Transparência?

Ministro não resiste à pressão e entrega pasta da Transparência

Presidente em exercício Michel Temer chegou a pedir pessoalmente para que Fabiano Silveira permanecesse no cargo, mas representantes da própria CGU cobraram sua exoneração

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
Michel Temer tentou manter afilhado de Renan Calehiros, mas grampos o derrubaram
Michel Temer tentou manter afilhado de Renan Calehiros, mas grampos o derrubaram

Brasília - O presidente interino Michel Temer ligou para o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, na tarde de ontem, pedindo que o titular da pas­ta permanecesse no governo, apesar das pressões contrárias após o vazamento do áudio em que criticava a Operação Lava Jato e orientava investigados quando era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário.

Silveira, contudo, não resistiu à pressão das unidades da CGU nos estados e da sociedade civil, que protestaram, inclusive, na porta do mi­nistério. Ele entregou sua carta de exoneração ontem à noite, um dia após revelação das conversas com Machado.

No áudio da conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e divulgada no domingo, 29, Silveira diz, logo após ouvir críticas de Machado ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que "eles estão perdidos nessa questão [da Lava Jato]". Os áudios foram exibidos pelo programa Fantástico, da TV Globo.

De acordo com a reportagem, a gravação foi feita no final de fevereiro, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Foi Renan quem indicou Fabiano, que era servidor do Senado, ao CNJ.

Machado informou que foi à casa de Renan para conversar sobre providência a tomar em relação à Operação Lava Jato. Ele disse aos procuradores ainda que um outro advogado, Bruno Mendes, esteve no encontro.

Fabiano Silveira não resistiu à pressão
Fabiano Silveira não resistiu à pressão

A reportagem indica que o agora ministro Fabiano Silveira e o advogado Bruno Mendes orientaram os investigados sobre como lidar com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O ministro também teria procurado integrantes da força-tarefa da Lava Jato para pedir dados de inquéritos sobre Renan Calheiros.

O ministro também recomendou que Renan não adotasse argumentos específicos. "Está entregando já a sua versão pros caras da... PGR, né. Entendeu? (...) Quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou", afirmou.

Fabiano recomendou ainda que Sérgio Machado procurasse o relator de um dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), sem citar nomes.

Em outro trecho, Renan manifesta preocupação com um processo específico da Lava Jato, a denúncia de que sua campanha teria recebido R$ 800 mil como propina numa licitação de frota na Transpetro. "Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo... Isso me preocupa pra caralho", disse o presidente do Senado.

Chefes regionais da extinta Controladoria-Geral da União (CGU), atual Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, servidores da área e algumas entidades, como a Transparência Internacional, organização internacional de combate à corrupção, pressionam por meio de comunicados e protestos em frente ao Palácio do Planalto para que o titular da pasta, Fabiano Silveira, deixe o cargo.

Ministro diz ter se evolvido indiretamente em conversa

O ministro Fabiano Silveira divulgou nota à imprensa ainda na noite de domingo. Ele disse ter comparecido “de passagem” à residência do presidente do Senado, sem saber da presença de Sérgio Machado, com quem não tem nenhuma relação pessoal ou profissional.

O ministro negou ter feito qualquer intervenção em órgãos públicos a favor de terceiros. “Chega a ser um despropósito sugerir que o Ministério Público [...] possa sofrer interferências”, diz a nota.

Segundo a assessoria do ministro, após ter sido procurado pela produção do Fantástico, o ministro entrou em contato com o presidente interino Michel Temer e seguiu para assistir a reportagem ao lado de Temer, que teria dito não haver enxergado críticas à Lava Jato nas declarações de Silveira.

Ainda segundo a assessoria, Silveira não poderia, à época das gravações, “sequer imaginar que se tornaria ministro”.

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