Aplicativo aponta lentidão em várias avenidas de SL
Diversidade de problemas, que vai além da frota expressiva de veículos em São Luís, contribui para engarrafamentos e trânsito lento em vias da cidade; para especialista, situação poderia ser resolvida com ações de gerenciamento
Sair de casa para trabalhar, levar os filhos à escola e outras atividades não é uma tarefa fácil. Ainda mais com o trânsito lento nas principais avenidas de São Luís. De acordo com informações do aplicativo Waze, a velocidade média em algumas vias não passa de 10 km/h em horários de pico no fluxo de trânsito. Para o professor Francisco Soares, especialista em tráfego, problemas de lentidão poderiam ser solucionados com medidas de gerenciamento.
Em dois dias de levantamento de informações fornecidas pelo aplicativo, foi verificada uma velocidade média baixíssima em algumas avenidas. O aplicativo usa informações do seu percurso diário para calcular a velocidade média, encontrar erros, melhorar o traçado de vias e aprender novos caminhos e direções. O levantamento rápido foi feito de 7h30 e 8h30. Foram coletadas informações de algumas avenidas, e o resultado surpreendeu.
A Avenida São Luís Rei de França foi a que apresentou menor velocidade média, com 4,5km/h. Já a Guajajaras chegou a ter uma velocidade de apenas 8km/h no trecho compreendido entre a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) e o retorno do Tirirical e de 9km/h no encontro da via com a Avenida Lourenço Vieira da Silva.
Em outros corredores do trânsito, a média registrada era um pouco maior. Mas a lentidão no trânsito persistia. Alguns exemplos são as avenidas Jerônimo de Albuquerque (do Angelim até o elevado da Cohama), Ana Jansen (da Lagoa até o retorno do São Francisco) e João Pessoa (do encontro com a Avenida Kennedy até o Filipinho), que registravam de 13 a 16km/h. Trechos da Avenida dos Franceses e Estrada de Ribamar, assim como Avenida Daniel de La Touche e Ponte José Sarney, também registravam trânsito lento no início da manhã.
Causas
O trânsito lento nessas vias, principalmente no início da manhã e fim de tarde, não é novidade para ninguém. No entanto, as causas não podem ser atribuídas somente à grande frota de carros e motocicletas da cidade, como muitas pessoas costumam comentar. Hoje,
São Luís tem uma frota de 361.406 veículos, e a impressão que se tem é de que carros novos chegam todos os dias às ruas da capital, causando mais engarrafamentos.
O professor Francisco Soares é especialista em tráfego. Como vice-presidente do Conselho Estadual de Trânsito, membro da Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI) da Polícia Rodoviária Federal no Maranhão, ex-secretário adjunto de transporte e ex-diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Maranhão, ele explicou com propriedade que a frota de veículos é apenas um dos fatores a ser administrado.
Ele frisou que algumas situações no trânsito são previsíveis, como os horários de escola e saída do trabalho coincidindo, o que causa maior lentidão. Mas há também condicionantes que colaboram para isso, como a falta de agentes orientando o fluxo, sinais de trânsito sem sincronização, semáforos não-inteligentes que seguem apenas uma pré-programação.
Pequenas colisões que ocorrem todos os dias também contribuem para a lentidão. “Quando isso acontece, o motorista não retira o veículo do local. Isso é o comportamento mais primitivo que o condutor pode ter no trânsito. A perícia não é obrigatória. Só quando há danos ao patrimônio público e vítimas. São Paulo é uma cidade que não tem isso”, ressaltou Francisco Soares.
Além disso, ele destacou a configuração atual das vias. “Temos faixas de rolamento de três metros que poderiam ser de 2,5 metros. Teríamos três faixas e até dedicar uma só para moto ou bicicleta. O que se tem hoje é dimensionamento da via para altíssimas velocidades, como 60 km/h. Se colocasse para 30km/h com mais uma faixa, ainda assim se teria mais escoamento. Falta um pouco de bom senso e gestão”, disse.
