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Censo agropecuário 2017: lavouras temporárias x lavouras permanentes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Os dados preliminares do censo agropecuário de 2017 do IBGE demonstram que o processo de submissão do campo ao capital impõe um impulso dinâmico, não só, à produtividade da terra, mas também, à produtividade do trabalho. Um exemplo disso é a queda no número de estabelecimentos agropecuários no Maranhão, entre 2006 e 2017, na casa de 23,5 % saindo de 287 mil para 219 mil. E a respectiva área desses estabelecimentos diminuiu cerca de 800 mil hectares atingindo, no último ano, 12,2 milhões de hectares. Ademais, o número de pessoal ocupado da agropecuária do estado caiu por volta de 43,2%, baixando de 991 mil para 692 mil pessoas.

Ainda assim, houve aumento significativo tanto em quantidade produzida como em produtividade. Como tal, no mesmo período, a produção de soja aumentou de 931 mil para 2,1 milhões de toneladas, o milho de 426 mil para 1,4 milhão de toneladas. A produtividade desses dois bens agrícolas, pela ordem, saltou de 2.680 para 3.010 kg/ha e 1.179 para 3.970 kg/ha. Em geral a produção total de grãos no Maranhão aumentou mais de duas vezes e chegou na marca de 4,7 milhões de toneladas, com uma produtividade média subindo de 1.645 para 3.061 kg/ha. Para mais, o valor bruto de produção das lavouras maranhenses aumentou de R$ 3,2 bilhões para R$ 5,3 bilhões.

Todos esses números podem ser explicados, entre outros fatores, pela ampliação da ciência como fator produtivo na agricultura maranhense, ou seja, pelo aumento sistemático do capital constante. Desta forma, a área que era usada para lavoura com plantio direto na palha, em 2006, era de 298 mil, e em 2017 avançou para 1,1 milhão de hectares. O número de tratores cresceu 70,5% chegando a 10.308 unidades e o de colheitadeiras 43,6% atingindo 1.162 unidades. O uso de energia elétrica nos estabelecimentos agrícolas que era de 49% aumentou para 64,6%. A capacidade de armazenamento aumentou de 303 mil para 1,2 milhões de toneladas. O uso da internet, que antes era quase inexistente, alcançou 13%.

Porém, não significa dizer que essa submissão do campo ao capital esteja completamente realizada. O triunfo da grande produção ocorreu mais velozmente em alguns setores e produtos. Com isso, houve uma desarmonia da agricultura no Maranhão. Assim, as lavouras permanentes se comportaram de maneira oposta das lavouras temporárias. Aconteceu impulsionamento negativo na área plantada, saindo de 31,8 mil para 26,1 mil hectares. A produção caiu na maioria dos produtos, a banana caiu de 128,8 mil para 72,6 mil toneladas colhidas, e no valor bruto de produção dos produtos das lavouras permanentes caiu de R$ 84 milhões para 80 milhões.

O exemplo demonstra ser essencial para a agricultura discutir e absorver as dinâmicas distintas entre os padrões gerais da agricultura moderna, dentro de cada peculiaridade setorial. A técnica a ser usada na produção de lavouras permanentes é bem diferente, e geralmente os agricultores não têm bom nível de qualificação e a relação capital-trabalho é menor. Trata-se de outra agricultura, baseada não apenas na mecanização, mas no agricultor, pois o capital intelectual é o que determina sua sustentabilidade econômica. Para realizá-la há que proliferar um amplo segmento de lavradores profissionais com alta capacidade técnica de modo que seja efetivada tanto as necessidades históricas como as possibilidades reais para o desenvolvimento pleno da agricultura no estado.

Roberto César Cunha*

*Geógrafo, Mestre e doutorando em Geografia - UFSC

Carlos José Espíndola**

**Geógrafo, Mestre e Doutor em Geografia - USP

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