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COLUNA

Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
EUGES LIMA

O relatório de Simplício Dias

Esse documento, a priori, demonstra a intensa relação comercial entre Piauí e Maranhão ocorridas nesses primeiros decênios do século XIX, tendo a região de Tutóia como ponto de passagem e ligação desse comércio entre essas duas províncias.

EUGES LIMA

Atualizada em 02/05/2023 às 23h50
Euges Lima é historiador
Euges Lima é historiador (Ipolítica)

No final de 2020, foi leiloado em São Paulo, um documento histórico relativo à história do Piauí e do Maranhão. Trata-se de um Relatório de 1816, enviado pelo comandante do destacamento da Vila de São João da Parnaíba (Parnaíba-PI), Simplício Dias da Silva (1773/1829) para o governador do Piauí, Baltazar de Souza Botelho de Vasconcelos, prestando contas de vários acontecimentos que ocorreram no mês de maio desse ano na sua jurisdição.

Pois bem, entre esses acontecimentos de 1816, entre Piauí e Maranhão, destacamos os seguintes: no dia 9 de maio, passagem da Sumaca Alexandria pela Barra da Tutóia, carregada de algodão, couro e sola, com destino ao Maranhão. Nos dias 14 e 17 de maio, saíram mais uma vez pela Barra da Tutóia, a Escuna Glória das Virgens, Barca Flor d’América e a Sumaca Santa Rosa, todas para o Maranhão, vindas de Parnaíba, carregados de couro, carnes, solas e algodão.

Esse documento, a priori, demonstra a intensa relação comercial entre Piauí e Maranhão ocorridas nesses primeiros decênios do século XIX, tendo a região de Tutóia como ponto de passagem e ligação desse comércio entre essas duas províncias. Tal relatório identifica também, quais produtos eram comercializados nesse período. A proposito, esse comércio entre Parnaíba e Maranhão se manteve ativo durante todo o século XIX e boa parte do século passado.

Simplício Dias era de família abastada e influente de Parnaíba. É figura controvertida e histórica dessa cidade. Teve participação ativa nas lutas de Independência do Brasil no Piauí. 

Ainda nesse documento, é relatado que no dia 25 de maio de 1816, foram enforcados na Vila de Parnaíba, três escravos seus, que se encontravam presos a ferros, por motivos de desordens. Veja a transcrição do relatório mencionado em escrita de época: "Tenho a onrra de fazer a Vsa. Exa. partecipante dos acontecimentos do próximo passado mez. No dia 3 sahio a Sumaca Alexandria pela Barra da Totoia carregada de Algodão, Coiros e Sola para Maranhão. A 9 chegou nesta Vila o Ajudante d´Ordens Luiz Pereira Serrão com um Cabo de Esquadra em deligencia do Real Serviço. A 14 sahirão pela Barra da Totoia a Escuna Gloria das Virgens, e Barca Flor d´America, e a 17 a Sumaca Sta. Roza todas para Maranhão, e carregadas de Coiros, Carnes, Sola, e sacas de Algodão. A 25 ENFORCARÃO-SE 3 ESCRAVOS MEUS QUE SE ACHAVÃO A FERROS, por desordens que tinhão cometido, de cujo facto Requeri ao Desembargador Juiz de Fora mandandosse fazer Vistoria perante muitas Testemunhas, o que presenciou o mencionado Ajudante d´Ordens. No dia 25 deu huma facada o Carpinteiro Antonio Marques na barriga de hum Alfaiate Manoel Joze, ambos moradores na Povoção da Piracuruca e foi logo prezo o dito Marques e entregue ao Vintessario (??). Sendo quanto aconteceu no Destricto q Comando, digno de levar a Respeitavel presença de Vsa. Exa. q Deos Guarde. Quartel da Parnaiba 1 de Junho de 1816. Illustrissimo Senhor Governador Balthazar de Souza Botelho de Vasconcellos. De Vsa. Exa. Leal e obediente súdito, Simplício Dias da Silva. Coronel Comandante.”

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