Lentidão no trânsito

Aplicativo aponta lentidão em várias avenidas de SL

Diversidade de problemas, que vai além da frota expressiva de veículos em São Luís, contribui para engarrafamentos e trânsito lento em vias da cidade; para especialista, situação poderia ser resolvida com ações de gerenciamento

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53
Avenida Jerônimo de Albuquerque registrou velocidade de 15km/h de 7h30 a 8h30 nos dias 26 e 27 deste mês, conforme dados de aplicativo
Avenida Jerônimo de Albuquerque registrou velocidade de 15km/h de 7h30 a 8h30 nos dias 26 e 27 deste mês, conforme dados de aplicativo (congestionamento)

Sair de casa para trabalhar, levar os filhos à escola e outras atividades não é uma tarefa fácil. Ainda mais com o trânsito lento nas principais avenidas de São Luís. De acordo com informações do aplicativo Waze, a velocidade média em algumas vias não passa de 10 km/h em horários de pico no fluxo de trânsito. Para o professor Francisco Soares, especialista em tráfego, problemas de lentidão poderiam ser solucionados com me­didas de gerenciamento.

Em dois dias de levantamento de informações fornecidas pelo aplicativo, foi verificada uma velocidade média baixíssima em algumas avenidas. O aplicativo usa informações do seu percurso diário para calcular a velocidade média, encontrar erros, melhorar o traçado de vias e aprender novos caminhos e direções. O levantamento rápido foi feito de 7h30 e 8h30. Fo­ram coletadas informações de algumas avenidas, e o resultado surpreendeu.

A Avenida São Luís Rei de Fran­ça foi a que apresentou menor velocidade média, com 4,5km/h. Já a Guajajaras chegou a ter uma velocidade de apenas 8km/h no trecho compreendido entre a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) e o retorno do Tirirical e de 9km/h no encontro da via com a Avenida Lourenço Vieira da Silva.

Em outros corredores do trânsito, a média registrada era um pouco maior. Mas a lentidão no trânsito persistia. Alguns exemplos são as avenidas Jerônimo de Albuquerque (do Angelim até o elevado da Cohama), Ana Jansen (da Lagoa até o retorno do São Francisco) e João Pessoa (do encontro com a Avenida Kennedy até o Filipinho), que registravam de 13 a 16km/h. Trechos da Avenida dos Franceses e Estrada de Ribamar, assim como Avenida Daniel de La Touche e Ponte José Sarney, também registravam trânsito lento no início da manhã.

Causas
O trânsito lento nessas vias, principalmente no início da manhã e fim de tarde, não é novidade para ninguém. No entanto, as causas não podem ser atribuídas somente à grande frota de carros e motocicletas da cidade, como muitas pessoas costumam comentar. Ho­je,

São Luís tem uma frota de 361.406 veículos, e a impressão que se tem é de que carros novos chegam todos os dias às ruas da capital, causando mais engarrafamentos.

O professor Francisco Soares é especialista em tráfego. Como vice-presidente do Conselho Estadual de Trânsito, membro da Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI) da Polícia Rodoviária Federal no Maranhão, ex-secretário adjunto de transporte e ex-diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Maranhão, ele explicou com propriedade que a frota de veículos é apenas um dos fatores a ser ad­ministrado.

Ele frisou que algumas situações no trânsito são previsíveis, como os horários de escola e saí­da do trabalho coincidindo, o que causa maior lentidão. Mas há também condicionantes que colaboram para isso, como a falta de agentes orientando o fluxo, sinais de trânsito sem sincronização, semáforos não-inteligentes que seguem apenas uma pré-programação.

Pequenas colisões que ocorrem todos os dias também contribuem para a lentidão. “Quando isso acon­tece, o motorista não retira o veículo do local. Isso é o comportamento mais primitivo que o condutor pode ter no trânsito. A perícia não é obrigatória. Só quando há danos ao patrimônio público e vítimas. São Paulo é uma cidade que não tem isso”, ressaltou Francisco Soares.

