Resenha

Hip-Hop se mistura a R&B e esbarra no rock

AM, o quinto álbum do Arctic Monkeys chega carregado de influências e mostra renovação.

Neto Cordeiro/Imirante/O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h03

Há 4 anos, o Arctic Monkeys inaugura uma sonoridade singular a cada produção. Quem ouve o álbum AM, lançado no dia 9, não diz que a banda debutou com aquela pegada frenética e juvenil de "Whatever people say I am that’s what I’m not" (2006) e "Favorite Worst Nightmare" (2007).

O primeiro passo foi dado com o lançamento do terceiro disco, "Humbug" (2009). De lá para cá, as experiências com tons cada vez mais suntuosos deram uma cara diferente a cada obra do grupo inglês. No entanto, têm prevalecido a maturidade e a fineza na produção.

"Suck it and See" (2011), que buscou suas bases no rock clássico, e agora AM, cheirando a hip-hop e R&B, reafirmam o título do primeiro álbum: “Não somos o que eles dizem”.

Com uma batida simples e comedida, Do I wanna know? dá início ao embalo do disco recém-lançado. A melodia é parte de uma tríade interrogativa que antecipou a estreia da obra produzida por James Ford e Ross Orton. Além dela, "R U Mine?" e "Why’d you only call me when you’re high?" precederam tudo o que os rapazes de Sheffield, Inglaterra, estavam preparando. Esta última faísca toques do G-funk, e parece envolta por um ar sujo.

 Foto: Zachery Michael.
Foto: Zachery Michael.

Hip-Hop - A cena hip-hop reveste, também, a canção "One for the Road". O próprio Alex Turner, vocalista da banda, admitiu ter no trabalho influências de Dr. Dre - rapper e produtor estadunidense. A faixa tem participação de Josh Homme, da banda Queens of the Stone Age, que já trabalhou com o quarteto, em Humbug. Ele reaparece na penúltima música, "Knee Socks", quando recria um David Bowie ao lado dos falsetes à la Destiny’s Child (You and me could have been a team/ Each had a half of a king and queen seat/Like the beginning of mean streets/ You could be my baby).

Além de Bowie, o álbum resgata um quê de Lou Reed, em Mad Sounds. Na faixa seguinte, Fireside recria um deserto, e soa como flashback em uma estação de rádio.

O coro de Matt Helders (baterista) e Nick O’Malley (baixista) conferem ao disco, desde a primeira faixa, forte influência do R&B. É o caso de "Arabella", que sofre uma metamorfose, por volta dos 43 segundos, quando a entrada mais para o lado do R&B se converte em rock. Na letra, Turner remonta uma diva, como nos videoclipes de rap.

Mas, nem tudo aqui é inédito. "No 1 Party Anthem" é uma balada ao estilo do que os fãs já conhecem. Só para não perder o costume. Nem por isso, deixa de ser elegante.

Na décima faixa, mais de três minutos de pop deixam o álbum um pouco instável. "Snap out of it" parece um daqueles musicais de bandas colegiais de filmes americanos. Um tapa no ar lúgubre inglês. O sol sempre brilhando em Los Angeles, onde os rapazes decidiram morar.

AM (no sentido de "estou", em inglês) parece indicar este aspecto transitório entre os trabalhos da banda. Uma pista, talvez, de que, no futuro, mais surpresas virão, fazendo ressurgir a pergunta clássica: quem diabos é o Arctic Monkeys?

Assista ao vídeo de "Why’d you only call me when you’re high?"

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