Abuso sexual infantil

"Crianças devem ser alertadas sobre o abuso sexual", diz pesquisadora da UFMA

Vídeo feito por uma estudante de psicologia traz forma lúdica de abordar o tema.

Anne Cascaes/ Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h07
Vídeo da estudante de psicologia Nívea Cavalcante se propagou nas redes sociais nos últimos dias.
Vídeo da estudante de psicologia Nívea Cavalcante se propagou nas redes sociais nos últimos dias. (Foto: reprodução/Instagram)

SÃO LUÍS – A violação dos Direitos Humanos dentro do ambiente doméstico desperta o alerta de profissionais para que a população recorra aos canais de denúncia disponíveis, especialmente em casos como a violência contra a mulher e o abuso sexual infantil. Durante o período de pandemia, as duas situações tiveram um acréscimo no número de casos registrados, como apontam dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH).

Assim como ocorre com mulheres, as crianças também podem ser alvo de violência não só física, como também moral e psicológica, apontadas pela docente e pesquisadora do departamento da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e, também pós-doutora em Psicologia e Direitos Humanos Artenira da Silva e Silva como violência desestruturante e acontece quando essas crianças são desqualificadas e têm a autoestima rebaixada, podendo evoluir para violências cada vez mais graves.

De acordo com Artenira da Silva, é necessário entender o Estatuto da Criança e do Adolescente para que este seja, então, o ponto de partida para membros da família, vizinhos e o Estado percebam e ajam contra qualquer tipo de violação sofrida por crianças. Acionando, por exemplo, o conselho tutelar mais próximo.

“Um vizinho ou um parente que perceba a alteração de comportamento nessas crianças quer seja introversão, rejeição de contato físico ou qualquer alteração de ciclo de sono e alimentação, são responsáveis efetivos, enquanto cidadãos, para efetuar as denúncias em relação ao que possa estar ocorrendo com essas crianças”, alerta.

A pesquisadora frisa, também, a instrução que deve ser realizada com as próprias crianças, uma vez que elas já dominam a linguagem, a partir de um ano e meio ou dois anos de idade. “Elas [crianças] devem ser alertadas ao perigo de abuso sexual. O que acontece é que nós, adultos, temos dificuldade com esse assunto. Alertar a criança de que nenhum adulto pode tocar as suas partes íntimas e que não é ok que ela toque as partes íntimas de um adulto é um ponto de partida bastante relevante”, explica.

Uma vez uma criança de três anos me perguntou, numa roda de conversa, porquê joelho é joelho, olho é olho, boca é boca e xixi tinha, por exemplo, vários apelidos. Então, uma criança de três anos fazer esse tipo de pergunta define claramente que ela percebe que os adultos têm dificuldades nessa questão.
Artenira da Silva

Uma forma de orientação bastante lúdica e que conversa diretamente com o público infantil foi encontrada pela estudante do 9º período de Psicologia Nívea Cavalcante, natural de Manaus, no Amazonas. Ela, que vem de uma família de educadores e já ouviu relatos da mãe, que é gestora de uma escola onde muitas crianças já sofreram abusos sexuais, elaborou um vídeo com objetivo de explicar que existem partes no corpo humano que não devem ser tocadas por adultos.

A ideia veio a partir de um trabalho solicitado na matéria de Intervenções Psicológicas na infância e adolescência, na faculdade em que ela estuda. “Era necessário criar um projeto de intervenção pra aplicar em alguma área, e eu escolhi a escolar. Me aprofundei no assunto e criei o projeto. Depois disso, lembrei de um vídeo que tinha visto no TikTok (rede social onde bastante crianças me seguem), e decidi que faria um vídeo como aquele e anexaria no meu trabalho acadêmico”, conta Nívea.

Ela compartilhou que não tinha pretensão de publicar o vídeo, contudo, pessoas próximas a ela que assistiram incentivaram a publicação. Resultado: após 10 minutos no ar, o vídeo já estava com 24 mil visualizações e continuou se propagando pelas redes socias. “No dia seguinte, já haviam comentários de pessoas influentes na internet que repostaram o meu vídeo em outras redes sociais, como Twitter, onde ele viralizou mais rápido ainda. Várias páginas postando e falando sobre a importância do assunto fez meu Instagram triplicar o número de seguidores em menos de 24h”, relembra.

Nívea explica que a composição já existia, e na sua publicação ela fez questão de dar os créditos necessários. “A letra não é minha, já existia no vídeo que achei lá [no Tik Tok], só fiz um remake do vídeo utilizando minha própria voz e usando uma luva como havia visto no outro, que serviria pra prender a atenção das crianças. Claro que dei todos os créditos à autora original”, finaliza.

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