Além disso, ele destacou a configuração atual das vias. “Temos faixas de rolamento de três metros que poderiam ser de 2,5 metros. Teríamos três faixas e até dedicar uma só para moto ou bicicleta. O que se tem hoje é dimensionamento da via para altíssimas velocidades, como 60 km/h. Se colocasse para 30km/h com mais uma faixa, ainda assim se teria mais escoamento. Falta um pouco de bom senso e gestão”, disse.

Gerenciamento
O professor explicou ainda que a frota de veículos tem um peso considerável sobre o cenário atual, as­sim como ocorre em outros estados. “As cidades são um tecido vivo, que demora a se modificar. A frota cresce muito em um curto período de tempo, e as vias não acompanham isso”. No entanto, como ele mesmo destacou, a alternativa não é apenas criar mais viadutos e no­vas vias. A solução necessitaria dois eixos: ações em curto prazo e investimentos em longo prazo.

Em primeiro lugar, é preciso investir em gerenciamento do trânsito. O próprio professor já apresentou um modelo de sala de situação à Prefeitura, no qual poderia reunir as informações do trânsito (acidentes, trechos mais lentos, engarrafamentos rotineiros, etc.) em um banco de dados para planejamento e construção de estudos e soluções. Mas não houve interesse na adoção do modelo.

Hábitos
Mudança de hábitos por parte da população também não poderia ficar de fora. Deixar o carro em casa um dia e utilizar o transporte público é uma alternativa em algumas cidades do Brasil, visto a qualidade ofertada. Mas em São Luís o conforto e segurança nem sempre são condicionantes com as quais a população pode contar.

Situação semelhante envolve a bicicleta, que é uma alternativa econômica e sustentável na Europa. No entanto, em São Luís de­ve-se lembrar que a distância entre os bairros e que há poucas ciclovias. “Creio que o rodízio de veículos, assim como acontece em São Paulo, ainda é uma medida extrema. Primeiro, precisamos tirar os exageros e fazer o básico”, disse o professor.

Em segundo lugar, seria importante adotar um planejamento viário para o prazo de 10 a 20 anos, que continue sendo executado mesmo com a mudança de gestores após as eleições. O compromisso com as ações que são executadas em curto prazo pelos ad­ministradores estaduais e municipais, como a criação de uma faixa exclusiva de ônibus nas avenidas de São Luís, também é uma recomendação do especialista. “A faixa exclusiva é uma solução bem-vinda, mas precisa de fiscalização. Há demarcação nas vias. Não hou­ve a implantação na realidade”, frisou.

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) informou em nota que aciona agentes de trânsito em pontos fixos e em motocicletas para atuarem em locais considerados de pouca fluidez para garantir a trafegabilidade. Pa­ra isso, modifica os tempos dos ciclos semafóricos (aumentando o tempo de verde no sentido de maior fluxo) e realizando, em alguns casos, intervenções físicas nas vias e até fechamento de retornos e rotatórias com o objetivo de garantir a fluidez do trânsito.

A exemplo disso, foram executadas recentes obras de intervenções no trânsito que têm como princípio básico a fluidez do trânsito, priorizando pontos de maior demanda de tráfego e segurança, como as ações no Anel Viário, La­goa, Jaracati, Curva do Noventa, Avenida dos Franceses, Ponta do Farol e Entrada do Parque Timbiras. Outras ações visando a este mes­­mo objetivo estão sendo feitas em conjunto com a Semosp como parte das vias interbairros ou em parceria com o Governo do Esta­do.

Levantamento dias 26 e 27 de outubro (7h30 às 8h30)

1. Av. São Luís Rei de França – 4,5 km/h
2. Av. Guajajaras – 8 km/h e 9 km/h em trechos distintos
3. Av. Jerônimo de Albuquerque – 15 km
4. Av. dos Holandeses – 15 km/h
5. Av. João Pessoa – 16 km/h e 21 km/h
6. Av. dos Franceses – 18 km/h
7. Estrada de Ribamar – 17 km/h e 19 km/h
8. Av. Ana Jansen – 13 km/h
9. Av. Daniel de La Touche – 15 km/h
10. Av. Marechal Castelo Branco – 15 km/h

Waze é um dos aplicativos de trânsito e navegação disponíveis baseado em uma comunidade. Condutores compartilham informações de trânsito das vias em tempo real.

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