Quem observa o cão Piter alegre com sua família nem de longe consegue imaginar a história de dor e superação do animal. O cão, encontrado próximo a um shopping no Cohatrac com a pata toda mutilada em carne viva e ossos expostos, vivia em situação de sofrimento na rua e, provavelmente, não resistiria por muito tempo, caso não tivesse cruzado o caminho do Projeto Ato de Amor, um dos grupos de voluntários que atua em São Luís no resgate, castração e adoção de animais.
“Mesmo diante das nossas dificuldades, fomos lá e o resgatamos. Ao chegar à clínica, logo foi condenado, pois apresentava sintomas de calazar. Também seria necessário amputar a pata. Todos os exames foram feitos e não detectamos a doença, graças a Deus. Foi feito um tratamento por 4 meses, induzindo a cicatrização, e por incrível que pareça não foi necessário amputar sua pata”, conta a voluntária Keitt Sá Menezes.
Curado, começava então outra batalha: encontrar uma família e um lar para Piter. O cão, sem raça definida, era tímido, triste e todos o achavam feio, o que diminui o interesse dos adotantes. “Acreditávamos que nunca acharíamos um adotante. Passou um mês em lar temporário, após sair da Clínica Santos, que sempre nos apoia, e por um milagre alguém se interessou por ele”, relata.
Ainda na difícil fase de adaptação, que exige paciência, o adotante quis devolvê-lo. “Já estávamos nos organizando para buscá-lo, quando a família entrou em contato dizendo que ele agora é um lorde, super educado, passeia sem coleira, atende os donos mesmo sem ter tido adestramento. Todos o amam e nem cogitam devolver o animal”, completa Keitt Sá Menezes.
Dificuldades
A vida de Piter não teria sido a mesma sem o trabalho abnegado dos voluntários do Projeto Ato de Amor. Assim como eles, a Associação Maranhense em Defesa dos Animais (Amada) e o Projeto Cães e Gatos de Rua também buscam mudar a realidade de abandono e maus-tratos a animais em São Luís. Um trabalho “de graça” que resulta em ganhos para a toda a sociedade.
Nenhum dos coletivos tem abrigos próprios e, em geral, dependem principalmente do dinheiro dos próprios membros. A doação de terceiros ajuda, mas não chega a dar reais condições para todo o trabalho. Quase sempre estão no vermelho e devendo alguma clínica parceira, que cobram valores mais baixos e permitem “deixar a conta pendurada”.
“Não recebemos ajuda governamental. A grande maioria das contas são pagas pelos integrantes do projeto. Algumas vezes recebemos doações, que nos ajudam muito. Em dois anos de projeto, temos cerca de 500 animais resgatados e/ou ajudados por nós de alguma forma”, contabiliza Tatiana Oliveira Rodrigues, fundadora e presidente do Projeto Cães e Gatos de Rua, criado em abril de 2014 e que, hoje, tem oito membros na diretoria e 28 voluntários.
Débito
O débito do projeto com a clínica parceira Toca dos Bichos está na casa dos R$ 15 mil. “As doações, de maneira geral, não pagam toda a conta na clínica veterinária. Nosso trabalho é diário. São muitos resgates, então fica difícil quitar a conta. Como as doações não pagam a conta, nós vamos pagando do nosso salário”, frisa.
Para ajudar, o grupo criou a campanha Amigo Nota Dez, em que doadores se comprometem a doar R$ 10 por mês para os trabalhos. Atualmente, o projeto tem para adoção 10 cães, um coelho e 15 gatos.
Pioneiro
Mesmo com tantas dificuldades para manter o trabalho, dificilmente os projetos se negam a ajudar no caso de animais em vulnerabilidade extrema. “Recebemos muitas solicitações, principalmente, pelas redes sociais e e-mail. Tentamos instruir as pessoas de que elas mesmas podem ajudar de alguma forma, dependendo do caso e da gravidade, que podem levar para alguma clínica ou dar lar temporário. Não temos como ajudar todos”, comenta Leandro Alvim, presidente da Amada, única ONG maranhense atualmente registrada no Conselho Regional de Medicina e com CNPJ regularizado e registrada em órgãos públicos.
Fundada em 2003, a Amada é pioneira em São Luís na proteção animal. Atualmente, o trabalho está focado na prevenção do abandono dos animais, com a castração como instrumento de controle de natalidade. Sob a tutela, encontram-se atualmente 150 gatos e 10 cães. “Temos poucos cães porque a adoção deles tem mais aceitação do que de gatos. Infelizmente, muitos gatos são rejeitados, principalmente, os adultos, porque muitos não têm paciência de esperar o período de adaptação e outros mitos que as pessoas têm em relação a gatos”, lamenta.
Segundo Leandro Alvim, uma política pública efetiva poderia minimizar a quantidade de animais de rua e o abandono de cães e gatos pelo população de todos os níveis sociais. “Campanhas de castração gratuita ou de baixo custo para a população mais carente teria um grande impacto. Se em uma semana, castramos 10 gatos [o que evita nascer, em média, mais 50], na mesma semana aparecem 10 ninhadas de gatos abandonados. Falta uma política pública efetiva”, afirma.
Serviço
Com poucas doações e sem apoio do poder público, os projetos buscam se virar como podem. Rifas, campanhas, venda de camisas e eventos são comuns. O projeto Ato de Amor, por exemplo, está organizando a 1ª Petjoada, uma feijoada marcada para o dia 24 de setembro, cujo abadá custa R$ 20.
“Não nos restringimos a campanhas por meio de redes sociais, fazemos ações em sinais, pelo menos um vez ao mês, promovemos bazar, rifas e eventos. Nossa 1ª PetJoada Ato de Amor tem o intuito de angariar fundos pra promover um mutirão de castração a baixo custo. Atualmente, nosso débito está por volta de uns R$ 4 mil, que com certeza serão liquidados com os próximos bazares”, diz esperançosa Keitt Sá Menezes. O projeto possui 18 voluntários, nos quais 6 atuam de forma mais direta.
Os três grupos compartilham das dificuldades para realizar o trabalho. Não só isso, compartilham também do sentimento de dever cumprido e do afeto dos animais de resgatam. “Estamos salvando vidas de seres que não sabem falar e não sabem se defender da maldade humana. Além de visar salvar o animal, buscamos dar a ele uma família para que ele descubra o verdadeiro significado do amor”, diz Tatiana Oliveira Rodrigues, do Cães e Gatos de Rua.
Keitt Sá Menezes ressalta que, além do crescimento pessoal dos voluntários, é uma questão de responsabilidade social. “Uma vez resgatando animais das ruas e evitando sua reprodução desordenada, você estará minimizando o índice de doenças causadas por animais de rua na cidade. O animal pode morder um desconhecido e passar uma doença para ele, mas e se fosse um parente seu? Estamos ajudando não só os animais, mas a sociedade”, frisa.
Leandro Alvim corrobora a ideia dos outros grupos. “Nosso trabalho significa dar uma vida mais digna para o animal do melhor jeito possível, tentando encontrar bons lares, e mesmo os que não encontram, pelo menos são castrados e não sofrerão com nascimentos em locais sem conforto. Significa satisfação em abrigar e encontrar um lar para eles, significa retribuir o amor que esses animais têm para oferecer”, finaliza.
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