Caso Vitória do Mearim

Governo admite erro e diz que vítimas de Vitória não eram envolvidas em crime

Jefferson Portela afirmou que o mecânico Irialdo Batalha foi morto barbaramente e seu colega, Diego Ferreira foi preso injustamente

Thiago Bastos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h58

O secretário Jefferson Portela, titular da Secretaria de Segurança Pública, admitiu ontem que a versão inicial divulgada pela própria pasta, que apontava ocorrência de assalto e troca de tiros no episódio de Vitória do Mearim e noticiada por meio de nota divulgada pela assessoria de comunicação do Governo do Maranhão, horas após o fato, está “descartada”. A declaração foi dada em entrevista coletiva realizada na manhã de ontem, durante a apresentação do vigilante e funcionário da Prefeitura de Vitória do Mearim, Luiz Carlos Machado de Almeida, acusado de atirar e matar o mecânico Irialdo Batalha, de 34 anos, quando este já estava no chão, baleado.

Segundo o secretário, testemunhas ouvidas durante a apuração dos fatos pela Delegacia de Homicídios, em Vitória do Mearim, garantem que “não houve troca de tiros” entre as vítimas, qualificadas inicialmente pela SSP como assaltantes, e os policiais militares. A versão contradiz o posicionamento inicial do governo inicialmente, quando informou, por meio de nota, que, “durante a operação policial, houve troca de tiros entre assaltantes e policiais e um dos suspeitos foi baleado”.

De acordo com Jefferson Portela, apesar da versão do vigilante, em depoimento à polícia, de que somente atirou pelo fato de o mecânico ter disparado em direção a ele, testemunhas ouvidas pela polícia na cidade de Vitória do Mearim teriam desmentido tal informação. “Não houve troca de tiros, apesar da versão do vigilante”, disse o secretário. Jefferson Portela admitiu ainda que até o momento não foi descoberto qualquer histórico de assalto envolvendo as vítimas. “O que há contra um deles é um caso anterior de resistência a ação da polícia. Eles não tinham histórico qualquer de roubo”, informou.

Um vídeo divulgado horas após o fato nas redes sociais também se contrapôs à versão inicial do governo, que informou que “o vigilante se aproximou do local e disparou contra o suspeito de praticar assalto, sem a presença dos policiais militares, que estavam em perseguição ao outro suspeito para efetuar sua prisão”. No vídeo, é possível observar o vigilante, juntamente com os policiais militares, carregando o corpo de Irialdo Batalha e o colocando na viatura da PM.

Após a divulgação do vídeo, a SSP divulgou outra nota, desmentindo a versão anterior. Segundo o documento, “a Polícia Militar instaurou processo administrativo para investigar a participação dos policiais militares, que, conforme mostram as imagens, deram cobertura para a prática criminosa e determinou apresentações imediatas ao Comando Geral da corporação”, admitindo a culpa dos policiais.

Entrevistado dias após o crime pela Rádio Mirante AM, o primo de Irialdo Batalha, Leonel Batalha, fez um apelo às autoridades, criticando a forma como o parente foi tratado. “Nós queremos justiça. Colocaram a foto do meu primo morto dizendo que dois assaltantes foram mortos porque estavam roubando em Vitória. Nós não somos ricos, somos criados com a educação de nunca mexer no que é alheio, e eu boto minha mão no fogo pela integridade dele”, disse.

Mais – Segundo a Secretaria de Segurança Pública, Diego Ferreira Geane Fernandes, a outra vítima do episódio de Vitória do Mearim, que conduzia a motocicleta, e também foi baleada e que estava sob a custódia da Justiça na delegacia de Viana, foi solto, já que a sua prisão equivocada por ser acusado de ser assaltante. O secretário confirmou ainda que o vigilante envolvido no caso alegou em depoimento que possuía a arma de fogo utilizada no crime há 15 anos. Ele também confirmou que as pistolas e submetralhadoras utilizadas na operação pelos policiais foram apreendidas e serão incluídas no inquérito, com base em laudo pericial.

Vigilante teria jogado arma, no Rio Mearim antes da fuga

De acordo com a polícia, a prisão do vigilante foi efetuada por volta das 20h de quarta-feira, 3, em uma quitinete localizada no bairro da Forquilha, em São Luís, após averiguações do Serviço de Inteligência (SI), com o apoio da 13ª Companhia de Viana. Segundo informações da Delegacia de Homicídios, após o episódio, o vigilante fugiu para o município de Arari e, de acordo com a versão do próprio suspeito, em depoimento prestado na noite de quarta-feira, 3, após ser apresentado no Plantão do Cohatrac, jogou o coturno, o colete e a arma no Rio Mearim. A cúpula da SSP não acredita nessa versão e vai continuar investigando. Luiz Carlos teria fugido para São Luís, onde permaneceu na quitinete que seria da mãe dele.

Segundo o delegado Jeffrey Furtado, responsável pelo inquérito, o vigilante em depoimento informou que a barreira no local foi montada devido à atitude suspeita das vítimas. Testemunhas afirmaram, após diligências de uma comissão de delegados em Vitória do Mearim, que a barreira teria sido montada próxima à entrada da cidade, sem qualquer razão aparente. “Neste caso, é este fato que teria provocado a passagem das vítimas com a moto.

O secretário titular da SSP, Jeferson Portela, informou que o vigilante Luiz Carlos Machado de Almeida responde, desde 2011, a outro processo por homicídio qualificado. Segundo informações da pasta, nesse ano, ele atirou contra uma pessoa, nome não revelado, após acompanhar uma operação policial no povoado Coque, em Vitória do Mearim. Na ocasião, o vigilante também estava acompanhado de dois policiais militares e teria revidado após intensa troca de tiros. “Este caso está na Justiça e vai se somar a este processo, referente a 2015”, informou o secretário.

A polícia, por meio do Comando da Polícia Militar do Maranhão (PMMA), confirmou ainda que em diversos municípios maranhenses, pessoas que deveriam apenas realizar serviços administrativos estão tendo poder de polícia em excesso, inclusive com uso de arma de fogo durante operações. “Isto será melhor averiguado e iniciaremos um processo de investigação neste sentido”, afirmou o comandante geral da PM, coronel Marco Antônio Alves.

Após a coletiva, o vigilante foi conduzido para o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, onde aguardará a resolução do processo, que deverá ser conduzido nos próximos dias pela comarca de Vitória do Mearim. Os dois policiais permanecem presos no presídio do quartel, no Calhau.

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