Troca de Ideia

Eu Capitu em cartaz no Teatro Sesc Napoleão Ewerton

Com texto de Carla Faour e direção de Miwa Yanagizawa, o espetáculo chega à São Luís para provocar reflexões pelo olhar feminino. De quinta (21) a sábado (23).

Pedro Sobrinho / Jornalista

Atualizada em 21/08/2025 às 23h56

Completando 125 de sua primeira publicação, o clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis, terá uma releitura encenada na capital maranhense, na peça “Eu Capitu”. Com texto de Carla Faour e direção de Miwa Yanagizawa, o espetáculo visa dar voz às mulheres e traz à cena a história a partir da visão de Ana, uma menina prestes a entrar na adolescência, que vivencia o fim do relacionamento abusivo da mãe.

Flávia Pyramo e Mika Makino, atrizes do elenco do Eu Capitu, no quadro Troca de Ideia no Plugado, na Mirante FM. Foto: Bárbara Galvão
Flávia Pyramo e Mika Makino, atrizes do elenco do Eu Capitu, no quadro Troca de Ideia no Plugado, na Mirante FM. Foto: Bárbara Galvão

Em São Luís pela primeira vez, “Eu Capitu” terá apresentações de sábado (21) a sábado (23), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton (Av. dos Holandeses, Condomínio Fecomércio). No dia 21, a sessão será exclusiva para estudantes da rede pública de ensino, às 15h. E nos dias 22, às 20h, e 23, às 19h, serão apresentações abertas ao público e gratuitas. No sábado (23), a sessão será acessível com recurso de audiodescrição, para pessoas com deficiência visual, e tradução em Libras, para pessoas com deficiência auditiva. A retirada de ingressos será pela plataforma Sympla no link https://www.sympla.com.br/produtor/teatrosescnapoleaoewerton.

O espetáculo vem como forma de alertar sobre o aumento nos casos de feminicídio, já que o Maranhão é uma das unidades da federação com o maior número de mortes de mulheres por questões de gênero, de acordo com Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Em 2024, o Maranhão teve um aumento de 99,7% em atendimentos realizados na Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180, dado que revela também o crescimento no número de mulheres vítimas de violência.

Para trazer a reflexão sobre esse tema, a obra lança mão de um olhar fantástico e atual para unir a ficção em cena à dura realidade das mulheres vítimas de violência.

“Logo de início, entendi que não queria uma peça realista. Se o assunto era muito duro e pesado, eu queria falar de uma forma doce e lúdica com a criação de um universo simbólico e metafórico.”, resumem Mika Makino e Flávia Pyramo, que chama a atenção pelo fato de a peça dar voz a mulheres em um mundo que tem a narrativa masculina, seja na política, nas artes, na história ou nas famílias.

“Eu Capitu” foi aprovado na Seleção Petrobras Cultural e conta com recursos através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura. A peça já foi apresentada em Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, com lotação máxima, e depois de São Luís segue para Rio Branco, Porto Velho, Salvador, Fortaleza e Manaus.

O olhar feminino da obra de Machado de Assis

Em “Eu Capitu”, a menina Ana, interpretada pela atriz Mika Makino, tem por hábito se isolar em um mundo imaginário como forma de fugir dos problemas que enfrenta em casa. Sua mãe, Leninha, representada pela atriz Flavia Pyramo, vive um relacionamento abusivo com o marido. A tensão doméstica acaba por refletir no rendimento escolar da menina que precisa tirar boas notas em Literatura para não repetir o ano. A prova final vai ser baseada na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. No entanto, a leitura afeta diretamente a menina que passa a enxergar pontos em comum entre o livro e sua vida.

Em seu refúgio fantástico, Ana começa a misturar ficção com realidade e recebe a visita de uma mulher misteriosa, que tem o rosto parecido ao de sua mãe. Aos poucos descobrimos que esta mulher é Capitu, a personagem ícone da obra Machadiana. Nesses encontros, Ana dá voz àquela mulher que só conhecemos através do olhar masculino. A improvável ligação entre elas serve à menina, que está entrando na adolescência, como um rito de passagem para o universo feminino adulto, em que ela começa a entender o que significa ser mulher num mundo narrado por homens.

Esta é a história da produção que se baseia nas provocações sobre o original machadiano e reflete sobre machismo, dores e silenciamentos de mulheres contemporâneas.

“No palco, as atrizes encenam uma história que se passa no Brasil de hoje, quando Ana, adolescente presa em um ambiente de tensão doméstica, presencia o fim de um relacionamento abusivo de sua mãe. Para nós interessa instigar o olhar da plateia, convidá-la a imaginar outras possibilidades narrativas, tomar consciência das coisas se valendo de mais de uma perspectiva. Portanto, juntas, levantamos questionamentos e nos apropriamos deles para desdobrá-los ao invés de buscar soluções definitivas.”, ressalta Flávia Pyramo.

A peça foi idealizada pelo produtor Felipe Valle, após testemunhar indiretamente um episódio de violência doméstica em que não conseguiu intervir e teve a denúncia recusada pela polícia. O sentimento de impotência o levou intuitivamente a pensar em ‘Dom Casmurro’. Ao reler o livro com os olhos de agora, Valle percebeu toda a violência contida naquele clássico e resolveu trazê-lo para as luzes da ribalta pelo olhar feminino. “O convite para direção, escrita e encenação não foi à toa. São as mulheres que vão dar vida a esta história tão atual, eterna, cheia de nuances, simbolismos e de machismos do nosso sempre dia a dia”, pontua Mika Makino.  

Atividades formativas

Além da apresentação do espetáculo, também serão realizadas duas oficinas em São Luís, na sexta-feira (22).

A Oficina Petrobras Eu Outra, que será ministrada por Miwa Yanagizawa, vai propor a busca da construção de fricções entre narrativas pessoais e ficcionais a partir de objetos afetivos escolhidos pelas participantes. Voltada a artistas e estudantes de teatro, a atividade será realizada das 9h às 13h, na sala de dança do Sesc Deodoro . Inscrições no link https://forms.gle/5yTXVChqyhbmQzGz5.

Para interessados em saber mais sobre os detalhes de uma produção executiva, como passos para a criação, planejamento e elaboração de um projeto cultural, será realizada a Oficina Petrobras da Ideia ao Projeto, com Felipe Valle. É das 9h às 13h, na Sala de Exposições do Prédio Fecomércio / Sesc / Senac. Inscrições gratuitas no link https://forms.gle/ZWjd3uA3UfRtSsHr6.

Ficha Técnica

Direção Artística: Miwa Yanagizawa / Texto: Carla Faour / Diretora Assistente: Maria Lucas / Idealização e Direção Geral: Felipe Valle / Direção de Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal (Pagu Produções Culturais) / Coordenação de Projeto: Trupe Produções Artísticas / Elenco: Flávia Pyramo e Mika Makino / Direção Sonora, Trilha Original e Preparação Vocal: Azullllllll / Direção de Arte: Teresa Abreu / