Militar

Militares são presos por desaparecimento de PMs em Buriticupu

Seis meses depois do sumiço do cabo Júlio e do soldado Alberto, polícia conclui inquérito e aponta três colegas de farda da vítima com suspeitos; dois já estão presos

Ismael Araujo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Tenente Josuel, soldado Tiago Viana e o soldado Gladstone
Tenente Josuel, soldado Tiago Viana e o soldado Gladstone (Militares são presos por desaparecimento de PMs em Buriticupu)

SÃO LUÍS - Mais de seis meses depois do desaparecimento do cabo Júlio César da Luz Pereira e do soldado Carlos Alberto Constantino Sousa, ambos da Polícia Militar, ocorrido no dia 17 de novembro do ano passado, na cidade de Buriticupu, a Polícia Civil chegou à conclusão da participação, no caso, de militares que fazem parte de uma organização criminosa, suspeita de cometer crimes de extorsão, ameaça, roubo e apropriação indébita na região de Buriticupu. Esse foi o resultado do inquérito instaurado pela Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoas (SHPP), que transcorreu em segredo de Justiça.

O tenente Josuel Alves de Aguiar e o soldado Tiago Viana Gonçalves foram presos por ordem judicial expedida pelo juiz militar, Nelson Melo. Os dois são suspeitos de participarem dessa ação criminosa. Ainda ontem, a polícia estava tentando prender mais um integrante desse bando, o soldado Gladstone de Sousa, que está foragido, mas tem um prazo de cinco dias para se apresentar à polícia. Caso ele não o faça, será considerado desertor militar.

Essas informações foram divulgadas ontem pelo secretário de Segurança Pública, delegado Jefferson Portela, durante coletiva na sede da Secretaria de Segurança Pública, na Vila Palmeira. O subcomandante da Polícia Militar, coronel Jorge Luongo; o delegado-geral da Polícia Civil, Lawrence Melo; o superintendente Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoas (SHPP), delegado Leonardo Diniz, e o corregedor-geral do sistema de segurança, Fernando de Moura, também participaram do encontro com jornalistas.

“No dia do desaparecimento, esses militares estavam realizando uma missão ilícita”, afirmou Jefferson Portela. O secretário explicou que o cabo Júlio e o soldado Alberto estavam sendo investigados pela Superintendência de Repressão ao Narcotráfico (Senarc). Os outros militares também eram alvos da Polícia Civil.

Portela garantiu que no dia do desaparecimento os dois militares teriam sido convidados pelos suspeitos para irem buscar um caminhão e um trator. Os dois veículos foram denominados como “Bob Esponja” e “Jeriré”, para não despertar suspeita. Esses policiais também estariam envolvidos em uma apropriação indevida de uma caçamba, que posteriormente seria utilizada para o crime de extorsão.

Investigação
O delegado Leonardo Diniz informou que no primeiro momento o desaparecimento dos militares começou a ser investigado pela Delegacia de Polícia Civil de Buriticupu, mas, por determinação da cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP), passou para o comando da Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoas (SHPP), coordenado pela delegada Nilmar da Gama.

Ainda segundo Diniz, por meio de uma testemunha, identificada como Aceval de Melo, o Dal, a polícia conseguiu chegar a um dos envolvidos. Aceval declarou que no dia do fato o tenente Josuel teria ligado para o celular de Alberto, convidando-o para irem buscar um caminhão e um trator.

Aceval de Melo informou também que antes do desaparecimento do soldado Alberto e do cabo Júlio teria visto os militares em um veículo Triton, em companhia do tenente Josuel e dos soldados Viana e Gladstone. A testemunha ainda chegou a ir ao quartel de Buriticupu pedir informações sobre os militares desaparecidos, mas acabou ameaçado pelos suspeitos.

