BRASIL - A novela 'Travessia' retratou recentemente uma situação que pode se tornar real. Na trama, um criminoso usa uma tecnologia que modifica seu rosto e sua voz ao vivo durante uma videochamada, fazendo com que ele parecesse uma menina. A intenção era enganar a personagem Karina (Danielle Olímpia) para que ela gravasse um vídeo íntimo.

Essa tecnologia existe, mas ela não é tão "perfeita" quanto a retratada na novela. De acordo com especialistas, a técnica usada na trama de Glória Perez é uma evolução de uma tecnologia que já é utilizada há alguns anos, conhecida como 'deepfake'. Porém, o uso da tecnologia “em tempo real” (como em uma videochamada) já é possível, mas precisa de um nível de processamento muito maior. 

O que é o 'deepfake'?

Com ajuda da Inteligência Artificial (IA), o 'deepfake' consegue simular rostos em fotos e vídeos alterados. O Coordenador do Núcleo de Computação Aplicada da UFMA (NCA), professor Anselmo Cardoso de Paiva, explica como a tecnologia funciona.

"'Deepfake' é a utilização de algoritmos de Inteligência Artificial chamados 'Deep Learning' para geração ou alteração de conteúdo, criando conteúdos (imagens, vídeos, áudios) que não são reais."

Os algoritmos processam dados, que podem ser a imagem e a voz de alguém, e quanto mais dados, maior a eficiência do 'deepfake'.

"É uma ampliação das capacidades que sempre tivemos de alterar conteúdos, como por exemplo, já fazíamos com o photoshop para retocar uma imagem digital. Agora este retoque pode ser a criação de uma imagem da face de uma pessoa que não existe ou uma alteração de uma imagem existente. Trocar a face de uma pessoa em uma imagem pela imagem de outra pessoa real ou não existente", complementa o professor.

Como o 'Deepfake' pode ser utilizado?

A tecnologia se popularizou no Brasil a partir de vídeos feitos pelo jornalista e humorista Bruno Sartori, um dos pioneiros no uso da técnica no país. Ele criou uma série de vídeos de famosos e políticos com falas reconstruídas com o uso do 'deepfake'.

Veja um vídeo de Sartori que usa o 'deepfake'

Para o professor Anselmo Cardoso, "as ‘deepfakes’ lançam novos desafios à sociedade e ao compromisso com a verdade." O professor enfatiza ainda que o grande risco da técnica está relacionado à disseminação de fake news.

É necessário estar atento aos diversos usos da tecnologia e ajustar procedimentos para verificar a sua utilização. "Por exemplo, ao apresentar uma imagem ou um vídeo como uma prova em juízo, é necessário adicionalmente haver uma perícia para verificar se trata-se de uma foto real ou uma foto mentirosa", explica o professor.

Apesar disso, existem outras possibilidades benéficas para o uso do 'deepfake'. "Expandimos o seu potencial para muitas aplicações socialmente reponsáveis e relevantes em acessibilidade, educação (veja o recente sucesso do ChatGPT), arte, design, etc." 
 

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