Irmão de PM morto por prefeito no MA afirma que o policial “perdeu a vida defendendo a sociedade”
Teófilo afirma que o irmão foi morto enquanto tentava proteger pessoas que estavam sendo incomodadas pela luz alta do carro do prefeito João Vitor Xavier, autor confesso dos disparos.
MARANHÃO - O policial militar Geidson Thiago da Silva Dos Santos, de 39 anos, que morreu ao ser atingido por disparos de arma de fogo durante uma vaquejada no município de Trizidela do Vale no último domingo (6), era conhecido entre os colegas de farda como “Dos Santos”, era casado, pai de dois filhos e muito querido dentro da corporação, é o que afirma Teófilo da Conceição Silva, irmão do PM.
Teófilo afirma que o irmão foi morto enquanto tentava proteger pessoas que estavam sendo incomodadas pela luz alta do carro do prefeito João Vitor Xavier, autor confesso dos disparos, durante o evento.
“No momento da situação, onde o prefeito assassinou ele, ele perdeu a vida defendendo a sociedade. Porque o prefeito jogou a luz alta [do carro] lá no pessoal que tava em uma mesa. E ele foi chamar a atenção do prefeito pedindo que abaixasse a luz, porque estava incomodando o pessoal. Ele perdeu a vida defendendo a sociedade, que era o que ele fazia de melhor”, relatou.
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Em entrevista ao portal g1 Maranhão, Teófilo falou com emoção sobre quem era seu irmão.
“O Thiago gostava muito de estar com a família e amigos. Jogava bola, corria comigo e sempre participava de eventos sociais. Ele só falava em investir nos estudos dos filhos”.
Teófilo contou também que, apesar de não ter seguido carreira como policial militar, foi a inspiração de Geidson. “Ele amava praticar esportes e ser policial militar. Eu já tinha passado no concurso para PM, e ele quis seguir o mesmo caminho”.
Sobre o dia do crime, Teófilo confirmou que o irmão havia consumido bebida alcoólica, mas negou que estivesse alterado. “Ele tinha consumido bebida alcoólica, mas não chegou a esse ponto de se alterar. Como tinha o dever de proteger a sociedade, se incomodou com essa situação [da luz alta] e foi chamar a atenção do prefeito. É o instinto policial de proteger as pessoas. Alterado mesmo quem estava era o prefeito”.
Durante o seu depoimento, o prefeito João Vitor Xavier confirmou o desentendimento com o policial e afirmou que Geidson estaria visivelmente embriagado. Também alegou que o PM teria mostrado uma arma para intimidá-lo. Teófilo rebate: “Mesmo que o Thiago tivesse exibido essa arma para ele, ainda assim não era motivo para fazer o que fez. A arma de fogo deve ser usada em último caso. Ele assassinou o Thiago de forma brutal, por um motivo fútil e sem dar chance de defesa”.
Além disso, Teófilo afirmou que o prefeito estaria tentando manchar a imagem do irmão. “Ele está usando sua força política e financeira para denegrir a imagem do meu irmão. Inclusive dando dinheiro para desafetos do Thiago postarem fake news. Tudo no intuito de destruir a imagem dele. Provavelmente essas ações estão sendo orientadas pelo advogado dele. Isso faz parte de uma estratégia de defesa".
Ele acrescenta que a família do prefeito tem histórico de comportamento violento. “Eles são conhecidos na região pelos atos de violência. Têm o costume de intimidar”, afirmou.
Por fim, Teófilo destaca o desejo da família por justiça, embora tema pela impunidade. “Eu espero que o Judiciário tome as medidas que o caso requer. Todavia, levando em consideração o poder aquisitivo e a influência política do assassino, tanto a família quanto os irmãos de farda estão com receio de que o autor consiga se safar.”
O crime
O crime aconteceu na noite de domingo (6), durante uma vaquejada em Trizidela do Vale (MA), quando João Vitor Xavier e o policial militar Geidson Thiago se desentenderam pelo fato de o PM ter pedido para João reduzir a luz dos faróis do carro porque estaria incomodando as pessoas no local.
Um dos vídeos obtidos pela polícia (veja abaixo) mostram um homem, que seria o prefeito, indo até um carro preto, onde parece pegar um objeto. Em seguida, ele anda em direção a um grupo de pessoas, onde há uma aglomeração e, por fim, corre de volta ao veículo e vai embora.
De acordo com o delegado de Pedreiras, Diego Maciel, as imagens são do local da vaquejada onde estavam o PM e o prefeito. As imagens não mostram o momento exato, mas a suspeita é de que o prefeito efetuou os disparos quando o policial virava as costas e depois fugiu. Segundo a polícia, as imagens ainda passarão por perícia.
"Foram cerca de cinco tiros. Provavelmente todos pelas costas", afirmou o delegado. Relatos de testemunhas também apontam que houve uma confusão no evento e o prefeito João Vitor Xavier teria sacado uma arma e efetuado disparos contra o policial "Dos Santos", que estava de folga.
Ainda segundo as informações, o PM chegou a ser socorrido e levado a um hospital em Pedreiras, mas devido à gravidade dos ferimentos, foi transferido para uma unidade com mais estrutura. No entanto, ele não resistiu e morreu durante o atendimento. O policial era lotado no 19º Batalhão de Polícia Militar. Ele foi sepultado nesta terça-feira (8).
O major Oliveira, subcomandante do 19º BPM de Pedreiras, lamentou a morte do soldado.
“O batalhão perde um trabalhador, um pai de família, um combatente que, como todos nós, cumpria o juramento de defender a sociedade, mesmo com o sacrifício da própria vida”, declarou.
O que diz a defesa do prefeito
Em nota, o escritório de advogados Daniel Leite & Advogados Associados informou que os fatos ainda estão na fase preliminar de apuração, sendo prematuro fazer qualquer juízo de valor. A defesa disse que o prefeito vai prestar os esclarecimentos assim que possível e que a defesa conheça o contexto do ocorrido.
Veja a nota de defesa do prefeito João Vitor Xavier:
"O escritório Daniel Leite & Advogados Associados, atuando na defesa do Prefeito João Vitor Xavier, por meio da presente nota vem esclarecer sobre as notícias relacionadas ao suposto ocorrido no Parque Maratá, em Trizidela do Vale, que os fatos ainda estão em fase preliminar de apuração, sendo prematuro qualquer juízo de valor neste momento, mesmo porque ao que tudo indica a dinâmica dos fatos requer maiores detalhes.
Informamos que o Prefeito João Vitor Xavier tem vida pregressa ilibada, e que prestará seus esclarecimentos assim que possível que sua defesa conheça todo o contexto do ocorrido.
Aproveitamos para manifestar a plena confiança nas instituições competentes, a saber as Polícias Civil e Militar, bem como no Judiciário maranhense, vigilantes quanto ao cumprimento das garantias constitucionais da ampla defesa, contraditório e do devido processo legal.
São Luís/MA, 07 de julho de 2025."
Quem é João Vitor Xavier?
Nascido em Ouricuri, em Pernambuco, João Vitor Xavier foi eleito pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) em 2024 como prefeito de Igarapé Grande, cidade a 365 km de São Luís. Ele foi eleito com 70,35% dos votos válidos, o que representa 4.987 votos.
Em 2024, João Vitor se declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como solteiro, com o Ensino Médio completo e tendo a ocupação de estudante/bolsista/estagiário. No documento, ele afirmou ter um patrimônio de R$ 550 mil que incluía uma caminhonete, uma casa e uma fazenda.
Entretanto, a vida na política começou ainda cedo para João Vitor. Aos 18 anos, ele foi eleito vereador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) como vereador de Bodocó, cidade no interior de Pernambuco.
Histórico familiar
NA ORDEM: Erlânio Xavier (tio de João Vitor); João Vitor (prefeito de Igarapé Grande) e Júnior Xavier (pai de João Vitor). (Foto: reprodução / redes sociais)
João Vitor Xavier é de uma família de políticos com atuação em duas cidades do Maranhão. O pai dele, Júnior Xavier, é o prefeito de Bernardo do Mearim (MA), cidade que fica apenas a 12,5 km de Igarapé Grande, município no qual ele é prefeito.
Já o tio de João Vitor, Erlânio Xavier, é empresário e ex-prefeito de Igarapé Grande. Além disso, ele também é ex-presidente da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM).
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