Encontro Quilombola

Encontro quilombola reunirá centenas no interior do MA

Evento, que será realizado pela organização Vaga Lume, de amanhã até sábado, na Reserva Extrativista Quilombo Frechal, visa discutir história e cotidiano com representantes de 20 comunidades remanescentes de quilombos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49
"Cultura Local" e "Ancestralidade" é um dos temas do encontro quilombola
"Cultura Local" e "Ancestralidade" é um dos temas do encontro quilombola (Cultura)

Mirinzal - Começará amanhã, na Reserva Extrativista Quilombo Frechal, em Mirinzal, o encontro de representantes de 20 comunidades quilombolas da área de atuação da Associação Vaga Lume (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).

O evento é inédito. A ideia partiu das próprias comunidades e foi retomada durante a Expedição Vaga Lume 15 anos, realizada em 2015, quando a organização visitou 159 comunidades rurais nos 23 municípios da Amazônia Legal, na qual o Maranhão está inserido.

Durante as expedições, as educadoras sondaram se ainda existia o interesse das comunidades em participar do encontro e levantaram os principais temas considerados importantes para a discussão, como a seleção de livros que tratam de temáticas africanas, afro-brasileira e quilombola; a valorização da cultura afrodescendente e de seus personagens e o fortalecimento da identidade quilombola e o debate das questões relacionadas à discriminação racial e religiosa.

Os depoimentos nas diversas comunidades foram muito parecidos, e as demandas e temas apontados foram quase que unânimes, semelhantes também às respostas coletadas no questionário anterior, aplicado em 2012.

Com esse material em mãos, a Vaga Lume criou temas que nortearão o Encontro Quilombola, que são: "Histórico das relações raciais no Brasil: construção da identidade negra", "Cultura Local e Ancestralidade: roda de histórias" e "Bibliodiversidade".

“Esse projeto visa fortalecer as comunidades quilombolas e valorizar a identidade e as expressões culturais tradicionais. Todos os temas abordados no encontro permearão a temática do livro, da mediação de leitura e das bibliotecas, de forma com que as discussões ajudem no aprimoramento das nossas práticas”, afirma Sylvia Guimarães, presidente da Vaga Lume.

Programação

Nos quatro dias de encontro estão previstas atividades, como dinâmicas em grupo, brincadeiras, rodas de história e conversas e a produção de livros artesanais. O encontro é um importante passo para a consolidação da metodologia de trabalho da Vaga Lume nessas comunidades, uma vez que objetiva produzir um documento síntese forte e criar um grupo coeso de lideranças que serão a base para a criação e divulgação de um manifesto oficial futuro.

Os momentos de formação terão a participação de palestrantes locais, que compartilharão suas histórias, enriquecendo ainda mais o conteúdo de escuta que será sugerido pela equipe. A convite da Vaga Lume, a escritora Kiusam de Oliveira participou do processo de elaboração pedagógica do encontro e também estará presente para dar sua contribuição.

“Kiusam é doutora em educação e mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo e especialista na temática das relações étnico-raciais. Não poderíamos ter parceira melhor para esse projeto”, conclui Márcia Licá, educadora do Programa Expedição e organizadora do Encontro Bibliotecas Vaga Lume em Comunidades Quilombolas.

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Sobre a Vaga Lume

A Vaga Lume é uma organização sem fins lucrativos, reconhecida pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). A organização acredita que o investimento nas pessoas e nas comunidades da Amazônia é uma forma de contribuir com as gerações presentes e futuras, promovendo o acesso à educação e à cultura, valorizando a diversidade cultural e a preservação do meio ambiente. Desde 2001, a organização desenvolve projetos de educação e cultura em 159 comunidades rurais de 23 municípios da Amazônia Legal.

Racismo e suas consequências para a população

O racismo no Brasil existe e se mostra de diversas maneiras, conforme a Vaga Lume. A desigualdade entre negros e brancos começou lá atrás, quando a Lei Áurea foi assinada e milhares de negros foram jogados na sociedade sem amparo e acolhimento. Resultado: até hoje a maioria da população negra é marginalizada e não tem as mesmas oportunidades e direitos garantidos que o restante da população.

Grave também é a negação desse preconceito, que faz com que a situação se mantenha ou ainda piore, por falta de atitudes. Segundo Rita Izak, relatora sobre Direitos de Minorias da Organização das Nações Unidas (ONU), que esteve em uma missão no Brasil em setembro, o mito da democracia racial continua sendo um obstáculo para se reconhecer o problema do racismo no Brasil. E afirma: "Esse mito contribuiu para o falso argumento de que a marginalização dos afro-brasileiros se dá por conta de classe social e da riqueza, e não por fatores raciais e discriminação institucional".

“E esse cenário assusta ainda mais quando olhamos para as crianças e para os jovens negros, que têm acesso limitado à educação de qualidade, o que contribui para a continuidade desse ciclo vicioso de segregação e marginalização. E mesmo quando estão na escola, estão sujeitos a todo tipo de preconceito, seja do colega que faz um comentário maldoso sobre sua cor ou textura de cabelo, ou mesmo na leitura de um livro que traz, na grande maioria das vezes, histórias e personagens que nada se assemelham com a sua realidade”, diz Izak.

Nesse contexto, a expectativa da Vaga Lume com o Encontro Quilombola em Mirinzal é, com as comunidades onde atua, entender como as bibliotecas e a leitura podem contribuir para fortalecer as crianças e os jovens, visando a formação de cidadãos mais seguros e empoderados que têm mais força para preservar e promover a identidade cultural quilombola.

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