Sarney exalta o Congresso e condena atos de 8 de janeiro em discurso no Senado
Ex-presidente participou de sessão especial que celebrou a instalação da Primeira Assembleia Constituinte, em 3 de maio de 1823, e a criação do Poder Legislativo no Brasil.
BRASÍLIA - O ex-presidente José Sarney (MDB) fez nesta quarta-feira (3) um aplaudido discurso no Senado ao participar das comemorações pelo Dia do Parlamento. A data marca, em 2023, os 200 anos da instalação da Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil - a primeira do país desde o seu descobrimento.
Em sua fala, o emedebista exaltou o Congresso e fez duras críticas aos atos de 8 de janeiro - quando vândalos invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, no início do ano, em Brasília. Para ele, movimento como aquele apenas exacerbam "divisões internas” e atrasam o país.
“Quando o mundo atravessa a revolução digital, e uma grande transformação, o país não pode ficar atrasado por divisões internas, nem por atos como aquele de 8 de janeiro, que envergonharam o país, e que devem ser punidos para que não se repita isso, jamais, na história do Brasil”, disse.
No seu pronunciamento, Sarney destacou o episódio em que Dom Pedro I, então Imperador do Brasil, chegou para participar da reunião dos constituintes, e retirou sua coroa antes de entrar ao plenário, como forma de, segundo o ex-presidente, mostrar que entendia ser a Assembleia uma entidade soberana.
“Isso significa um gesto que ele achava que a Assembleia era soberana. A própria Assembleia se julgava soberana. No regimento que tinha feito, ela se dizia soberana. A Assembleia Legislativa é o coração do povo em qualquer lugar do mundo. Não pode haver democracia sem haver parlamento. Sem parlamento forte, não pode existir democracia forte. Sem parlamento, não existe democracia. Ele representa o povo, a população em geral, total, que ali constitui a democracia representativa”, comentou.
Também ex-presidente do Senado, José Sarney ressaltou a importância do parlamento para o país, e a para a construção de uma nação que - diferentemente dos seus vizinhos hispânicos - formou-se não por guerras e batalhas, mas pelo “poder civil.
Ele ponderou, no entanto, que muitas vezes “vacilamos na crença do nosso destino”.
“O Brasil tinha o sonho de grandeza e encarnava a destinação histórica de ser uma grande nação, de se formar pelo poder civil, de ter união, de não ser dividido. Nós sempre quisemos ser grandes, nós sempre quisemos um grande país, de tal modo que Stefan Zweig escreveu um livro, ‘Brasil, país do futuro', e até os estrangeiros sonhavam com isso quando vinham aqui. E nós, muitas vezes, vacilamos na crença do nosso destino, vacilamos na crença do nosso progresso, da nossa grande destinação histórica. Isso bate muito na costa dos políticos, mas os políticos são aqueles que harmonizam os conflitos da sociedade, os políticos dedicam parte da sua vida, ou, às vezes, toda a sua vida, pelo país”, afirmou.
Ao fim do discurso, Sarney fez uma conclamação à classe política, reiterando considerar o Congresso “o coração do povo”. “Assim, eu termino essas palavras, convocando todos os políticos, convocando todo o povo brasileiro, a que nós não percamos jamais esse ideal que veio dos primórdios e que levaram à Independência, chegar a esse dia que nós comemoramos porque é através da assembleia do povo que se constitui uma democracia”, concluiu.
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