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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

O DNA do espaço

Breves reflexões sobre o nosso Universo.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

Está ocorrendo atualmente uma verdadeira revolução nas técnicas disponíveis para o estudo do cérebro e, consequentemente, do sistema nervoso, com profundas implicações para a saúde, educação, e a indústria. Entender como o cérebro funciona é um dos principais desafios da ciência atual.

Em nosso laboratório, alunos e professores trabalham com técnicas que podem revelar detalhes surpreendentes do funcionamento neural por meio de técnicas de imagens. Algumas delas são, por exemplo, tomografia por meio de emissão de pósitrons, ressonância magnética funcional, além de registros com os eletroencefalógrafos e magnetoencefalógrafos.

Nosso questionamento é que, embora muito se saiba sobre as propriedades fisiológicas do cérebro, um dos maiores problemas tem sido descobrir como os neurônios se comunicam. Ou seja, tentamos entender os códigos utilizados pelo sistema nervoso para converter estímulos do ambiente em percepções, como ao olhar a beleza do brotar de uma semente ou, em outro sentido, como transformamos motivações internas em ações, tal como pular para defender um pênalti.

Como outros pesquisadores, começamos com a ideia simples de que os circuitos neuronais podem ser considerados o hardware cerebral. A partir daí, fazemos algumas perguntas: seria possível ter acesso ao seu software, à programação? Ou seja, como os códigos do cérebro são escritos? Quais os tipos de codificação usada? E, mais importante, por que ela é utilizada? Se existem esses códigos, onde eles acontecem? E, por fim, a pergunta essencial: podemos fazer uso dos mesmos para propor novas técnicas que diminuam o sofrimento de pacientes?

Você já deve ter percebido que estou falando de mensagens que são trocadas entre neurônios. Para isso são necessárias formas de comunicação e, obviamente, uma “língua”, ou seja, um tipo de código para que um entenda o outro, para que nosso cérebro funcione e possamos ser, enfim, o que nós somos.

A neurociência na área de processamento neural tem tido um grande destaque para responder às perguntas acima. A neurociência computacional, por exemplo, tem sido bastante atuante no processamento de informação do sistema visuais, do auditivo ou olfativo. O resultado todos conhecemos: está em nosso celular, no dia a dia, na forma como escutamos músicas ou vemos imagens.

Deixe-me tentar explicar. Um exemplo típico é o do desenvolvimento da plataforma MP3 ou a sua versão mais nova, MP4, largamente utilizadas no mundo hoje. A compressão MP3, como se sabe, faz com que uma música ocupe até 20% do seu tamanho original. Isso só ocorreu porque se compreendeu como o sistema auditivo humano codifica as informações sonoras que lá chegam. O mesmo ocorre quando visualizamos um arquivo de imagem em formato JPG: os cientistas só entregam aos nossos cérebros o que somos capazes de perceber...!

Sempre mostro aos meus alunos a revolução que foi, ainda na década de 1970, o que conseguiu o meu coorientador de doutorado, Fumitada Itakura, da Universidade de Nagoya. Ele entendeu como a fala humana é feita, ou melhor, codificada, a partir do formato da boca, dentes, língua e as cordas vocais, e propôs um sistema que hoje é utilizado no planeta inteiro para comunicação e troca de mensagens de voz. Mostro abaixo um pequeno vídeo que utiliza o sistema dele.

Uma outra forma de código bem conhecida é feita pelo nosso DNA. Aquela belíssima estrutura em forma de hélice é o que nos faz seres viventes – tanto humanos quanto animais. A molécula gera, ou melhor, sintetiza proteínas que circulam em nosso corpo e são basicamente as cartas que são trocadas intensamente entre células e nos fazem ter vida.

A solução do DNA é tão espetacular que ele é entendido como a base de nossa vida. E aqui chegamos onde eu gostaria de chegar... Pois bem, quando os pesquisadores e cientistas procuram vida no resto de nosso universo, eles buscam por vidas similares à nossa. Eu sempre me questionei do porquê disso, com a velha molécula helicoidal. Mas isso me lembra, de certa forma, o ditado britânico “se você só tem um martelo, tudo vai lhe parecer prego”.

Talvez esses pensamentos sejam um pouco heréticos para muita gente. Mas não estou sozinho. Sarah Johnson, no livro “The Sirens of Mars” explora justamente essa ideia. Em suas páginas, ela analisa a ideia de que outros planetas seriam realmente outros planetas e, portanto, seus habitantes poderiam ser muito diferentes, em um nível fundamental e químico, de qualquer coisa neste mundo. “Mesmo lugares que parecem familiares – como Marte, um lugar que achamos que conhecemos intimamente – podem nos confundir completamente”, diz ela. “E se esse for o caso para toda a vida?”

Continuando a heresia, eu perguntaria porque em planetas como Saturno ou Júpiter, que são basicamente feitos de gases, buscaríamos vida baseadas em DNA? Einstein uma vez afirmou que Deus não joga dados com o Universo. Eu perguntaria a você: Por que Deus seria tão pouco criativo, e Ele repetiria, em um universo de bilhões de galáxias e trilhões de planetas, a mesma estrutura, o mesmo conceito?

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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