Lava Jato

Segóvia vê necessidade de esclarecimento de fatos da delação premiada da JBS

Novo diretor-geral da Polícia Federal defende que a instituição possa ter a prerrogativa de fazer acordos de delação premiada, e recebe o apoio do ministro da Justiça

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Fernando Segovia cumprimenta ex-diretor da PFl, observados por Michel Temer
Fernando Segovia cumprimenta ex-diretor da PFl, observados por Michel Temer (Fernando Segovia)

BRASÍLIA - O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, afirmou, durante entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira, 20, após a sua posse, que alguns fatos da delação premiada da JBS precisam ser melhor explicados.

"Quando acontece na quarta-feira o anúncio de toda a exposição na PGR o que se descobriu em seguida foi que a JBS havia ganhado muito dinheiro no mercado de capitais de maneira ilegal. Foram fatos que aconteceram e que talvez tenham que ser melhor explicados. E talvez seria bom, para que o Brasil inteiro soubesse, que houvesse uma transparência maior sobre como foi conduzida aquela investigação", declarou, acrescentando: "Quem pôs esse deadline, que finalizou a investigação, foi a Procuradoria-Geral da República. Ela seria a melhor a explicar por que foi feito aquilo naquele momento e por que o senhor Joesley [Batista] sabia que ia acontecer para que ele conseguisse ganhar milhões no mercado de capitais".

O novo diretor-geral da Polícia Federal assumiu o posto afirmando que buscará o “combate incansável à corrupção”. Segóvia enfatizou que a Lava Jato continuará sendo a agenda prioritária da corporação, e criticou a disputa de poder entre a PF e o Ministério Público Federal.

“Há uma infeliz e triste situação de disputa institucional de poder entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Mas confio muito no espírito de maturidade institucional e profissional dos membros dessas instituições, que neste momento têm a oportunidade de escrever um novo capítulo em sua história, deixando de lado a vaidade e a sede de poder, buscando um equilíbrio e entendimento em nossas ações em prol de toda a nação brasileira, pois o único que se beneficia com essa disputa é o crime organizado”, disse Segóvia.

Futuro da PF

Segóvia falou ainda dos questionamentos sobre o futuro da PF: “Nesse vendaval de dúvidas (...), gostaria de reafirmar que a minha postura, como tradição, é de obedecer sempre e estritamente às leis e à Constituição, respeitando os direitos humanos e ao mesmo tempo a independência no cumprimento do meu dever”, discursou, acrescentando: “É nesse espírito de equipe, todos unidos, que buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará sendo a agenda prioritária da Polícia Federal, tendo como premissa a continuidade de operações especiais, tais como a Lava Jato, Cui Bono, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal e nas varas da Justiça.”

O delegado também chamou a atenção para o enfrentamento do crime organizado, especialmente o tráfico de drogas e armas, crimes ambientais e eleitorais. Disse que nas eleições de 2018, a PF terá “papel republicano” e trabalhará com “isenção” na investigação de irregularidades.

O presidente Michel Temer participou da solenidade, mas não fez uso da palavra.

Formado em direito pela Universidade de Brasília UnB), Segóvia está há 22 anos na Polícia Federal. Foi superintendente regional no Maranhão e adido policial na África do Sul. Em boa parte de sua carreira, exerceu funções de inteligência nas fronteiras do Brasil.

Leandro Daiello estava no cargo desde 2011, nomeado na gestão do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e já havia manifestado interesse em deixar o cargo.

Acirrada disputa entre PF e MPF

Nos últimos anos, a Polícia Federal e o Ministério Público protagonizaram episódios de disputa que geraram constrangimentos. Um deles foi na ocasião em que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot questionou a possibilidade de a PF negociar delações premiadas. Segóvia se referiu a esta queda-de-braço. Para os procuradores, o dispositivo da Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013) que prevê que o delegado possa fazer acordos de delação é inconstitucional.

Durante a cerimônia, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, condenou o que chamou de “ilações especulativas” nas investigações criminais. Ele criticou a convalidação de “imputações sem referências sólidas nos fatos e documentos”.

Evidenciando a divergência com o Ministério Público, Torquato defendeu que é preciso dizer “não à vaidade fruto da ambição ou propósitos ocultos no processo”.

“Essas condutas que se desviam da ética agridem mais a sociedade que o próprio indivíduo, porque geram uma dúvida coletiva sobre a isenção da conduta de quem atua em nome do Estado”, completou

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