Leonardo Diniz também declarou que durante as investigações foi apreendido o chip utilizado pelo tenente Josuel na ligação para o celular do soldado Alberto. “Esse chip era do celular de um preso de Vitória do Mearim e foi utilizado por Josuel na ligação para Alberto. Foi desativado por algum tempo e estava com um mototaxista de Buriticupu, que disse aos policiais que o encontrou na porta do quartel da cidade”, explicou o delegado.

A polícia também constatou que os policiais desaparecidos teriam cometidos ações ilegais em Buriticupu, assim como o tenente Josuel e os soldados Viana e Gladstone. Ainda em fevereiro deste ano, a polícia solicitou a prisão dos suspeitos, mas o juiz da comarca de Buriticupu, nome não revelado, considerou que esse crime teria sido cometido por militares e que deveria ser julgado pela Justiça Militar.

Prisão
O coronel Jorge Luongo, subcomandante da Polícia Militar, declarou que somente na última terça-feira foi que o juiz da Justiça Militar, Nelson Melo, decretou a prisão temporária dos suspeitos. Ainda nesse dia, o tenente Josuel, em companhia de um advogado e do oficial de dia da corporação militar, se apresentou e ficou preso na sede do comando geral, no Calhau.

O soldado Viana foi preso em cumprimento da ordem judicial, na cidade de Bom Jesus das Selvas, mas ainda esta semana deve ser transferido para o comando da Polícia Militar, onde vai ficar preso, à disposição da Justiça. O coronel Luongo afirmou também que, caso o soldado Gladstone não se apresente no comando da corporação militar, no prazo de cinco dias, vai ser considerado como desertor militar.

O coronel explicou que foi aberto um processo administrativo para apurar se há outros militares envolvidos nesse esquema. Ele garantiu que estão sendo investigados os oficiais que comandaram as companhias e os batalhões da região de Buriticupu.

Mortos
“Em relação à quantidade de dias do desaparecimento dos militares, há possibilidade de eles estarem mortos”, afirmou a delegada Nilmar da Gama. Ela disse que a Polícia Judiciária fez o seu papel e conseguiu prender alguns suspeitos. Segundo ela, o trabalho, no momento, visa encontrar os corpos das vítimas e também esclarecer a motivação desse crime.

Nilmar da Gama informou ainda que, durante o primeiro momento da investigação, foram ouvidas mais de 40 pessoas, entre testemunhas e suspeitos. O inquérito policial, com três volumes, já foi remetido para a Justiça Militar. Os suspeitos vão responder pelos crimes de homicídio doloso, ocultação de cadáver e associação criminosa. Em seus depoimentos, o tenente Josuel Alves de Aguiar e o soldado Tiago Viana Gonçalves garantiram que não tiveram participação nesse caso e que não teriam mantido contato com os desaparecidos nesse dia.

Dor
“Ainda vivemos sentindo a dor da perda do nosso parente”, declarou a filha do cabo César, identificada como Emilly Pereira, ontem, à Rádio Mirante AM. Ela disse ainda que os suspeitos ainda ofereceram ajuda financeira para a sua família depois do desaparecimento do seu pai.

Ainda de acordo com Emilly Pereira, a sua família teve que se mudar de Buriticupu para Imperatriz, devido ao clima de medo e às ameaças recebidas. No momento, a família almeja que a justiça seja feita e os suspeitos possam ser penalizados pelo crime que cometeram. l

Saiba mais

O cabo César e soldado Alberto foram vistos pela última vez no dia 17 de novembro do ano passado, na cidade de Buriticupu. Desde então, não houve mais qualquer notícia sobre eles. De acordo com testemunhas, os dois policiais foram vistos naquele dia, em uma L 200 Triton de cor preta, que era do soldado Alberto, indo em direção ao município de Arame. No dia do desaparecimento, Carlos Alberto se apresentou às 8h na 14ª Companhia Independente da Polícia Militar, mas saiu mais cedo. Já o cabo Júlio César da Luz Pereira, era lotado no município de Estreito, mas estava de licença médica e por isso, morava em Buriticupu.

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