Obra histórica

Revitalização da Rffsa deveria ter sido concluída em 2015

Constatação de O Estado tem como base pareceres da Superintendência do Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no estado

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

[e-s001]As obras de revitalização da antiga sede da Rede Ferroviária Federal S/A (Rffsa) - Estação João Pessoa - deveriam ter sido finalizadas em 2015. A constatação, feita por O Estado, tem como base os pareceres emitidos pela Superintendência do Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão. De acordo com o órgão, o contingenciamento no projeto original da obra foi a causa para as mudanças nas datas de entrega.

O lançamento da obra aconteceu em agosto de 2013. À época, segundo o Iphan, os serviços - oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas - deveriam durar um ano e meio. Ou seja, caso houvesse obediência ao cronograma inicial, os trabalhos seriam concluídos em fevereiro de 2015. Os serviços foram orçados em pouco mais de R$ 5,5 milhões, valores divulgados à época do anúncio das obras.

Um novo prazo para o início das obras foi dado em maio de 2016. Na ocasião, ainda de acordo com a direção do Iphan, as máquinas começariam a trabalhar na área do antigo prédio até o fim do mesmo ano, o que também não ocorreu. Sem a liberação dos recursos necessárias para a obra, o começo das intervenções no prédio histórico ocorreu apenas no mês passado, a partir da assinatura de um Termo de Cooperação Técnica entre o Governo do Maranhão e o Iphan, com a participação da Prefeitura de São Luís. De acordo com os envolvidos no projeto, a obra está atualmente orçada em aproximadamente R$ 7 milhões.

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Projeto
Segundo a arquiteta Verônica Pires, responsável pelo projeto de recuperação da Estação João Pessoa, várias foram as correções necessárias no documento norteador dos serviços. De acordo com o projeto, apresentado a O Estado pela própria elaboradora, no térreo do prédio principal, deverão funcionar cafés, lojas, sorveterias, cafeterias e livrarias. No hall de entrada, funcionará a exposição de longa duração do Museu da Memória Ferroviária.

No andar mais acima (sobreloja), deverão ser sediadas unidades administrativas do Governo do Maranhão. Este pavimento será interligado com uma passarela de estrutura metálica onde o público poderá circular livremente. No primeiro andar (ou 1º pavimento), ainda do prédio principal, serão abrigadas salas administrativas como copa, almoxarifado e banheiros masculino e feminino. Por fim, no último andar, funcionará um restaurante com vista privilegiada do Rio Anil.

Segundo a arquitetura, a elaboração do projeto da Estação João Pessoa começou em 2013. “Foram necessárias diversas readequações, em parceria com o Iphan, para trazer ao público um projeto valioso e que será um verdadeiro marco na nossa cidade”, disse Verônica Pires.

Praças e locomotiva
No entorno do prédio principal do Complexo Ferroviário da Estação João Pessoa, ainda serão construídas três praças. Uma delas, que receberá o nome do carnavalesco Joãosinho Trinta, deverá ser entregue ainda este mês. Quanto ao prédio demolido, de acordo com o Iphan, se tratava de uma parte do complexo que não fazia parte do patrimônio histórico.
Segundo o órgão, era um anexo feito pela direção da então Rffsa para funções administrativas. Ainda de acordo com o Iphan, a demolição foi necessária, pois a estrutura afetou diretamente o prédio principal, este sim protegido.

A Locomotiva Benedito Leite, primeira da Estrada de Ferro São Luís-Teresina e que passava por processo de deterioração, conforme denunciado por O Estado, também será exposto após o término da recuperação da Estação João Pessoa. Ao lado do prédio principal da Estação João Pessoa e componente do Complexo Ferroviário que inclui a estrutura, também está sendo recuperada a Praça Gomes de Sousa, que abriga o monumento em referência aos 350 anos da capital maranhense (completados em 1962), doado pelo arquiteto Braga Diniz. De acordo com o cronograma do Iphan, a Praça Gomes de Sousa está pronta e deverá ser entregue nos próximos dias.

Histórias que remetem à Estação João Pessoa

Além de fomentar parte da economia local na década de 1920, a Estação João Pessoa também reuniu histórias de pessoas que, por décadas, viram o desenvolvimento da cidade passar pelos trilhos. O Estado conversou com trabalhadores da Rffsa e da até então “velha” João Pessoa e comprovou que, apesar da distância temporal, as lembranças dos bons tempos da Rede Ferroviária e da Estação João Pessoa não foram esquecidos.
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O antigo mecânico Raimundo de Almeida, de 98 anos, trabalhou por décadas na antiga estação. Além do ofício, ele era chefe da casa de ferramentas e responsável pelo conserto de diversos maquinários. “Me lembro até hoje daqueles bons tempos...”, disse. Mas a história que mais chama a atenção do antigo trabalhador aconteceu em data não-definida pela história tradicional. “A gente foi chamado para um treinamento no interior do Maranhão, quando o avião se perdeu e ficou sem referência. Foi um sufoco! Ele desceu num povoado em Barra do Corda, não sei como. Tiveram de trazer um tanque de combustível de Caxias para a gente voltar a São Luís”, disse.

Para se manter no cargo, o mecânico teve que aprender alguns termos em alemão. “Como o maquinário e as ferramentas, em sua maioria, eram fabricadas no território alemão, eu tive que aprender. Algumas pessoas que fabricavam peças vinham da Alemanha. Então, eu observava, ouvia os termos e decorava. Teve um tempo que eu mesmo tratava do assunto com os gringos”, disse.


[e-s001]A arquiteta Verônica Pires, responsável pelo projeto de recuperação da Estação João Pessoa, é apaixonada pela história do local e neta de João Mamede Pires, que trabalhou como maquinista – classe F – da Estação São Luís-Teresina entre os anos de 1907 e 1949, quando se aposentou das funções. “Ele amava a profissão dele e sempre honrou o ofício com muita dedicação. A minha vontade de desenvolver este projeto também partiu desta relação do meu avô com a estação”, disse.

SABIA MAIS

A Praça Gomes de Sousa era o antigo Porto do Convento, de onde partiam as missões evangelizadoras para o interior da Ilha. Segundo historiadores, o local era usado para o embarque e desembarque dos padres capuchinhos.

Locomotiva Benedito Leite
Primeira locomotiva da Estrada de Ferro São Luís – Teresina, a peça que ficará exposta na Estação João Pessoa revitalizada data de 1913 e foi fabricada na Alemanha pela Hannoversche Maschimenbau AG Hanomag. Da locomotiva, podem-se registrar algumas características técnicas, tais como: bitola (1 metro); configuração de rodas (0-4 OWT); diâmetro de cilindros (44 centímetros); curso de pistões (58 centímetros); comprimento 5,53 centímetros e número de série 6996.

Vilas operárias
No entorno do antigo prédio da Estação João Pessoa, funcionários da Rffsa foram acomodados em uma vila, conhecida como “Vila Operária”. O conjunto de casas foi descrito pelo Inventário do Patrimônio Ferroviário do Maranhão como a “unidade residencial da classe operária constituída por um pequeno terraço, dois dormitórios, sala, cozinha, hall aberto e WC [banheiro] em uma puxada ao fundo”.

Números

R$ 7 milhões é o valor orçado atualmente das obras do Complexo Ferroviário da Estação João Pessoa
2013 foi o ano em que foi feito o lançamento da obra da antiga Rffsa

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