Opinião

A fúria de Janis Joplin

Musical “Janis” mostra a artista para além da imagem de estrela da música

Ingrid García/ Do imirante.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Espetáculo Janis retrata Janis Joplin
Espetáculo Janis retrata Janis Joplin (Janis)

SÃO LUÍS- Com maestria, a cantora e atriz Carol Fazu faz renascer uma estrela no palco. Mas não qualquer estrela, ela trouxe à vida uma lenda, uma das artistas mais icônicas do mundo da música, Janis Joplin, no espetáculo “Janis”.

Logo de cara, Carol afirmou que não imitaria "a maior cantora de rock dos anos 1960" e realmente ela não imitou, ela foi Janis. No palco não ouvimos apenas as músicas interpretadas, mas conhecemos o íntimo da rainha do Rock and Roll. Uma mulher ousada, que virou estrela por acaso e odiava os percalços da fama ao mesmo tempo que adorava ser o centro das atenções. Uma mulher forte, que lutava contra rótulos, uma Janis como você nunca viu.

Quando o monólogo começa, conhecemos uma Janis diferente. Uma mulher sentimental, que conta como suas primeiras decepções na vida e o amor à música a tornaram um dos maiores ícones do rock.

Ao som de “Ball And Chain” a peça se inicia. Logo depois, Carol Fazu nos presenteia com um pequeno trecho da vida de Joplin. Primeiro a Janis artista, depois a humana. Tão gente como a gente que a primeira fala do texto é sobre a rejeição social e as decepções amorosas que ela tinha. Nem dá pra contar quantas vezes a estrela conheceu o “homem de sua vida”.

O musical “Janis” traz para o palco a relação da cantora com as drogas, com o amor, sua inquietude pessoal, a solidão e seus conflitos pessoais permeados por 14 canções, que nos levam a conhecer o íntimo de uma artista única e insubstituível, que se entregou de corpo e alma a algo que foi a única coisa que a fez se sentir bem: a música.

Na faculdade, a cantora era rejeitada por ser considerada “feia demais”, nos bares era rejeitada por “beber demais”, pelos homens era rejeitada por ser “ousada demais”, na sua cidade natal era rejeitada por ser “diferente demais”. Mas no palco sua voz nunca foi demais. E era lá que ela transformava todo o seu sentimentalismo, sua revolta e sua solidão em música. Cantava todas.

Nascida em uma família de classe média, em um estado separatista, onde os homens ambicionavam trabalhar e as mulheres cuidavam de suas famílias, Janis ousou ser artista. A menina rebelde pintava, desenhava e cantava, ouvia blues e se inspirava em mulheres como Odetta e Bassie Smith e nunca imaginaria que sua voz, um dia, a levaria tão longe.

A voz rouca que variava entre os tons agudos e graves, a atitude no palco, as roupas estilosas, as noitadas nos bares, o amor pela bebida e a entrega às drogas e ao sexo. Janis vivia de extremos, era forte e frágil, multidão e solidão. Seu canto visceral e repleto de sofrimento e excitação, que soava muitas vezes como um pedido de afeto, foi ouvido: Janis Joplin foi amada e será amada para sempre.

No texto de Diogo Liberano, Carol e Janis se tornam uma só. Na dramaturgia e na alma, misturam-se frases e passagens reais de Janis Joplin a um pouco da atriz e idealizadora do projeto, Carol Fazu, que entregou seu corpo à interpretação da voz e personalidade especialíssimas de Janis.

Carol retrata nos dias de hoje uma mulher muita à frente do seu tempo. Janis, que tanto sofreu por ser “diferente” e ousada, acabou por levar o empoeiramento feminino ao mundo música, erguendo questões como direitos civis e o livre-arbítrio das mulheres sobre seus corpos.

Janis sempre foi autêntica, extrovertida, cheia de energia e, claro, uma das pioneiras na luta feminina que precisa existir até hoje. Uma mulher que existiu para marcar uma era, a era das mulheres na música, no blues, no rock. Uma mulher que sempre falou o que precisava e nunca mediu palavras para desconstruir ideologias de gênero.

Como diria Cazuza: “Meus heróis morreram de overdose”. E foi exatamente assim que perdemos Janis Joplin, ao 27 anos, vítima de uma overdose de heroína possivelmente combinada com os efeitos do álcool.

Antes de morrer, Janis havia pedido que fosse cremada e suas cinzas espalhadas pelo Oceano Pacífico. Podemos dizer que ela ainda está por aqui, está viva, assim como Elvis e outros tantos, imortalizada em sua imensa contribuição à música, que até hoje encanta gerações. Assim como em “Piece Of My Heart”, ela nos deixou um pedacinho do seu coração.

Sobre a peça

Dirigida por Sérgio Módena, “Janis” foi idealizada e interpretada pela cantora Carol Fazu e construída a partir de um texto de Diogo Liberano. A direção musical ficou por conta de Ricco Viana.

No palco, a Janis de Carol Fazu é composta pelo figurino de Marcelo Marques. A banda composta por homens, conta com Antônio Van Ahn (teclado), Arthur Martau (guitarra), Eduardo Rorato (Bateria), Gilson Freitas (Saxofone) e Marcelo Muller (Contrabaixo).

Janis teve sua estreia ao público no palco de atrações da Oi Futuro no dia 25 de maio de 2017, no Rio de Janeiro. Promovida pela Oi, a peça deve circular pelo Brasil em breve trazendo, ao palco, o íntimo de uma artista que marcou gerações.

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