BRASÍLIA- A relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse nesta semana que o colegiado terá “dias absolutamente intensos” a partir de agosto — a próxima reunião será já no primeiro dia do mês, às 9h. Segundo a parlamentar, documentos sigilosos encaminhados à comissão parlamentar mista de inquérito nas últimas semanas abrem novas frentes de investigação.
— No período de recesso, recebemos um volume muito grande de documentos sigilosos, que vão respaldar tanto as oitivas quanto a apresentação de requerimentos para novas quebras de sigilo. Nas próximas semanas, teremos reconvocações e acareações, de forma que possamos chegar aos autores intelectuais e aos financiados do 8 de Janeiro, um ato terrível contra a democracia brasileira — afirmou.
Eliziane Gama não antecipou quais testemunhas ou investigados devem ser reconvocados ou submetidos a acareação a partir de agosto. Desde o início dos trabalhos, a CPMI ouviu oito pessoas. Entre elas:
- Mauro César Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante-de-ordens do então presidente Jair Bolsonaro;
- Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal;
- George Washington de Oliveira Sousa, preso por tentativa de atentado próximo ao aeroporto de Brasília;
- Jean Lawand Junior, coronel do Exército, pelas mensagens de conteúdo golpista que trocou com Mauro Cid; e
- Jorge Eduardo Naime, coronel e ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal.
Pelas redes sociais, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que "além dos financiadores da tentativa de golpe, muitas 'lavanderias' serão reveladas. Muita coisa virá à tona".
General GDias
Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), os primeiros dois meses de trabalho da CPMI foram marcados pela tentativa de aliados do governo de “blindar os poderosos”. Em entrevista à Agência Senado, o parlamentar defendeu a convocação do general Marco Edson Gonçalves Dias. Conhecido como GDias, o militar comandava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em 8 de janeiro e foi gravado em vídeo ao lado de manifestantes dentro do Palácio do Planalto.
— Foram dois meses de trabalho e, infelizmente, só se olhou um lado e se blindou completamente o outro. Nesses 60 dias, só se buscou reforçar uma narrativa goela abaixo, com oitivas que nada têm a ver com o dia 8 de janeiro. A gente não está conseguindo investigar pelo sequestro da CPMI que foi feito pelo governo Lula. O interesse é apenas blindar os poderosos. Mas a população está acompanhando, e acredito que essas narrativas vão ser quebradas — disse Girão.
O segundo vice-presidente da CPMI, senador Magno Malta (PL-ES), também afirmou que espera que a comissão tenha "equilíbrio e bom senso". Assim como Girão, Magno defendeu a convocação de GDias.
— Eu espero que tenhamos uma reunião da diretoria, da mesa da CPI, com o [presidente, deputado] Arthur Maia [União-BA]. Tenho proposto isso a ele, com a relatora Eliziane e o vice [senador] Cid Gomes [PDT-CE], para que possamos delinear de maneira que haja um equilíbrio. Nós esperamos que a gente comece a ouvir, que haja, na visita que propus, a divisão de dois grupos para visitar as cadeias e falar com as pessoas — disse em entrevista à Agência Senado.
Novos requerimentos
A próxima reunião da CPMI do 8 de Janeiro está marcada para a terça-feira, 1º de agosto, às 9h. Senadores e deputados devem ouvir Saulo Moura da Cunha, que ocupava o cargo de diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes.
A comissão parlamentar mista de inquérito tem 819 requerimentos pendentes de votação. A maior parte deles sugere novos depoimentos: são 504 pedidos de convocação e 31 convites. A oposição quer ouvir sete ministros do presidente Lula:
- Flávio Dino, da Justiça e da Segurança Pública;
- José Múcio Monteiro, da Defesa;
- General Marcos Antonio Amaro dos Santos, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Rui Costa, da Casa Civil;
- Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais;
- Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social; e
- Márcio Costa Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Os governistas, por outro lado, querem a convocação do general Augusto Heleno, ministro do GSI durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro. Um pedido apresentado durante o recesso sugere a convocação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. De acordo com o requerimento, após a quebra do sigilo telemático do tenente-coronel Mauro Cid foram encontrados comprovantes de depósitos em dinheiro em uma conta bancária dela.
Os parlamentares apresentaram 158 requerimentos para a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático. Uma parte dos pedidos se refere a empresas, sindicatos e pessoas físicas suspeitas de participação ou financiamento dos atos golpistas.
Outro lote de requerimentos busca alcançar figuras públicas. Há pedidos para a transferência de dados sigilosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, do empresário Luciano Hang, do ex-deputado federal Daniel Silveira (RJ) e da mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid. Também há pedidos para a transferência de sigilos do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do general Marco Edson Gonçalves Dias.
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