opiniao

Censura oficial no Maranhão

editorial

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Em seu trabalho diário de busca pela notícia, a imprensa se depara com frequência com a dificuldade de obter informações cuja divulgação depende de fontes oficiais. É uma realidade que persiste, apesar das campanhas de estímulo à transparência governamental. No Maranhão, o que se observa, hoje em dia, em tom de lamento, é o retrocesso, em que os entes públicos impõem barreiras à relação com jornais, emissoras de rádio e TV e blogs, com a clara intenção de reter informações que possam, de alguma forma, denegrir a imagem de quem está no poder.
Se não, vejamos: por qual razão a Secretaria de Segurança Pública resolveu proibir a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV) de divulgar estatísticas dos crimes que investiga e até mesmo dos casos elucidados por essa unidade policial? Depois de anos gozando de acesso livre a tais dados, jornalistas, hoje, estão obrigados a buscá-los na Delegacia Geral de Polícia Civil, único canal supostamente autorizado a fazer tal difusão. É ordem expressa e deve ser cumprida à risca, sob pena de punição condizente com a lógica governamental vigente no estado.
Na verdade, não se trata de uma busca simples. Um repórter que receba tal pauta se vê diante de uma árdua missão. Não por dificuldade técnica para manejar as informações apuradas, mas pelo triste fato de que os dados não estão mais disponíveis. Pelo menos foi o que afirmou a O Estado, ontem, o delegado-geral da Polícia Civil, Lawrence Melo, retroagindo ao período mais cruel de censura à imprensa.
Disse mais o destacado membro da cúpula da segurança pública, em tom autoritário, tão condenado por seus subordinados: o jornal deturpara números divulgados no dia anterior, relativos a assaltos a ônibus em São Luís, com o único intuito de fabricar uma manchete. Nada mais despropositado e fora da realidade, uma vez que as referidas estatísticas foram divulgadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (SMTT), que mantém um banco de dados atualizados sobre esse tipo de ocorrência.
Na esfera municipal, a liberdade de informação também está longe de ser exercida de forma plena. Que o diga o secretário de Trânsito e Transportes, Francisco Canindé Barros, conhecido por divulgar somente o que lhe convém e por se esquivar quando diante de indagações que possam lhe causar algum embaraço. Canindé faz uma gestão marcada por tabus e guarda a sete chaves segredos invioláveis dentro do seu gabinete. O jornalista que se dispuser, por exemplo, a apurar os critérios e beneficiários do processo de distribuição das mais de 500 placas de táxis aprovadas pela Câmara Municipal ou os nomes e as origens das empresas habilitadas, até o momento, a participar da licitação de linhas de ônibus na capital, fatalmente dará com a cara na porta.
Os casos de cerceamento oficial se multiplicam, à medida que os meios de comunicação se propõem a apurar informações consideradas incômodas. Ao que parece, a regra é dificultar ao máximo o acesso a conteúdos que possam gerar repercussão negativa. Afinal, ninguém - muito menos governos - costuma produzir prova contra si próprio.

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