Namoro virtual

Às vésperas do Dia dos Namorados, Orkut vira 'Google do amor'

Rede social mais popular do país banca 'cupido' e junta casais cibernéticos. Solteiros podem usar o site para ter companhia no Dia dos Namorados.

Mylène Neno/ G1

Atualizada em 27/03/2022 às 13h16

RIO DE JANEIRO - Um em cada cinco internautas flerta on-line, de acordo com a recente pesquisa mundial Norton Online Living Report. Fazendo jus à fama de 'calientes', os brasileiros são ainda mais diretos: aqui um em cada três paquera na web. E com a proximidade do Dia dos Namorados, muitos solteiros podem começar a intensificar suas investidas para tentar chegar ao dia 12 acompanhados. Até porque são cada vez mais comuns histórias de relacionamentos amorosos iniciados nas movimentadas redes sociais, e não apenas nos “tradicionais” sites de namoro.

De acordo com Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), isso acontece porque as pessoas já conhecem as facilidades e os benefícios da internet como ferramenta de busca. “Esses sites de relacionamento passam a ser uma espécie de Google mesmo, só que para encontrar alguém”, compara. “Ao aplicar um filtro e passar pelo banco de dados, em tese, a pessoa vai encontrar o que procura”.

Foi assim com a artista plástica Clarissa Campello, de 30 anos, que iniciou uma paquera por scraps no Orkut, em uma comunidade sobre festas para "meninas que gostam de meninas". “A internet ajudou muita gente a ‘sair do armário’. Como eu não conhecia nenhuma lésbica, tinha vergonha de procurar boates ou ir sozinha. E poder ver as comunidades ajuda bastante para saber se temos algo em comum”, diz.

Clarissa e Lady se encontraram em comunidade voltada para 'meninas que gostam de meninas'. (Foto: Arquivo pessoal)

Com essa “análise” do perfil, ela encontrou muitas afinidades com a historiadora da arte Leidiane Carvalho, 26. E deu tão certo que as duas comemoram um ano de namoro esse mês. “Estamos casadas desde setembro”, conta Clarissa, revelando que “até o pedido foi por SMS”.

Já com o músico Rafael Brandão, 43, e a publicitária Priscilla Vianney, 30, (foto principal) essa descoberta foi diferente. Eles nunca acreditaram nesse tipo de relacionamento pela internet até iniciarem um namoro de um ano, totalmente virtual. Morando em Portugal, Rafael foi apresentado à Priscilla, que vivia em Belo Horizonte, pelo Orkut, por uma prima dele e melhor amiga de Priscilla.

“Depois do Orkut, passamos para o MSN escrito, depois falado e com webcam, até chegarmos ao Skype, o programa mais usado por nós durante todo o ano de 2007. Nos falávamos todos os dias”, conta Rafael. “Fomos nos conhecendo a cada dia um pouco mais, trocando ideias e traçando planos, como se fôssemos mesmo namorados, não só virtuais, mas de verdade mesmo”.

Dúvidas

Mas esse relacionamento “incomum” acabou gerando alguns constrangimentos, com dúvidas e brincadeiras de amigos de ambos sobre a veracidade da história. “O mais difícil de tudo, além da distância, foi convencer as pessoas, família e amigos que era sério, que duas pessoas que nunca se viram antes estavam realmente apaixonadas e tinham planos de viverem juntas”, admite o músico, que, para evitar maiores desgastes, só contou o que estava acontecendo de fato para a família e amigos mais chegados.

Um ano depois do primeiro contato pelo Orkut, Rafael e Priscilla finalmente se conheceram pessoalmente. Eles se casaram no Brasil em abril do ano passado e foram morar em Lisboa (Portugal), onde vivem atualmente, na companhia da primeira filha do casal, Beatriz.

A advogada Patricia Antonucci, 29, e o estudante de História Davi Campino, 27, também se encontraram graças ao Orkut. Fãs de RPG, os dois se conheceram em uma comunidade dedicada ao tema na popular rede social. “O Davi fez uma brincadeira por causa do apelido que eu usava na época lá na comunidade e daí passamos a conversar. Depois nos adicionamos, e começamos a falar via MSN”, conta Patricia.

Nessas conversas viram que o Orkut acabou dando uma mãozinha para o destino, já que descobriram que por anos participaram de alguns eventos de RPG em comum. Depois de um mês de papo pela internet, o casal estabeleceu o primeiro contato pessoalmente. “E foi algo meio maluco, passamos bastante tempo junto e de lá já saímos namorando. Na semana seguinte, já foi apresentação para a família, tornando tudo oficial”, explica Patricia. “E de lá para cá, já são quase três anos juntos”.

Mudanças

Mas nem sempre esses relacionamentos dão certo. “Às vezes, acontece o contrário, porque tem um fator chave: ‘o ser humano é imprevisível’. As chances de um relacionamento na web dar certo são as mesmas do que as de um relacionamento iniciado em uma festa, na academia, na faculdade, na escola”, pondera Itakura. “A sociedade mudou. As redes sociais só acompanharam essas mudanças”.

Por isso, o internauta deve ser honesto quanto às suas reais expectativas na rede. “É preciso definir claramente para si próprio quais seus desejos e necessidades sobre esse relacionamento virtual”, afirma Marlene Dias da Silva, responsável técnica pela Unipsico-Rio, cooperativa de psicólogos do Rio de Janeiro.

Para a especialista, como no ambiente virtual há a dificuldade de ‘sentir’ o outro, seja pelo tom de voz, como pelo olhar, por exemplo, é preciso estar bem atento. “O outro pode estar falando sobre o seu avatar, e não sobre a própria pessoa”, considera.

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