Coluna

Uma perda irreparável

Joaquim Haickel

Atualizada em 26/03/2022 às 18h56
Joaquim Haickel fala do amigo Luiz Phelipe Andrés
Joaquim Haickel fala do amigo Luiz Phelipe Andrés (Divulgação)

Imagine uma pessoa boa, sem maldade, sem malícia, uma pessoa pura. Imagine um homem sem vaidade, sem ambição pessoal, uma pessoa simples. Imagine alguém econômica e financeiramente pobre e ao mesmo tempo dono de uma riqueza de espirito extraordinária, alguém que amealhou uma fortuna imensa, contabilizada em respeito, gratidão e amizade. Imagine uma pessoa simples, um amigo leal, um companheiro de jornada, alguém sempre alegre e disposto a ajudar a todos.

Se você está imaginando uma outra pessoa que não seja Luiz Phelipe Andrés, você está redondamente equivocado. Não que que não haja mais alguém neste mundo que tenha exatamente essas características. É difícil, até pode haver, mas eu não conheço nem tenho notícia. Alguém assim, como eu disse, só conhecia Luiz Phelipe. Eu disse conhecia, pois ele, para nossa tristeza e infelicidade, faleceu no final da noite do dia quatro de dezembro deste maldito ano de 2021.

Minha primeira reação, quando soube da notícia da morte de Phelipe, foi blasfemar, e blasfemei e não tive medo da ira de Deus, pois sei que ele, em sua imensa bondade e sabedoria, sabe perdoar humanos pecadores como eu, ainda mais quando o pecado que eu possa ter cometido ao blasfemar, seja totalmente justificado e perdoável. Blasfemei pelo fato de pessoas de bem e do bem, pessoas boas como Phelipe nos deixarem, enquanto outras, más e do mal, ainda permanecerem por aqui.

Não vou colocar aqui, neste momento, o vasto e rico currículo de Luiz Phelipe Andrés, farei um resumo dele ao final deste texto. O que vou dizer aqui é que ele foi um dos maiores responsáveis pela restauração do centro histórico de São Luís, que se São Luís é hoje reconhecida como patrimônio da humanidade, deve muito a ele. Só vou dizer que desde que veio morar aqui sempre lutou em defesa da nossa cultura.

Luiz Phelipe é um daqueles. que não tendo nascido em nossa cidade, tornam-se mais apaixonados por ela que muitos de sus filhos legítimos. Luiz Phelipe era um desses filhos de criação que honram a mãe mais que muitos daqueles que saltaram de seu ventre. Uma mãe que hoje chora sua perda, assim como nós seus amigos choramos pela falta que ele nos fará, pelo buraco que sua ausência abre em nossas vidas, um buraco muito difícil de ser tapado.

Poucas pessoas nos dias de hoje, em nossa cidade, merecem ter seus nomes em logradouros públicos e nenhuma dessas poucas pessoas merecem mais que Luiz Phelipe Andrés ser nome de uma praça, para que daqui a alguns anos, quem sabe, um grupo de estudantes ou mesmo alguns turistas perguntem para a professora ou para o guia, quem foi esse tal Luiz Phelipe, e eles possam responder, foi um mineiro que morou mais tempo aqui que em sua terra e amou mais essa cidade que a cidade em que nasceu, tento ajudado a restaurar seu centro histórico e fazê-lo patrimônio da humanidade.

Nos últimos anos Phelipe vinha se dedicando ao Estaleiro Escola, empreendimento o qual eu vi, diversas vezes, ele tirar dinheiro do próprio bolso para que nada faltasse lá.

Quem o conhecia sabia de sua paixão por embarcações. Foi por essa paixão que ele me levou para ser coprodutor de um filme maravilhoso, “O império de um navegador”, onde documentamos a lida de “seu” Silicrim, um velho amigo de Phelipe, que uma hora dessas está recebendo-o em sua majestosa embarcação, lá no céu.

Fico imaginando se esse amor por barcos, não faria com que Phelipe, ao invés de ser enterrado, não preferisse uma cerimónia funerária viking, onde seu corpo saísse do Estaleiro Escola, lá no Tamancão, singrasse o rio Bacanga e fosse para baia de São Marcos, em chamas, rumo ao Valhala.

Avé, Luiz Phelipe!... Os que vão continuar por aqui, te saúdam, mesmo estando mais pobres com tua ausência...

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