Gerenciamento
O professor explicou ainda que a frota de veículos tem um peso considerável sobre o cenário atual, assim como ocorre em outros estados. “As cidades são um tecido vivo, que demora a se modificar. A frota cresce muito em um curto período de tempo, e as vias não acompanham isso”. No entanto, como ele mesmo destacou, a alternativa não é apenas criar mais viadutos e novas vias. A solução necessitaria dois eixos: ações em curto prazo e investimentos em longo prazo.
Em primeiro lugar, é preciso investir em gerenciamento do trânsito. O próprio professor já apresentou um modelo de sala de situação à Prefeitura, no qual poderia reunir as informações do trânsito (acidentes, trechos mais lentos, engarrafamentos rotineiros, etc.) em um banco de dados para planejamento e construção de estudos e soluções. Mas não houve interesse na adoção do modelo.
Hábitos
Mudança de hábitos por parte da população também não poderia ficar de fora. Deixar o carro em casa um dia e utilizar o transporte público é uma alternativa em algumas cidades do Brasil, visto a qualidade ofertada. Mas em São Luís o conforto e segurança nem sempre são condicionantes com as quais a população pode contar.
Situação semelhante envolve a bicicleta, que é uma alternativa econômica e sustentável na Europa. No entanto, em São Luís deve-se lembrar que a distância entre os bairros e que há poucas ciclovias. “Creio que o rodízio de veículos, assim como acontece em São Paulo, ainda é uma medida extrema. Primeiro, precisamos tirar os exageros e fazer o básico”, disse o professor.
Em segundo lugar, seria importante adotar um planejamento viário para o prazo de 10 a 20 anos, que continue sendo executado mesmo com a mudança de gestores após as eleições. O compromisso com as ações que são executadas em curto prazo pelos administradores estaduais e municipais, como a criação de uma faixa exclusiva de ônibus nas avenidas de São Luís, também é uma recomendação do especialista. “A faixa exclusiva é uma solução bem-vinda, mas precisa de fiscalização. Há demarcação nas vias. Não houve a implantação na realidade”, frisou.
A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) informou em nota que aciona agentes de trânsito em pontos fixos e em motocicletas para atuarem em locais considerados de pouca fluidez para garantir a trafegabilidade. Para isso, modifica os tempos dos ciclos semafóricos (aumentando o tempo de verde no sentido de maior fluxo) e realizando, em alguns casos, intervenções físicas nas vias e até fechamento de retornos e rotatórias com o objetivo de garantir a fluidez do trânsito.
A exemplo disso, foram executadas recentes obras de intervenções no trânsito que têm como princípio básico a fluidez do trânsito, priorizando pontos de maior demanda de tráfego e segurança, como as ações no Anel Viário, Lagoa, Jaracati, Curva do Noventa, Avenida dos Franceses, Ponta do Farol e Entrada do Parque Timbiras. Outras ações visando a este mesmo objetivo estão sendo feitas em conjunto com a Semosp como parte das vias interbairros ou em parceria com o Governo do Estado.
Levantamento dias 26 e 27 de outubro (7h30 às 8h30)
1. Av. São Luís Rei de França – 4,5 km/h
2. Av. Guajajaras – 8 km/h e 9 km/h em trechos distintos
3. Av. Jerônimo de Albuquerque – 15 km
4. Av. dos Holandeses – 15 km/h
5. Av. João Pessoa – 16 km/h e 21 km/h
6. Av. dos Franceses – 18 km/h
7. Estrada de Ribamar – 17 km/h e 19 km/h
8. Av. Ana Jansen – 13 km/h
9. Av. Daniel de La Touche – 15 km/h
10. Av. Marechal Castelo Branco – 15 km/h
Waze é um dos aplicativos de trânsito e navegação disponíveis baseado em uma comunidade. Condutores compartilham informações de trânsito das vias em tempo real.
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