Crônica

A Matemática do Amor (E Dos Namorados)

José Ewerton Neto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h58

A matemática do amor, da matemática inglesa, Hannah Fry, é livro que pretende explicar o amor a partir de expressões matemáticas(?). Em homenagem ao próximo dia dos namorados, uma singela tentativa, para que você não precise gastar dinheiro com o livro, nestes dias tão bicudos.

1. O Amor Regra de Três

É o mais comum. Aliás, se não houver um terceiro, pra que serve o amor? Nem amor existe, na ausência da dúvida crucial, ou seja, da incógnita. Para haver amor, o x da questão tem de estar lá, indeterminado, misterioso, inalcançável. O verso de um poeta francês diz que todo amor dura enquanto for capaz de fazer voar de um coração até o outro a águia dos espaços. Coisa de poeta. Ora, o que é essa tal águia, senão o xis?

2. O Amor Paralelas

É aquele em que predomina certa distância permanente entre os parceiros. Pode ter começado na infância, nas escolas, no trabalho, às vezes nos três em sequência, o certo é que entre os amados sempre permanece aquele clima do que nunca se resolve. Aproximações, claro, existem, mas nesse tipo de amor nunca acontece de ambos se tocarem profundamente, sabe como é, né? Um presentinho aqui, outro ali, uma mensagem de e-mail no Natal, frases cheias de kkkks, no facebook, mas, nada de concretizarem seus desejos. Talvez porque tenham medo de descobrir que ao deixarem de ser paralelos perderão justamente o que os fascina: a distância irremovível. E assim, a vida segue plena de impulsos contidos, mas esperançosos –no inconsciente - de que um dia se encontrarão no infinito, como duas paralelas que se prezam. Isso se a morte não chegasse antes.

3. O Amor Permutação

É aquele pleno de permutações e mais permutações em nome do amor que, aliás, começou por causa disso. Um dia ele disse “complete a minha felicidade com o teu sorriso”, ela respondeu “desde que você pague a minha conta”, e assim por diante. O amor permutação é rico, portanto, em trocas óbvias: de sexo por celular, de beijo por um ingresso de show, de ciúmes por um sorvete, mas, nada de suruba: o amor permutação só admite trocas de parcerias, desde que seja uma após a outra. E, assim, sobrevive até chegar o dia das permutações filiais. “Eu faço de conta que não sei do teu filho com outra, tu fazes de conta que nosso filho é teu” e corramos para o abraço - seja lá de quem for.

Um presentinho aqui, outro ali, uma mensagem de e-mail no Natal, frases cheias de kkkks, no facebook, mas, nada de concretizarem seus desejos. Talvez porque tenham medo de descobrir que ao deixarem de ser paralelos perderão justamente o que os fascina: a distância irremovível.José Ewerton Neto

3. O Amor Análise Combinatória.

‘Combinamos que nos amamos’, esse é o começo padrão para a frutificação desse tipo de amor. O resto é matemática. Combinações de 2 três a três; de camas, cinco a cinco; de filhos a três por quatro. Suruba sim, por que não? O importante é a combinação. Que, infelizmente, ou felizmente, não tem nada a ver com a antiga peça íntima que toda mulher usava num tempo em que essa era a única combinação possível. Mudaram as pessoas ou mudou a matemática?

4. O Amor Tábua de Logaritmos.

No início desse tipo de amor tudo tem de ser calculado nos mínimos detalhes. “Se não tivéssemos que calcular, meu anjo, você teria casado com um cabeleireiro, e não com um professor, princesa”. E haja cálculo. Para saber o dia certo de casar, o empréstimo a pedir ao sogro para isso, quanto vai custar um filho, dois, três. Depois os juros do carro, da saída com os amigos, do ‘juro que não faço mais”. Termina quando a mulher descobre que se era para não ter dinheiro nem para fazer uma chapinha, não precisava ter casado com um cientista, e sim com um cabeleireiro. E, assim, fica explicado porque o amor tábua de logaritmos sempre começa no cálculo e termina com a tábua – na cabeça do marido.

5.O Amor Dízima Periódica.

É aquele que se arrasta, se arrasta... Já faz tanto tempo que ninguém sabe se ainda é amor. Na verdade, é mais costume que amor, e é justamente por isso que perdura. Nenhum dos dois (não são casados) tem coragem de se largar, não porque seja inebriante, mas por ser a rotina ainda possível. Cada um sabe de cor e salteado até os pensamentos do outro e, inclusive, suas fantasias sexuais, mas não têm coragem de desmascará-las porque também elas se repetem...Como uma dízima.

7. O Amor Noves Fora.

É aquele que só é jogado fora depois que um dos dois descobre os nove amantes do parceiro.

8. O Amor Matriz

É aquele que é a matriz de todos os males. Se tem dor de cabeça, é por causa do amor, se não come é por amor, se pegou o vírus da zica, idem. Às vezes a filha, de tão boazinha até antecipa: “Mãe, não vai dar para passar de ano” “Por causa de que filha?” “Por causa do amor”. “Seria bom se você tirasse zero em amor e dez em matemática”. “Mas matemática não me fez filho, mãe”

9. O Amor Infinito.

É aquele que só existe na poesia de Vinícius de Moraes, tanto assim que virou clichê “que seja infinito enquanto dure”. O pior é que os amores infinitos não chegam a durar, hoje, nem enquanto duros. Por segurança, é bom desconfiar: beijos em demasia e muito agarra-agarra para consumo público, o infinito é dos que não duram e o amor é daqueles em que só a efemeridade é infinita.

ewerton.neto@hotmail.com

http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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