Habemus gás
As vantagens do gás natural e o seu papel no Maranhão hoje.
Desculpe a brincadeira. Mas foi quase inevitável lembrar da fumaça branca na chaminé do Vaticano anunciando “Habemus papam”, ou que há um novo papa eleito – temos papa! O fato é que o Maranhão vai consolidando suas vocações e hoje falaremos delas, principalmente a energética.
Mas vou começar pela viagem que fizemos à cidade de Wuhan, na China. O ônibus cheio de empresários maranhenses e dirigentes do setor público e privado, liderados pelo Governador Carlos Brandão. Um dos chineses que nos acompanhava virou e disse: “olhe para qualquer lugar e você verá construções”. Estupefatos, vimos construções e mais construções, até onde a vista alcançava! A China é hoje uma máquina de desenvolvimento.
Quando me convidou para presidir a Companhia Maranhense de Gás – Gasmar – o governador fez questão de relembrar o contexto internacional que vivemos e aquele episódio. “Precisamos juntar nossa inteligência e expertise e transformar em benefícios para o povo”. A China há alguns anos era um país pobre. Hoje revoluciona o mundo com a Rota da Seda, ou iniciativas em inteligência artificial em gestão, por exemplo.
O fato extraordinário é que a Eneva anunciou na última quarta-feira que fechou com a Suzano um acordo para fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) para instalações industriais da empresa, que processa papel e celulose em Imperatriz, no Maranhão. O investimento será de R$ 530 milhões, destinado majoritariamente para atender a Suzano e potenciais clientes na região.
O GNL sairá da Bacia do Parnaíba, onde será instalada uma unidade de liquefação de gás natural com capacidade de 300 mil metros cúbicos por dia. Era a notícia que os maranhenses esperávamos por vários anos! Porque viabiliza definitivamente o que aguardamos, cobramos e pedimos: o gás veicular.
Importante falar que o GNL vai atender à demanda da fábrica de celulose da Suzano em Imperatriz, especialmente para queima em fornos de cal, em substituição ao óleo combustível, atualmente em uso. O que significa isso? Porque a Suzano faz esse movimento?
Ora, porque o gás natural é mais limpo que o diesel! Tanto que a União Europeia vai incluir o gás natural no sistema de rotulagem “verde” da Comissão Europeia. A combustão de GNL processado em equipamentos adequados é praticamente isenta de poluentes como óxidos de enxofre, partículas sólidas e outros produtos tóxicos. Ele é reconhecido como o maior vetor para a famosa transição energética. É a transição da transição.
Por exemplo, um estudo da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (Poli-USP) mostrou que a substituição de diesel por gás natural no transporte de caminhões traria economia de 60% e diminuiria as emissões de gases de efeito estufa. Segundo o professor Pedro Gerber Machado, “dentro do melhor cenário, o uso de GNL reduziria os custos de combustível em até 40%; materiais particulados em 88%; óxidos de nitrogênio (NOx) em 75% e eliminariam as emissões de hidrocarbonetos “.
Só isso? Não. O gás natural é mais barato! O preço caiu extraordinariamente na última década. Quem não lembra das crises de petróleo em 2008, em que o barril caiu para abaixo de US$ 30 dólares? Lembremos que hoje está mais de US$ 100 dólares! Na minha visão, era o movimento internacional contra a novidade que estava aparecendo nos EUA: o gás de folhelho.
Com tecnologia e uma rede estruturada de gasodutos, os Estados Unidos derrubavam o preço do gás internacionalmente. O resto a gente sabe: os EUA se tornaram o maior produtor de petróleo do mundo e um dos maiores de gás. Tanto que nos vende diesel via Porto do Itaqui. Muito diesel!
O gás natural possibilita uma combustão com elevado rendimento térmico, pelo controle e regulagem da chama. É o que possibilita reduções no consumo de energia na indústria, no comércio ou em residências. Por isso a utilização do gás em várias indústrias contribui para o aumento da qualidade e da competitividade desses produtos.
Quando fomos jantar outro dia com os dois diretores da Gasmar, Fabio Amorim e Paulo Guardado, chamei nossa amiga e garçonete Ellen, para repetir o que ela tinha me dito há uma semana. “Tragam o gás veicular! O povo não aguenta o preço da gasolina hoje!”
Agora conseguimos a estrutura necessária para termos o gás veicular. Temos um grande consumidor de gás natural – e com possibilidade de incluirmos outro nos próximos dias. O movimento que fizemos se chama de “ancoragem”: você coloca um serviço de interesse social do Estado do Maranhão ancorado em outro de interesse industrial.
Agora, é organizar e trabalhar muito para que aconteça o mais rápido possível – essa é a determinação do Governador Brandão. Avançaremos! Estamos construindo um Maranhão melhor, mais limpo e, ao mesmo tempo, aumentando os negócios, gerando emprego e renda para a sua população.
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
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