Em Cândido Mendes

VÍDEO: morto em caixão "toma banho de rio"; tradição quilombola é mantida no Maranhão

Alex dos Santos, vítima de aneurisma cerebral, havia pedido à família um velório alegre e respeitando a tradição de passar pelo rio Gapó.

Imirante, com informações do g1 MA

Atualizada em 06/06/2024 às 07h48

CÂNDIDO MENDES - Um vídeo mostra um grupo de pessoas entrando em rio carregando um caixão na cidade de Cândido Mendes, no Maranhão. O caso aconteceu na segunda-feira (3), no povoado Santa Izabel, uma comunidade quilombola. Parentes e amigos de Alex dos Santos Oliveira, de 44 anos, que morreu no domingo (2), levaram o corpo para um “banho no rio”.

O vídeo mostra que, durante o trajeto, as pessoas que levavam o caixão ingeriam bebida alcoólica e gritavam, enquanto outras jogavam água sobre o caixão.

Alex dos Santos Oliveira atuava como agente de saúde na zona rural de Cândido Mendes. (Foto: Arquivo Pessoal)
Alex dos Santos Oliveira atuava como agente de saúde na zona rural de Cândido Mendes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Alex foi vítima de aneurisma cerebral e atuava há cerca de 22 anos como agente de saúde na zona rural de Cândido Mendes. Ao g1, o filho dele, Aécio Oliveira, relatou que o pai havia pedido um velório alegre e que fosse mantida a tradição de passar com o caixão por dentro do rio Gapó.

Este festejo em direção ao cemitério é uma tradição na localidade. A comunidade não é abastecida por água, então o rio Gapó é utilizado para banho, para lavar roupa, e fez parte da infância e da vida toda do agente de saúde.

O comerciante Haynir Pereira, que é um amigo da família, explicou ao g1 que se trata de uma tradição centenária. "Os nossos ancestrais eles tinham pouco tempo para enterrar seus entes queridos, pois tinham que voltar logo para a lavoura. Então eles faziam aquele percurso, de carregar o morto até o cemitério. E no decorrer do tempo, foi mantida a tradição. Aquilo ali, aos olhos de quem não entende, não respeita a cultura alheia, acha um absurdo, mas porque ninguém filmou e presenciou o festejo que foi. O corpo esteve na casa e o filho preparou o festejo. Deram cachaça, matou-se um boi, porque ele era um agente comunitário muito querido na região e ele era um defensor da cultura dele, participava de todos os velórios, que são feitos dessa forma”, relatou.

Ainda de acordo com Haynir, o rio Gapó faz parte do percurso da comunidade até o cemitério mais perto. Já existe uma estrada como alternativa, porém antes disso criou-se essa tradição de atravessar o rio com o morto no caixão em razão da necessidade. O velório atrai todas as comunidades vizinhas, que fazem um festejo no último adeus.


 

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