São João do Maranhão

Conheça o Bumba Meu Boi de Matraca: um dos sotaques mais populares do Maranhão

Os bois do sotaque de matraca arrastam multidões por onde passam com letras que falam sobre cultura, natureza e as belezas do Estado.

Na Mira

Atualizada em 24/04/2024 às 10h09
Dentre os grupos mais famosos estão: o Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar e o Boi da Madre Deus.
Dentre os grupos mais famosos estão: o Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar e o Boi da Madre Deus. (Foto: divulgação / Diego Chaves)

Com toadas emblemáticas embalada pelo som das matracas e pandeirões, consideradas hinos pelos brincantes, o boi do sotaque de matraca é um dos mais populares do Maranhão. Originário da capital do estado, São Luís, o sotaque, também conhecido como ‘da ilha’, se caracteriza pelo som estridente das matracas.

Apesar de ter surgido na grande ilha, não se sabe ao certo a origem exata do sotaque de matraca, porém, pode-se afirmar que ele nasceu nas regiões da zona rural.  Um fato curioso sobre os bois de sotaque da ilha é que, na maioria das vezes, seus membros são descendentes de escravos.

Dentre os grupos mais famosos do sotaque em questão, que atualmente somam mais de 20 em totalidade, estão: o Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar e o Boi da Madre Deus. 

Além da matraca, composta por dois pedaços de madeira retangulares, de tamanho variável, que ao serem batidas umas às outras, ecoam um som agudo e forte, os pandeirões, maracás e tambores onça, dão ritmo e arrastam uma multidão de apaixonados pela cultura popular maranhense por avenidas, ruas e arraiais durante o período junino.

“Antigamente, haviam muitas disputas entre os bois de matraca e por isso, as matracas foram elementos que entraram no boi por um acaso. Com isso, os bois de matraca foram muito oprimidos e chegaram a ser proibidos de dançar em áreas mais nobres, por conta dessa conotação das disputas”, disse a pesquisadora Letícia Cardoso em entrevista ao G1 Maranhão.

Batalhões

Os Bois de Matraca são conhecidos por seus brincantes como ‘batalhões’, devido à alta quantidade de pessoas que participam das apresentações. O Bumba meu Boi de Maracanã, por exemplo, possui cerca de 600 brincantes registrados, que saem às ruas com suas indumentárias. 

“A denominação ‘batalhão’ também representa esse sentido de luta, remonta o tempo das guerras e dos conflitos armados. Mas, a gente pode perceber que eles absorveram essa denominação pela ideia de lutar, resistir, de buscar uma interação com a sociedade por meio do discurso da toada. E a luta dos bois se dá por meio dos seus símbolos, que têm tradições centenárias”, explica a pesquisadora.

Indumentária

As indumentárias dos bois de matraca possuem peculiaridades e se diferenciam, em algumas características, das demais vestimentas de bois de outros sotaques, como na utilização de materiais mais rústicos e naturais, provenientes dos animais da zona rural, como como penas de aves e couro.

“Os brincantes vão criando de acordo com suas condições de vida. Eles usam muita pena de animais, principalmente aqueles da zona rural, porque eles tinham acesso a esse tipo de material. Hoje em dia, claro, já é algo mais sintético, mas no início, usavam-se muitas penas de animais mesmo, já que era o que podia ser extraído de forma gratuita”, disse Cardoso.

O caboclo de penas é um personagem exclusivo dos bois com sotaque de matraca. As índias, que usam vestimentas de penas de ema sintética tingidas em cores variadas e o os caboclos de fita, brincantes com grandes chapéus de fitas coloridas, também fazem parte da fantasia dos bois de matraca. 

Toadas

As toadas são a definição do estilo de música característico do sotaque de matraca, sendo uma espécie de música folclórica, com letras simples, que falam sobre natureza, amor, tradição e cultura. Uma curiosidade sobre as letras das toadas tradicionais é que estas, em sua maioria, não foram escritas à mão, mas sim, memorizadas pelos cantadores. Entretanto, com o avanço da tecnologia, os cantadores mais jovens utilizam o celular ou outros aparelhos eletrônicos para gravar as letras e melodias.

O famoso trecho “Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Fiz essa toada, para ti, Maranhão” faz parte de uma toada composta pelo cantador Humberto de Maracanã e virou um verdadeiro ‘hino’ do Maranhão.

“Uma das temáticas mais presentes nas toadas de Humberto é a natureza. É uma coisa muito forte, cantar as belezas naturais da sua região, e ele fazia isso para exaltar não só a beleza por si só, mas como uma forma de pertencimento da comunidade. Para que eles se todos os membros da comunidade se orgulhem do seu lugar e o protejam”, conclui a pesquisadora que tem desenvolvido um mapeamento dos grupos de Bumba meu boi do sotaque de matraca em São Luís. Confira a lista: 

  1. Boi Proteção de São João do Anjo da Guarda
  2. Boi Mimoso de São João-Maria da Fita
  3. Boi da Madre Deus
  4. Boi de Maracanã
  5. Boi de Estrela do Oriente Estrela Dalva
  6. Boi da Maioba
  7. Boi da Pindoba
  8. Boi de Iguaíba
  9. Boi Matraca de Panaquatira
  10. Boi Sítio do Apicum
  11. Boi do Jaguarema
  12. Boi de São José de Ribamar
  13. Boi Tremor da Campina
  14. Boi Estrela Maior
  15. Boi Boizinho Precioso
  16. Boi de Matraca do Maiobão
  17. Boi da Matinha
  18. Boi da Mata Grande
  19. Boi Mimo de São João da Cidade Olímpica
  20. Boi da Vila Vitória - Estrela D’Alva
  21. Boi de Juçatuba

 

 

 

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