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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A falta de energia provoca mortes?

Falamos sobre a teoria de que a falta de energia teria sido utilizada como arma de guerra.

Allan Kardec

Atualizada em 29/08/2023 às 15h51
 
 

Embora o Produto Interno Bruto (PIB) seja amplamente utilizado como um indicador da atividade econômica, ele não é uma medida tão abrangente do ponto de vista do bem-estar econômico. Isso ocorre porque os países podem estimar o PIB de maneira imprecisa ou enviesada, não considerando, por exemplo, os lucros das empresas multinacionais, o impacto da economia digital e as atividades informais.

Uma abordagem alternativa que estudiosos da área utilizam para estimar o crescimento de um país é através da quantidade de eletricidade produzida, que é uma medida indireta da demanda e consumo de energia de uma economia. No entanto, o armazenamento de eletricidade é caro, o que pode resultar em preços mais altos da eletricidade.

Uma medida interessante do uso da energia de uma economia é a relação entre o consumo de energia em toneladas equivalentes de petróleo per capita. Quanto maior for esse indicador, mais eficiente é o uso de energia pelo país, tornando-o mais competitivo. A figura abaixo mostra claramente essa relação para diversos países.

 
 

A produção e o consumo de energia interagem com o PIB, uma vez que a energia impulsiona o desenvolvimento econômico e social, enquanto o crescimento do PIB aumenta a demanda por energia. Estudos realizados ao longo das últimas décadas têm demonstrado a forte relação entre essas duas variáveis.

Para além desses estudos, a revista The Economist trouxe uma abordagem nova em artigo recente, afirmando que uma energia cara pode ter matado mais que a Covid na Europa. Ela utilizou um método de avaliação da mortalidade para comparar os óbitos deste ano com o inverno anterior. Essa medida é conhecida como “excesso de mortalidade”. Ao comparar o número real com o esperado, com base na mortalidade nas mesmas semanas entre 2015 e 2019, ela concluiu que houve um incremento de óbitos na Europa. 

Diversos fatores podem explicar esse aumento. Entre as mortes registradas no último inverno, quase 60 mil foram atribuídas à Covid-19. Embora a pandemia tenha provavelmente contribuído para o aumento, é improvável que seja responsável por todo o incremento observado. 

O clima também exerceu influência nesse cenário. Uma onda de frio em dezembro coincidiu com um aumento na mortalidade. Estima-se que uma diminuição de 1°C na temperatura média ao longo de três semanas esteja associada a um aumento de 2,2% no número total de óbitos. No entanto, o inverno passado foi mais ameno do que a média registrada entre 2015 e 2019, o que significa que o frio sozinho não pode ser responsabilizado pelas mortes adicionais.

Ao final, a revista afirma que é provável que os altos preços da energia também tenham desempenhado um papel preponderante nesse cenário. Ao analisar os países individualmente, ela mostrou que que aqueles com maior número de excesso de mortes experimentaram aumentos significativos nos custos dos combustíveis. 

Para o estudo, a revista utilizou um modelo estatístico. Esse modelo considerou também fatores demográficos, o número de óbitos por Covid-19 antes do último inverno e a subnotificação.

De acordo com a estimativa da revista, um incremento de aproximadamente 10 centavos de euros por quilowatt-hora está relacionado a um aumento de cerca de 2,2% na mortalidade semanal de um país. Se o custo da eletricidade tivesse permanecido o mesmo que em 2020, o modelo da Economist indica que haveria 68 mil mortes a menos na Europa. Ou seja, a energia – ou a falta dela – teria sido utilizada como arma na guerra Rússia X Ucrânia.

Neste momento, o grande debate do Brasil é sobre energia X pobreza. A região do Arco Norte, ou seja, todo o Brasil acima de Brasília luta por poder explorar de forma sustentável suas riquezas. Fui no belo Amapá, onde os locais me informaram que 60% da população vive de auxílios. Ou seja, é pobre. O Maranhão, o Pará, o Piauí, o Ceará e o Rio Grande do Norte tampouco fogem a essa regra.

Me ocorreu perguntar: os óbitos causados pela falta de energia só afetam os europeus ou será que nós, do Norte e Nordeste também poderíamos ser incluídos nessa equação? Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se tivéssemos tido investimentos em energia para o nosso povo?

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