SÃO LUÍS – O dia 14 de fevereiro de 2020 não sai da memória de Carla Mota Belfort ou Carla Coreira como é mais conhecida. A produtora cultural ludovicense, que cresceu no bairro do Coroadinho, relembra o episódio em que sofreu um ataque racista na porta de um restaurante, no Centro Histórico de São Luís.
Ela relata ao Imirante.com que estava caminhando com uma amiga, que parou no restaurante Flor de Vinagreira para utilizar o banheiro. Ficando na porta do estabelecimento, Carla acabou avistando um amigo, que estava no restaurante. Os dois conversavam quando o segurança do local se aproximou.
“Chegou o segurança me olhando dos pés à cabeça, virou para o meu amigo e perguntou: ‘Dr., ela ‘tá’ lhe incomodando em alguma coisa?’. Eu me senti tão ofendida, eu me senti tão pequena nessa hora que eu resolvi denunciar”, recorda-se Carla daquele momento que deixou uma dor profunda.
“No quintal da minha casa aqui no Centro Histórico, onde já se viu uma coisa dessa? Eu fiquei muito sentida e ‘tô’ machucada até hoje. Só sabe o que é o racismo quem sente e quem sofre”, completa.
Chegou o segurança me olhando dos pés à cabeça, virou para o meu amigo e perguntou: ‘Dr., ela ‘tá’ lhe incomodando em alguma coisa?’. Eu me senti tão ofendida, eu me senti tão pequena.Relato de Carla Coreira sobre episódio de racismo.
Resposta do restaurante
Após a repercussão do caso, o proprietário do restaurante Flor de Vinagreira, publicou um vídeo afirmando que as atividades do estabelecimento são pautadas em padrões morais e éticos e negou a ocorrência de práticas de racismo no local.
“Eu denunciei sobre injúria racial. Fizemos o boletim de ocorrência e o processo está andando”, conta Carla, que nunca tinha sofrido um ataque tão brutal em sua cidade natal, nem em qualquer outro lugar do Brasil que já visitou.
Quem é Carla Coreira
Coreira é como se chama a dançarina do Tambor de Crioula, expressão cultural de matriz afro-brasileira, típica do Maranhão, que ecoa nos espaços da cidade o ano inteiro. Carla dá aulas sobre Tambor de Crioula, no projeto Mulheres que Dão no Couro, na Capelinha São Benedito, na praça da Faustina, no Centro. Daí o nome Carla Coreira.
Toda quarta-feira, antes da pandemia do novo coronavírus, ela ministrava oficinas a outras mulheres. Ela ensina a dançar, cantar, tocar, fazer fogueira, afinar tambor, tudo relacionado ao Tambor de Crioula. “Vivo de arte, de cultura popular”, afirma.
A produtora cultural mora sozinha há seis anos em uma casa alugada no Centro Histórico de São Luís. Filha da Mestra Roxa, figura importante do cenário cultural maranhense, Carla herdou da mãe a paixão e o talento para manifestações populares da cultura local.
Vivo de arte, de cultura popular.Produtora cultural Carla Coreira
“Quando eu ‘tô’ no meio ‘dum’ Bumba Meu Boi, especialmente do sotaque de matraca, eu esqueço tudo. Eu amo de paixão. Eu resolvi ganhar dinheiro com Tambor de Crioula. A cultura popular para mim representar coisas boas, positivas. Eu amo tudo e sou super apaixonada. Esse ano sem o São João... Meu Deus do céu, como assim sem o São João?”, lamenta a suspensão das festas juninas em razão da pandemia.
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