Renascimento

Reflexões de pessoas que fizeram diferença no ano que se encerra

Eles são heróis, bombeiros que cumprem seu papel, ajudando pessoas comuns; no apagar de 2015, fica o exemplo de quem traz para si a responsabilidade de salvar vidas, controlando suas emoções em prol da comunidade

Jock Dean/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h52

[e-s001]Muito mais do que uma profissão. É uma vocação. Sempre prontos para socorrer quem precisa, eles são considerados heróis por crianças e até mes­mo por muitos adultos. Motivo de orgulho para toda a comunidade, os bombeiros estão sempre a postos para ajudar quem precisa. Hoje, O Estado conta a história de dois desses heróis, cujos atos de bravura chamaram atenção em 2015. Assim como milhares de anônimos, eles fizeram a diferença na vida das pessoas neste ano que se despede.

Há 22 anos na corporação, o 2º sargento Carlos Eduardo Ferreira tem uma ilustração simples para explicar o que é ser bombeiro. “Em um incêndio, enquanto todos estão saindo de um prédio, os bombeiros estão entrando. O bombeiro é um cara muito louco”, disse.

E foi em um desses atos de loucura, ou melhor, de bravura, que o 2º tenente Carlos Eduardo Ferreira salvou mais uma vida. O dia era 16 de setembro, e ele não iria trabalhar. “Era meu aniversário e eu ia ficar em casa, mas meu comandan­te me ligou informando que iria precisar de mim. Então, fui para o trabalho, no Comando Geral [na área Itaqui-Bacanga]”, afirmou.

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O 2º sargento Carlos Eduardo Ferreira achou que seria mais um dia comum de trabalho, mas, por volta das 10h30, o Corpo de Bombeiros recebeu um chamado: um homem estava ameaçando se jogar do Elevado da Cohama. “Ao longo do dia, eu fiquei acompanhando pelas redes sociais, por meio de informações dos meus colegas no lo­cal. Quando terminou meu expediente, soube que ele teria se atira­do. Resolvi passar pelo local e des­cobri que ele ainda estava sentado no parapeito do elevado”, informou.

Ser bombeiro não é para todo mundo. Tem de ser de coração, tem de sentir. Houve momentos em que me senti desmotivado, mas a gratidão das pessoas me fortalece e faz continuar” Carlos Eduardo Ferreira, 2º sargento do Corpo de Bombeiros

Missão
Ele, então, interrompeu o caminho para casa e resolveu descer. Ao se aproximar dos colegas que atendiam à ocorrência, ouviu do ho­mem que havia chegado mais um “salvador da pátria”. “Eu pedi a ele para conversarmos, dizendo que era seu amigo e queria ajudá-lo. Ele duvidou, mas aos poucos fomos conversando e eu me aproximando lentamente. Ele notou que meus colegas estavam se preparando pa­ra resgatá-lo e ameaçou se jogar. Eu pedi que ele se acalmasse e falei sobre as consequências daquele ato”, comentou.

[e-s001]Em dado momento, o homem abaixou a cabeça, talvez pelo cansaço de estar há várias horas sentado no parapeito sob o sol. Era a chance que o 2º sargento Carlos Eduardo Ferreira precisava e talvez a única que teria. “Eu o abracei e o coloquei no chão. Em seguida, saí andando para longe da cena. Voltei alguns minutos depois e fui até a viatura para conversar com ele. Ele ficou admirado com o meu retorno e eu repeti que estava ali para ajudá-lo porque era seu amigo”, lembrou.

Os dois voltaram a se encontrar ainda mais uma vez, o 2º sargento tentou manter contato, mas não conseguiu. “Eu respeitei a escolha dele e da família”, contou. Se o fato do salvamento ter ocorrido no dia do aniversário de 42 anos do oficial, que nem estaria de serviço àquele dia, já não fosse para uma grande história, outra coincidência chama a atenção: o homem salvo pelo sargento também se chama Carlos Eduardo. “Eu fiquei surpreso ao saber que ele é um intelectual, um artista plástico, mas a vida das pessoas é complicada”, comentou.

Filho de um militar do Exército, o 2º sargento Carlos Eduardo Ferreira afirmou que escolheu a profissão por que salvar vidas é sua vocação. “Não sei passar por um local, ver uma situação e não me envolver. Desço do carro, nem que seja para chamar uma viatura ou prestar os primeiros socorros. Em casa, de folga, fardado ou não, eu sou assim. Digo que sou bombeiro até quando estou dormindo”, frizou.

[e-s001]Salvar vidas
Assim como ele, o capitão Diego Renier, de 27 anos, também é bombeiro porque salvar vidas é muito mais que sua missão. “Eu também sou professor de yoga e na yoga o lema é: o importante são as pessoas. A gente precisa esquecer nos­so ego e pensar no outro e é com esse lema que eu faço meu trabalho como bombeiro”, afirmou.

Ele está no Corpo de Bombeiros desde 2007 e há quatro meses trabalha no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), encarando a difícil missão de salvar vidas pelo telefone. “Eu procuro me conectar com as pessoas por meio da minha voz. Se eu falo e a pessoa responde, eu sei que elas estão conectadas a mim e eu posso ajudá-las. Se elas não respondem, é porque estão conectadas com outra coisa”, disse. A preocupação dele é tanta que mesmo durante a entrevista deu uma dica. “Após amamentar, as mães precisam colocar as crianças para arrotar”, informou.

Quando visto minha farda, é como se ganhasse uma couraça que me permite controlar minhas emoções e fazer o meu trabalho” Diego Renier Capitão do Corpo de Bombeiros

E a dica não é ao acaso. A maioria das ligações para o Ciops é de mães cujos filhos estão engasgados. Uma delas aconteceu em setembro. Engasgada com leite materno, a criança já estava ficando roxa pela falta de ar. “Desesperada, a mãe pediu ajuda ao vizinho e ele ligou para cá. Pedi a ela que tentasse ficar calma e comecei a explicar os procedimentos a serem tomados, mas nada dava certo. O tempo estava passando e a criança continuava engasgada. Até que o alívio veio quando ouvimos o choro da criança do outro lado da linha”, lembrou.

Desde então, 20 pessoas foram salvas pelo oficial. “O bombeiro é a última instância que a pessoa procura. Se nós não atendermos, é fatal. Por isso, o tempo é tão importante. No caso dessa criança, perdemos o tempo que a mãe levou para pedir ajuda ao vizinho e ele para nos ligar. Cinco minutos sem ar, e o cérebro já pode sofrer com alguma sequela”, informou.

Hoje, ele se diz mais acostumado ao trabalho e mais seguro para ajudar as pessoas que ligam pedindo por socorro. “Antes, era mais difícil, mas fico grato em saber que posso ajudar as pessoas, sobretudo as que mais precisam”, disse.

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