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COLUNA

Kécio Rabelo
Kécio Rabelo é advogado e presidente da Fundação da Memória Republicana Brasileira.
Kécio Rabelo

Mulheres, sempre as mulheres

O 8 de março uma vez mais ganha destaque no calendário mundial.

Kécio Rabelo

O 8 de março uma vez mais ganha destaque no calendário mundial. Homenagens, discursos, postagens, comerciais e aparatos publicitários celebram o Dia Internacional da Mulher, incluído no calendário por ocasião daquele 8 de março de 1917, quando cerca de 90 mil operárias russas saíram às ruas, reivindicando melhores condições de trabalho e de vida, ao mesmo tempo em que se manifestavam contra as ações do Czar Nicolau II.

O evento ficou conhecido como "Pão e Paz", realçando este que é um anseio perene, há séculos reivindicado nos corações e mentes dos que desde sempre enxergam o mundo como espaço de igualdade!

Um protesto contra a fome, a exploração humana e a Primeira Guerra Mundial. Um, entre tantos momentos em que foram elas as protagonistas das lutas sociais e por políticas que acabaram convertidas em direitos e garantias definitivas para todas e todos. Direito, por excelência! Nunca uma concessão!

Muito se tem debatido sobre a mulher, seu papel ativo na sociedade, as conquistas politicas obtidas e suas inflexões. É verdade que avançamos! Mas não o suficiente. Ainda há um longo caminho a percorrer até que privemos de um mundo em que a igualdade seja mais que uma bandeira, a mobilizar e abrir caminhos.

Quando visitamos a história recente, vamos percebendo a lentidão nos reparos, acertos de percursos e lacunas, ainda que esse trajeto tenha colocado, ou devolvido, às mulheres o lugar e dignidade que lhes são próprios, novamente não como concessão, mas como direito intransponível.

Por outro lado, o cuidado com o qual escrevo estas linhas, revela o resultado do processo, diria, bem-sucedido da formação da consciência, que temos tido - e aprendido a exercitar - ao nos referir, tratar e conviver, não com o tema, mas com a pessoa mulher e à natureza do ser feminino, fonte de permanente aprendizado.

Digo isto para sublinhar a importância de observar e corrigir os pequenos gestos, falas e conceitos que, em proporção, realizados, ditos e propagados, tornam-se vetores de uma série de violências contra as mulheres, objetificando-as e diminuindo-as, na contramão do aprendizado que se deveria perseguir, como iguais, universais no que nos iguala e diferencia.

Não quero e nem vou adentrar ao tema da violência de gênero, do feminicídio e de outras tantas violências e abusos a elas impostos, na maioria das vezes, no silêncio dos lares. Essa é uma realidade que deve nos interpelar, nos inquietar, e contra a qual o sistema de justiça tem buscado agir. Muito embora, a cultura da não denúncia, ainda encontre espaço, sigamos lutando para evitar que o silêncio sobreviva, imperando. Não há qualquer argumento para abrandar essa realidade. Ela é perversa e deve ser combatida e extirpada do nosso meio, sob pena de que o nosso anseio por igualdade continue sendo apenas um desejo, realidade a ser alcançada!

As diferenças de oportunidades e projeção profissional são temas bastante debatidos que tem rendido boas soluções legislativas e de políticas de reparação. No entanto, não é esse o caminho que desejo trilhar neste texto-homenagem, longe de fugir da realidade das mulheres e seus desafios, ou de mascarar suas lutas sustentados pela retórica, pretende atravessar para a outra margem, tocar e focar a personagem que está na raiz da existência, no centro do Éden, do jardim do mundo. E esta imagem do jardim, pode nos ajudar. Não para colocar as mulheres como rosas delicadas, sempre prontas para ornamentar, emprestar beleza e perfume ao mundo, nem tampouco para romantizar lutas, mas para contemplar o todo da existência, a partir dessa figura, à qual, desde a origem, o Criador se “inclinou” para contemplar. A mulher mãe, que não saiu e nem sairá de moda, a mulher chefe, a mulher líder, política, empresária, militante, preta, branca, indígena, latina, americana ou europeia, sempre ela, no lugar que ocupa, transforma, rega e faz florescer sementes novas de vida, de transformação, de evolução e completude, de dualidade e amplitude, de expansão e proximidade, de reconexão e encontro com o Divino que em nós habita, ganha forma e grandeza. No âmago da criação está a mulher. E não por acaso!

“Dessa força estranha” que Caetano cantou, capaz de parar o tempo para contemplar - e conquistar - suas façanhas; dessa luta viva que segue persistente mantendo vivos no horizonte os ideais da liberdade, desse valor supremo que torna eterno tudo o que toca, dessa fina canção tecida para embalar o mundo... é dessa mulher e, outra vez por elas, que emerge esta nossa homenagem. Ou melhor, o nosso dever de homenagem. Tributo que no coração, na beleza e na força, encontra a mais justa tradução. Dessas mulheres, dos versos que trago emprestado do poeta Godão “sempre as mulheres, ardentes, artesãs da vida, senhoras guardiãs do tempo, a parirem rosas, amamentam flores no seu paraíso”.

E quando o pessimismo do retrocesso nos ameaçar, ou o veneno da força impositiva nos quiser aniquilar, é hora de lembrar de Cora Coralina e com ela repetir, quase num mantra: "Há muros que só a paciência derruba. E há pontes que só o carinho constrói." Embora, por vezes, ou quase sempre o grito se faça necessário, que a hora de vencer as turbulências não demore a chegar.

No mais, é dizer à mulher, às mulheres, da obviedade deste dia! Seja feliz toda mulher, onde, como, quando e sempre que assim o quiser. Essa é condição essencial para que a beleza do mundo ganhe corpo e, finalmente, como canta Caetano, possamos viver em um mundo "masculino, feminino e plural", naturalmente igual e diferente. Feliz, como deve ser!

 

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