Processos

Maranhão é o quinto estado com menos interessados em adoção

Atualmente, existem 244 pessoas cadastradas para adotar, o que representa apenas 0,61% do total do país, que passa dos 39 mil; psicóloga diz que a maioria das pessoas que se interessa em adotar estabelece perfil rígido

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
A psicóloga Sílvia Vale está à frente da Jornada de Debates sobre Adoção
A psicóloga Sílvia Vale está à frente da Jornada de Debates sobre Adoção ( A psicóloga Sílvia Vale está à frente da Jornada de Debates sobre Adoção)

SÃO LUÍS - O Maranhão é o quinto estado do Brasil com menos pessoas interessadas em adotar, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). São apenas 244 maranhenses que estão, atualmente, na fila para encontrar um novo filho ou filha, o que representa apenas 0,61% do total nacional, que chega a 39.679 pessoas. Curiosamente, mesmo com o baixo número, todas as 76 crianças e adolescentes – número que representa apenas 1% do total do país - disponíveis para adoção no estado já poderiam ter ganho um novo lar, caso não houvesse, ainda, preconceitos e resistências em relação ao assunto.

De acordo com a psicóloga Sílvia Vale, a maioria das pessoas que se interessa em adotar ainda estabelece um perfil muito rígido em relação ao novo filho. “A maioria das pessoas que estão no cadastro preferem um perfil que talvez nós não encontramos nas instituições de acolhimento. São bebês, meninas, de cor branca. Então, não temos muitos bebês porque é a preferência, vou colocar nesse sentido. Por conta dessa não agilidade dos processos com relação à adoção, as crianças acabam passando mais tempo do que o previsto em lei nessas instituições”, destaca a professora da Faculdade Estácio São Luís, que está à frente da Jornada de Debates sobre Adoção, realizada até hoje, 23, na instituição.

Instituições

Em todo o país, existem 44 mil crianças e adolescentes em instituições de acolhimento, mas apenas 7.620 estão disponíveis para adoção. “(Essas 44 mil) São crianças que estão em cumprimento de medida protetiva. Ou seja, elas foram retiradas de suas famílias por vários motivos, seja por abandono ou por vulnerabilidade social, por uso e abuso de drogas. São os mais variados motivos que levam o Estado a pegar a tutela dessas crianças e adolescentes, e aí a gente fala tecnicamente que elas estão em cumprimento de medida protetiva, estão sob a guarda do Estado. Para que o Estado, a partir dos seus dispositivos das políticas de assistência social possa tentar restabelecer o vínculo dessas crianças e adolescentes com suas famílias ou, não conseguindo restabelecer esse vínculo, essa criança é liberada para uma família substituta, liberada para a adoção”, explica Sílvia Vale

Segundo a psicóloga, além das exigências por parte de quem adota, ainda existe preconceitos e resistências – inclusive familiares – em relação ao assunto. “Quando alguém da família se disponibiliza a adotar uma criança ou adolescente, as pessoas acabam não entendendo muito bem, pelo menos de imediato, por conta de uma concepção de que a relação de consanguinidade, ou seja as relações biológicas, se sobrepõem às relações de socioafetividade, quando, na verdade, isso é um equívoco. Na verdade todas as relações são construídas”, ressalta.

Mudanças

Desde 2008, quando foi criado o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), houve um aumento no número de adoções por conta dessa ferramenta, criada para auxiliar juízes das varas de infância e juventude a cruzar dados e localizar pretendentes a adotar crianças e adolescentes aptas à adoção. Só para se ter uma ideia, o número de crianças adotadas no Brasil passou de 571, em 2015, para 1.476, no ano passado.

No entanto ainda há muitos desafios a serem enfrentados em relação a esse tema. “Acho que as campanhas de adoção, acho que a gente discutir as relações sociais como sobrepostas às relações de consanguinidade são muito importantes. Elas não resolvem, mas amenizam a probabilidade de resistências acontecerem. Acho que a gente precisa falar mais sobre isso enquanto sociedade”, finaliza a psicóloga.

Mais

Em alusão ao Dia Nacional da Adoção, celebrado no próximo dia 25, foi iniciada ontem e prossegue até hoje a Jornada de Debates sobre Adoção, realizada pela Faculdade Estácio São Luís, em parceria com o Grupo de Apoio à Adoção (AME). Entre os principais temas discutidos estão os desafios da adoção no Maranhão, também estão sendo discutidos temas como A família e suas transformações: o direito a um lar; Adoção, destituição e Constituição familiar, entre outros.

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