Aos 10 anos de idade, completados em fevereiro com festinha especial, Charlotte já não possui a mesma vitalidade de outrora. A cocker spaniel vez por outra esbarra em alguma coisa e subir no sofá é algo que já não faz com tanta facilidade. Já considerada idosa, a cadela recebe mais atenção da dona, a administradora Monique Baima, que evita deixá-la sozinha por muito tempo.
“Ela começou apresentando sinais de envelhecimento aos 8 anos, pois seus olhos começaram a ficar opacos e suas articulações começaram a dar os primeiros sinais de falhas, observados nos tropeços e escorregões”, conta a tutora. “Hoje, a visão está mais deficiente, pois às vezes bate em alguma coisa a sua frente. A mobilidade também está um pouco prejudicada. Ela não consegue mais subir no sofá, por exemplo, com facilidade”, completa.
Diversos fatores influenciam o tempo de vida de um animal doméstico. Espécie, raça, individualidade e os cuidados a ele destinados ao longo da vida são fatores primordiais. Para os gatos, a velhice começa entre 8 e 12 anos. Para os cachorros, a conta depende do porte do animal. “Cães de grande porte começam a fase idosa com 8 anos. Os de médio, aos 10 anos. Os de tamanho pequeno começam a fase geriátrica aos 12”, explica José Arnodson Campelo, médico veterinário e diretor do Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
Sinais
Os sinais do início da velhice são praticamente imperceptíveis aos seus donos. Diabetes, cegueira, câncer são algumas doenças comuns à idade. Mas nem sempre as mudanças estão ligadas diretamente à saúde. “Existe também uma mudança no comportamento do animal. Eles ficam mais solitários, irritados, impacientes, dormem mais e fazem atividades comuns mais lentamente”, lista o veterinário.
Ganho de peso, esbranquiçamento dos pelos e dificuldade em atender o dono também são indícios de que seu amigo está ficando idoso. “Depois de uma certa idade, os cães podem desenvolver artrite. Eles têm dificuldade para subir em locais altos, como sofás e camas. Os donos precisam prestar atenção, porque eles não conseguem demonstrar que estão com dor. Muitas vezes, ficam rolando no chão com dor nas articulações”, frisa José Arnodson Campelo.
Doenças renais, endócrinas (hipo e hipertireoidismo), cardíacas (em cães, a mais comum é na válvula); enfermidades nos olhos, como ceratoconjuntivite (secura nos olhos, úlceras e olhos remelando), e catarata; tumores de pele podem aparecer nessa fase da vida. “Incontinência urinária é mais comuns entre gatos e diabetes incide em cães e gatos, sendo que em cães o tipo 1 é mais comum, e em gatos, 40% é do tipo 1 [insulínico] e 60% do tipo 2”, lista o veterinário.
Mudanças
Se o seu animalzinho chegou à fase senil, algumas alterações na rotina e na forma de lidar com ele são necessárias. Segundo o diretor do Hospital Veterinário da Uema, José Arnodson Campelo, a alimentação é um dos primeiros itens a serem revistos. Com a idade, fica cada vez mais difícil para eles processar os alimentos ingeridos. “Em geral, indicamos uma alimentação específica para a idade, como alimentos no mercado que vem com a indicação sênior”, diz.
A rotina de higiene também sofre uma pequena alteração. “Em cães idosos, pedimos que o banho seja feito de 15 em 15 dias, quando o normal é a cada 8 dias. Já em gatos, a indicação é que o banho aconteça uma vez por mês. Só se o dono sentir uma real necessidade”, orienta.
José Arnodson Campelo ressalta, entretanto, que a principal mudança tem de ser comportamental. “Tal como nos humanos, aparecem diversos problemas de saúde e de convívio. Eles se batem nas paredes e a audição é afetada. É preciso ter paciência, pois dá trabalho sim. Às vezes, muitos donos não querem ter trabalho e gastos, que aumentam. Um cão diabético tem que medir a glicemia e tomar insulina com frequência, por exemplo, e isso gera um gasto maior”, salienta.
Abandono
O veterinário aconselha quem está pensando em adotar ou adquirir um animal de estimação para imaginar se terá condições de lidar com a velhice do seu animal antes mesmo de tê-lo. “Existe um frequente abandono aqui perto do hospital. Por isso, instalamos câmeras para identificar quem faz isso. Quem tem animal tem que saber que ele vai envelhecer. É uma vida. Eles envelhecem bem mais cedo que nós, humanos, e temos que estar preparados para isso”, afirma.
Monique Baima, a dona da cocker spaniel Charlotte, sabe bem o que é isso. “Com o passar do tempo, nos conscientizamos deste fato natural e procuramos cuidar muito bem dela. Evitamos deixá-la muito tempo sozinha, pois a raça não gosta de solidão. São bastante carinhosos, meigos e querem sempre estar junto a você”, diz. “A morte faz parte da vida. Todos os seres vivos passarão por isso, pois esta é a única certeza que nós temos. Faço essa elaboração para me ajudar quando acontecer. E o sentimento além de saudade será gratidão por tantos anos que Charlotte me fez feliz!”, completa.
Reconheça as alterações no seu velhinho
Metabólicas: ganho de peso, maior sensibilidade ao calor e ao frio.
Na pelagem: esbranquiçamento, rarefação de pelos, pele mais seca, crescimento das unhas.
Locomotoras: dificuldades para se movimentar, atrofia muscular, artrose.
Sensoriais: déficit auditivo, catarata.
Gastrointestinais: tendência à diarreia e constipação, dificuldade para digerir os alimentos.
No sistema nervoso central: maior agressividade, perda do treinamento higiênico, alterações no sono, latir (ou uivar) para o nada, caminhar sem rumo (sintomas associados à síndrome da disfunção cognitiva).
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