Descaso

Prédios onde funcionavam escolas agora abrigam marginais

Denúncia é de moradores do Santa Cruz; quase nada sobrou das unidades de ensino; há desocupados no espaço e um dos prédios serve como criadouro de animais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46

[e-s001]A imagem da esquina da Avenida Roberto Simonsen, com a Travessa Santa Laura, no bairro Santa Cruz, em São Luís, poderia ser de crianças, adolescentes e jovens indo para a escola. Mas o que se vê hoje por lá é apenas o esqueleto do que antigamente foi um grande complexo que abrigou uma escola, um centro pedagógico de apoio ao deficiente visual, a sede da Banda Marcial Oficial Estudantil do Estado e um Centro de Ciências, incluindo quadras esportivas e campo de futebol.

Os quatro prédios servem, segundo os moradores da região, apenas para abrigo de marginais, desde que ficaram sem utilidade, há pelo menos dois anos. Os tetos não existem mais. As janelas e portas foram levadas, assim como todo e qualquer tipo de louça e objetos internos que poderiam ser carregados. Os cômodos, que anteriormente eram salas de aula, estão cheios de entulho e lixo. Restos de móveis também são jogados por lá e em alguns cantos é possível encontrar fezes humanas.

Um dos prédios, que servia à Banda Marcial Oficial Estudantil, está ocupado por um grupo de pessoas que dizem estar fazendo criação de animais, como galinhas e porcos.

João Luís Ferreira das Chagas, o Piauí, é uma delas. Enrolando um cigarro de tabaco, ele conta que se juntou a um grupo de pessoas e resolveu tomar posse do espaço, para impedir que marginais usufruíssem dele. Para isso, foram até a Escola Lara Ribas, que fica bem em frente, e pegaram algumas portas e janelas para usar e fechar o prédio, além de construir currais e galinheiros.

Marginais
Mesmo que a intenção de Piauí e seus amigos seja boa, os vizinhos dos prédios contam que a utilidade maior deles mesmo é o abrigo de marginais. Eles dizem que é comum o consumo de drogas na região, além da prática de roubos.

O Estado foi coagido enquanto estava no local realizando esta reportagem. Mesmo assim, ainda chegou a presenciar pessoas jogando lixo no entorno dos prédios, que está tomado por mato.

[e-s001]“É lamentável a situação em que se encontra o Sesi Lara Ribas. Para se formar cidadãos de bem, é preciso investir em educação. É inadmissível deixar uma escola do porte do Sesi Lara Ribas, que tem tanto para oferecer, nessas condições. Só servindo de cracolândia”, afirmou Lia Wadén, que foi aluna da instituição.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou que os prédios são de propriedade do Serviço Social da Indústria (Sesi) e foram cedidos, há muitos anos, em comodato ao Estado. Desde a gestão passada, o Sesi requereu os espaços, para a ampliação de seus serviços. Neste sentido, a Seduc frisa que está em andamento um processo de negociação com a entidade, para reforma dos prédios pelo Estado e devolução ao Sesi.

SAIBA MAIS

A Escola

O prédio onde funcionou a Escola Lara Ribas é de propriedade do Serviço Social da Indústria (Sesi) e por muitos anos sediou a escola mantida pela instituição. Depois foi cedida, em comodato, ao Governo do Estado, que implementou uma escola pública. Com a mudança do Lara Ribas para um outro prédio, no Santo Antônio, o espaço foi abandonado e acabou se deteriorando.

Conhecido como Sesi do Santa Cruz, a escola representou durante vários anos uma referência em ensino na região. “Sua significância ultrapassa o valor histórico, pois uma enorme parcela destes alunos eram os próprios moradores, que tinham acesso ao ensino gratuito e de qualidade. Hoje, o que vemos é o retrato do des­caso, não somente com o patrimônio, mas com a memória de exemplos significativos, que vão se diluindo, se deteriorando, assim como os tijolos desse santuário educacional”, afirmou Josué da Luz, ator, arte-educador, diretor teatral e ex-aluno da escola.

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