O tempo do cérebro
Estudos mostram que a nossa percepção de tempo depende do que olhamos.
"O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu" é um livro fascinante escrito por Oliver Sacks, conhecido por suas narrativas detalhadas sobre pacientes com distúrbios neurológicos incomuns. O título do livro é derivado de um dos casos mais memoráveis, onde um paciente com agnosia visual confunde sua esposa com um chapéu. Este caso destaca a estranheza e a intrigante natureza das disfunções cerebrais.
O cérebro é talvez a incógnita científica mais desafiadora dos próximos séculos! Por exemplo, a sensação de o tempo voar quando você está se divertindo reflete uma verdade científica: nossa percepção do tempo realmente se expande e se contrai com base em como experienciamos o mundo ao nosso redor. Essas flutuações temporais estão profundamente ligadas à psicologia perceptiva.
Você sabia que olhar para objetos vermelhos faz o tempo passar mais lentamente do que olhar para objetos azuis? Esse efeito de desaceleração também ocorre ao observar objetos maiores e mais brilhantes ou rostos mais emotivos.
Estudos científicos recentes oferecem insights fascinantes sobre como o cérebro percebe o tempo, revelando que nosso senso de tempo é influenciado por uma complexa interação de regiões cerebrais em vez de um único "centro de tempo".
Ao longo da história, diversos filósofos se dedicaram a estudar e a escrever sobre o conceito de tempo, explorando suas implicações metafísicas, existenciais e práticas. Aristóteles definiu o tempo como o número do movimento em relação ao antes e ao depois. Já Santo Agostinho – que inspirou o quase maranhense Padre Antônio Vieira, especialmente no Livro XI, reflete profundamente sobre o tempo, questionando sua natureza e como ele é percebido e medido.
Kant argumenta que o tempo não é algo que exista independentemente ou que possa ser observado fora de nós. Isso deu pano pra manga para as discussões filosóficas de Einstein e as implicações de sua “Teoria da Relatividade”.
Mais recentemente, estudos mostraram que a percepção do tempo do nosso cérebro pode ser modulada por vários fatores, como emoções, atenção e até mesmo a natureza das tarefas que estamos executando. Por exemplo, tarefas envolventes podem fazer com que o tempo pareça passar mais rapidamente, enquanto períodos de tédio ou ansiedade podem fazê-lo se arrastar.
Ou seja, aquela sensação de que o tempo voa quando você está se divertindo ou de que a viagem nunca acaba refletem uma verdade científica: nossa percepção do tempo realmente se expande e se contrai com base em como experienciamos o mundo ao nosso redor. Essas flutuações temporais estão profundamente ligadas à psicologia perceptiva.
Imagens também podem afetar nossa percepção do tempo de maneiras intrigantes. Cientistas da Universidade de George Mason, EUA, mostraram recentemente que, quando vemos imagens memoráveis, nosso cérebro as processa de forma mais eficiente, levando a uma sensação de dilatação do tempo.
As pesquisas também mostraram que imagens mais memoráveis parecem durar mais tempo quando visualizadas, e essas imagens também são mais propensas a serem lembradas mais tarde. A memorabilidade inata de uma imagem, juntamente com certas características visuais, como tamanho da cena e desordem, pode afetar nosso senso subjetivo de tempo.
Talvez seja por isso que os mestres de Yoga recomendem focar em uma imagem como, por exemplo, desenhar um rosto que você ama ou uma flor. Ela reforça a dilatação do tempo e acalma, reorganizando seu cérebro em uma época de estresse e ansiedade. Talvez também seja por essa razão que eles recomendam que você medite pelo menos 20 minutos por dia, mas se estiver muito ocupado, que o faça por uma hora!
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
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