Edifício João Goulart
Considerado um importante imóvel da capital maranhense e erguido na década de 1950, o Edifício João Goulart – fixado ao lado da praça Pedro II – foi feito para agregar à modernidade da Ilha. No prédio, funcionou a sede do antigo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Com pouco mais de seis mil metros quadrados, o prédio atualmente passa por reforma após parceria mantida entre a Superintendência do Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Governo do Maranhão. Antes da reforma atual, o imóvel já havia passado por outros três projetos de reparo, sem sucesso.

CURIOSIDADES

Restos de Manoel Beckman e a Capela da Misericórdia
O historiador Antônio Guimarães Oliveira defende a tese de que havia, nos arredores das atuais Avenida e Praça Pedro II, um cemitério ao lado da antiga Capela da Misericórdia (que foi demolida e em seu lugar funciona a sede da Capitania dos Portos do Maranhão). Neste cemitério, de acordo com Guimarães, teriam sido enterrados os restos mortais de Manoel Beckman, um dos líderes da importante Revolta de Beckman contra os abusos cometidos pela companhia que explorava a atividade canavieira na região.
Ainda de acordo com Antônio Guimarães, trata-se do primeiro cemitério existente na cidade. Ele teria sido desativado no início do século XIX, conforme referendam Milson Coutinho, em “A Revolta de Bequimão”, e o pesquisador Ramsés de Souza Silva. “Ficava onde é atualmente uma agência bancária, anexa à capela”, explicou este último a O Estado.

[e-s001]Famílias importantes
As intervenções urbanas no trecho da Avenida e Praça Pedro II atraíram famílias consideradas nobres e importantes para a sociedade à época. Segundo o historiador Antônio Guimarães Oliveira, famílias importantes residiam no entorno da praça, como Craveiros, Aranha, Jordain, entre outras.
Um dos cidadãos mais ilustres que residiram nos arredores das atuais avenida e praça Pedro II foi o escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Graça Aranha. Ele viveu em um sobrado da Avenida Pedro II, canto com o “Beco da Silva”. A passagem de Aranha pelo imóvel na região foi descrita em “O Meu Próprio Romance”. Para ele, morar nos arredores da Pedro II lembrou os tempos de “meninice”, quando o então largo era tomado por amendoeiras.
Em 1968, quando ocorreu a passagem do centenário de nascimento de Graça Aranha, o Governo do Maranhão prestou homenagem ao escritor, fixando na entrada do sobrado ocupado por ele uma placa com os seguintes dizeres: “Nesta casa, viveu Graça Aranha, nos anos de 1870 a 1884. Homenagem do Governo do Estado do Maranhão”. É possível ver a placa até hoje, na entrada do antigo imóvel.

[e-s001]Lembranças
Quem viveu os tempos mais áureos da Avenida e Praça Pedro II se recorda de como era o cenário. Seu Raimundo Benedito, de 78 anos, relatou a O Estado como era o espaço público há pelo menos 50 anos. “Não tinha muita árvore, mas já tinham alguns carros circulando e era uma beleza passear por aqui. A gente tinha gosto em andar por esse espaço público”, disse o aposentado, nascido em São Luís e amante da cidade natal.
O comerciante Patrício Mendes (foto) possui um estabelecimento comercial ao lado da atual Praça Pedro II. Ele afirmou que o espaço público não apresentava um aspecto que atraía frequentadores há uma década. “Atualmente, o espaço está mais bonito e atrativo para quem vem por aqui. É um local, em especial, como a praça que a população sempre quis para trazer a sua família e aproveitar o Centro”, disse.

Avenida Pedro II: centro administrativo e refúgio de trabalhadores informais

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