Brasília - O Brasil faz hoje uma justa homenagem ao homem que fez o país ser conhecido, em verso e prosa, pelo mundo afora. A letra de Aquarela do Brasil, e de tantas outras músicas de sua autoria que retratam a imagem do legítimo brasileiro, traduzem o espírito em que viveu o compositor Ary Barroso, que completaria ontem cem anos de vida marcada pelo talento, ousadia e criatividade. Nascido em 7 de novembro de 1903 em Ubá, Minas Gerais, Ary Barroso foi o primeiro homem a levar a música brasileira para fora do país, traduzindo a maneira de viver de um povo sofrido, mas que acima de tudo sempre teve a alegria como marca registrada.
As comemorações pelo centenário de compositor serão realizadas ao longo do dia de hoje na cidade a cidade natal do mineiro. O presidente interino, José Alencar, que é conterrâneo de Ary Barroso, vai acompanhar pessoalmente a festa como forma de homenageá-lo. O governador de Minas, Gerais, Aécio Neves, também participa das comemorações.
O ápice das festividades será o espetáculo “Ary Barroso Cem Anos”, marcado para às 20h, no Pavilhão do Horto Florestal de Ubá. Cantores como Elza Soares, que chegou a se apresentar no programa de auditório de Ary Barroso, Marília Pêra, e as duplas mineiras Célia e Celma, e Célia e Marcos, vão cantar os grandes sucessos do compositor. Os ingressos para o show serão trocados por alimentos não perecíveis para serem doados a instituições filiadas ao programa Fome Zero.
Místico e talentoso
Desde a infância, Ary Barroso quebrou tabus. Deixou de lado o nome de Ary Evangelista Barroso depois que um amigo lhe apresentou a numerologia. Foi, aliás, o primeiro artista a se deixar guiar pelos números em busca de sorte na vida e na carreira. E conseguiu. Os versos de Aquarela do Brasil são hoje cantados em todo o mundo, nos mais diversos sotaques, vozes, ou entonações. A música começou a ganhar o mundo em 1939, quando o cantor Francisco Alves acreditou no talento do jovem compositor e gravou o primeiro de tantos sucessos de Ary Barroso.
O sucesso, porém, não chegou tão rápido assim na vida do compositor. Órfão aos oito anos, foi criado pela tia-avó – uma professora de piano que lhe obrigava a tocar o instrumento diariamente. E foi ali que Ary começou a carreira. Seu primeiro trabalho foi no Cinema Ideal, ainda em Minas, como pianista auxiliar. Em 1920, juntou os poucos contos de réis que conseguiu juntar de uma herança de um tio morto e seguiu para o Rio de Janeiro com o sonho de formar-se em Direito. Mas a noite carioca foi quem acabou seduzindo o jovem, que rapidamente passou a ser membro de orquestras da cidade.
Insatisfeito com o baixo salário como pianista, acabou se rendendo à criatividade para ganhar a vida. A primeira marchinha de sua autoria, intitulada de Dá Nela, lhe rendeu um prêmio no Carnaval de 1930. Daí por diante, Ary Barroso mergulhou na vida artística e, em 1935, já tinha o seu próprio programa de calouros. Foi nesse período, também, que ele estreou como locutor esportivo de rádio.
Futebol: paixão nacional
O futebol, ao lado da música, era outra grande paixão do compositor. Como vereador, sugeriu a construção de um “grande estádio” no bairro do Maracanã, no Rio de Janeiro. Ary Barroso só não imaginaria que o Maracanã seria, até hoje, considerado o maior estádio do mundo. Também ajudou a compor o hino do Flamengo, e narrou várias partidas da seleção brasileira de futebol. Uma vez, como narrador da rádio Tupi, foi impedido pela concorrência de cobrir um jogo entre Brasil e Argentina em Montevidéu. Mesmo assim, embarcou para o Uruguai e, do quarto de seu hotel, transmitiu o jogo para a rádio brasileira ouvindo a narração de uma emissora Argentina.
Mesmo com alguns segundos de atraso, os ouvintes da rádio Tupi não deixaram de acompanhar o desempenho da seleção contra a sua maior rival.
O nome de Ary Barroso figura, até hoje, na lista dos artistas que fizeram as 20 músicas mais gravadas do planeta. O compositor morreu em 1964, em pleno domingo de carnaval carioca, vítima de cirrose hepática. O mais curioso é que o compositor morreu enquanto sua escola de samba preferida, a Império Serrano, desfilava na avenida Presidente Vargas – palco principal, na época, do carnaval do Rio de Janeiro.
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