Ao ar livre

Natureza deve fazer parte da rotina das crianças

Convidada para participar do IX CBUC, a palestrante Maria Isabel Amando de Barros, defende as áreas protegidas como lugar de encontro entre a criança e a natureza

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
As crianças estão passando muito tempo confinadas dentro de casa, mostrando que está cada vez mais difícil encontrá-las brincando ao ar livre
As crianças estão passando muito tempo confinadas dentro de casa, mostrando que está cada vez mais difícil encontrá-las brincando ao ar livre (crianças)

Curitiba - É com quatro passos simples de contato com a natureza que Maria Isabel (Bebel) Amando de Barros, engenharia florestal e pesquisadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana, deve iniciar sua palestra no IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), marcado para acontecer entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, em Florianópolis (SC).

Bebel é uma defensora da conexão das crianças com a natureza e ressalta a importância do papel das áreas protegidas nas experiências da infância. Em seu trabalho como pesquisadora, a palestrante defende a importância do contato diário entre as crianças e os espaços abertos desde o início da vida - prática que vem sendo abandonada há muitos anos e, por consequência, trazendo sérios problemas para as crianças. “Espaços naturais e abertos estimulam o desenvolvimento e a socialização. Se privamos as crianças e os jovens dessas oportunidades uma parte significativa de sua experiência de vida é perdida”, revela a pesquisadora.

Especialistas na área têm verificado que as crianças estão passando muito tempo confinadas dentro de casa, mostrando que está cada vez mais difícil encontrá-las brincando ao ar livre nas ruas das cidades brasileiras. “Diante deste cenário, é papel de toda sociedade encontrar formas de estimular a autonomia e a liberdade de movimento e exploração das crianças e jovens”, analisa Bebel.

As pesquisas sistematizadas pelo programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, elencam diversos benefícios para aquelas crianças que brincam ao ar livre. São eles: o estímulo de todos os sentidos, o aprendizado mais ativo e explorador, o favorecimento de vínculos, a inspiração a momentos de concentração, o estímulo da atividade física e a redução da violência. Esses benefícios extrapolam a saúde física e contribuem para o desenvolvimento integral da criança, ao mesmo tempo que favorecem o desenvolvimento de sentimentos de pertencimento e cuidado com a Terra.

Muitos desafios

Atualmente, as cidades contam com cada vez menos espaços para as áreas verdes. Além disso, por causa da insegurança que permeia toda vida urbana as crianças tendem a ficar longe de espaços abertos e estão sempre sendo supervisionadas em tudo o que fazem. Dessa forma, são poucas as oportunidades que elas têm de brincarem soltas e de experimentarem a sensação de liberdade e vínculo estreito com as áreas naturais.

Os quatro passos simples citados pela pesquisadora fazem parte de uma progressão que inicia com o contato diário com a natureza próxima e vai progredindo para contatos mais prolongados em áreas maiores e mais conservadas. A base da pirâmide instiga o brincar livre à céu aberto todos os dias, quando a criança tem a chance de ficar descalça, manipular a terra, subir em uma árvore etc. Acima dela há atividades como jardinagem e observação de pássaros quando a criança têm a oportunidade de ficar mais tempo ao ar livre em uma área um pouco maior, geralmente no final de semana. O próximo passo pode ser um passeio mensal a um parque urbano onde é possível fazer trilhas, andar de bicicleta ou fazer um piquenique; e, no topo da pirâmide estão as atividades anuais, quando o desafio é buscar áreas mais remotas e selvagens na natureza, como os parques nacionais.

“O maior obstáculo está na inclusão da natureza na rotina das famílias. As dificuldades são muitas e passam pela falta de tempo ao custo alto para ir a determinado local, seja um parque, com trilhas e cachoeiras, ou uma praia. Mas, na verdade, o que precisa ser entendido é que é fundamental incluir tempo na natureza na vida das crianças e para isso não é preciso viajar para longe. Um passeio na rua no final do dia ou um piquenique no parque no final de semana fazem muita diferença.”, define a pesquisadora.

No entanto, Bebel explica que o papel das unidades de conservação nesse contexto é muito importante também, ao promover experiências únicas e transformadoras. “Essas áreas protegidas oferecem vivências mais profundas, quando a criança entra em contato com áreas mais conservadas e livres das interferências humanas. A experiência nesse caso é um pouco mais grandiosa. Ver bichos que não encontramos nas cidades, paisagens impressionantes, cavernas e cachoeiras enchem os olhos de qualquer criança, e até mesmo dos adultos”, brinca.

Discussão aberta ao público

O IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, periodicamente desde 1997, é um dos mais importantes fóruns da América Latina sobre áreas protegidas, seus desafios e sua importância para a sociedade. Neste ano, em sua nona edição, o evento acontece em Florianópolis (SC), entre 31 de julho e 2 de agosto de 2018. “Em 2018, O CBUC terá uma programação abrangente, que inclui conferências, palestras, simpósios, Mostra e Arena que possibilitam ao público presente ter contato com iniciativas e projetos inovadores”, destaca a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

Bebel falará na tarde do dia 2 agosto, dentro do Simpósio “Ecoturismo como estratégia para a conservação de áreas protegidas”, sobre o tema “O papel das unidades de conservação nas experiências das crianças com - e na – natureza”. Na manhã do mesmo dia, dentro da programação da Arena Haroldo Palo Jr., a pesquisadora do Instituto Alana também lidera uma discussão sobre a conexão das crianças com a natureza, que será aberta ao público e terá a participação de Cheryl Charles, Ph.D., fundadora e CEO emérita da Children & Nature Network, nos EUA.

“Neste segundo encontro, o debate será sobre mesmo assunto, mas Cheryl trará sua experiência de como esse movimento tem acontecido no mundo, enquanto eu focarei mais na relação do tema com as UCs. Serão duas visões distintas sobre o mesmo assunto, mas que se complementam”, analisa Bebel.

A discussão trará exemplos de ações e estratégias concretas aplicadas em diferentes lugares onde a criança vive, aprende e brinca, mostrando experiências positivas e transformadoras que contribuem para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional, social e simbólico da criança, bem como para seu vínculo com a Terra. “Nesta edição de 2018, o CBUC tem como tema ‘Futuros Possíveis: Economia e Natureza’, e a discussão sobre a relação das crianças e jovens com a natureza vem para complementar os assuntos tratados durante os três dias de Congresso, principalmente mostrando que, com o envolvimento delas na conservação da natureza, o futuro é muito mais promissor”, destaca a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

As inscrições para o IX CBUC continuam abertas e os valores são R$ 800 (inteira) e R$ 400 (meia-entrada) até 19 de julho. No dia do evento serão R$ 1.000 (inteira) e R$ 500 (meia-entrada), mediante disponibilidade de vagas. As categorias válidas para meia-entrada são: estudantes, idosos, portadores de deficiência, jovens carentes de 15 a 29 anos, doadores de sangue; funcionários públicos de órgãos ambientais; profissionais de ONGs; e proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).

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