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Comemoramos mais uma Páscoa, momento central do cristianismo, porque a Ressurreição, já dizia São Paulo, é o elemento que justifica a nossa fé: “Sem a Ressurreição, é vã a nossa fé!”

José Linhares Jr

Atualizada em 02/04/2024 às 09h05

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Comemoramos mais uma Páscoa, momento central do cristianismo, porque a Ressurreição, já dizia São Paulo, é o elemento que justifica a nossa fé: “Sem a Ressurreição, é vã a nossa fé!” 

Madrugada ainda, nascido o Sol: assim registra Marcos o momento em que as Marias procuraram Jesus para completar os ritos do sepultamento que não haviam tido tempo de fazer na tarde da sexta-feira terrível. O Padre Vieira explicava que não havia contradição entre os dois termos, pois se era madrugada e ainda não era dia, já nascera o Sol, que era o Senhor Ressuscitado. 

Na antevéspera, ao aproximar-se a morte, Jesus mostrara sua humanidade e sua divindade ao perguntar ao Pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” — expressando assim a condição humana, mas, ao mesmo tempo, a resolução divina de aceitar a morte, de resistir à tentação de viver: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” E logo, conta João, afirma: “Tudo está consumado.” 

Estava consumado o sacrifício pascal — que fora preparado desde o dia em que Issac deitou-se no altar sob a mão de Abraão e o anjo mandou substituí-lo por um cordeiro, desde que o sacrifício do cordeiro imaculado previne no Egito a espada do anjo, desde o dia em que Simeão tomou o menino nos braços e disse a Maria que “uma espada traspassará tua própria alma” —, isto é, a Sua imolação como Cordeiro de Deus em lugar da Humanidade. 

Resta, para completar a nossa redenção, a Ressurreição. Esta não se faz como um espetáculo, com Ele saindo do túmulo como se fosse um “deus ex machina” (os atores representando deuses que surgiam suspensos por gruas nos teatros gregos); acontece como um desaparecimento, marcado apenas pela presença de um anjo — ou dois, segundo Lucas — para avisar: “Ressuscitou, não está aqui!”, às Marias. 

Ao se referir à descrença na Ressurreição, S. Paulo podia ter dito o contrário, que nossa fé encontra seu completo significado na Ressurreição. Porque nossa fé é um movimento do Amor de que Jesus Cristo é a expressão integral, pois se estende em plenitude, sem limites, a todo o Universo. Nós acreditamos que Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” que Ele é “a Luz do Mundo”.

A fé não é um resultado da razão, mas fruto da graça divina. Não deve ser objeto de proselitismo, mas virá naturalmente, por atração natural. Aquele mesmo anjo que está posto diante do túmulo vazio, diante dos tecidos que envolviam o Corpo Santo e se encontram dobrados para avisar “ressuscitou” “como lhes dissera na Galileia”, “não está aqui”, indaga: “Por que procurais o Vivo entre os mortos?” 

Jesus estava e está vivo. A Ressurreição trouxe dois estados contraditórios, em que, como afirmamos no Credo, cremos: a “ressurreição da carne” e a “vida eterna”. Contraditórios porque, como sustentava Miguel de Unamuno, a carne é efêmera, em constante transformação, na carne fomos criança, jovem, adulto, velho; e a eternidade é constante, infinita, irretocável. Mas o mistério da conciliação dos dois estados não é nada comparado com o da Encarnação, com o da Paixão, com o da Ressurreição. 

A fé aceita todos os mistérios. Eles a fortalecem, pois é frágil o que é evidente, seja no testemunho ocular — sabemos como a memória nos trai a todo instante —, seja na demonstração lógica — que sabemos limitada pelas circunstâncias. O absoluto, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, está no coração de quem tem fé. 

A fé nos coloca diante de desafios, como os que levaram Jó a exclamar: “De pele e carne me vestiste!”, e nos faz aceitar, sem uma pedra em cada mão, as tragédias que se espalham pelo mundo, até mesmo na Palestina: “Terra onde corre leite e mel.” 

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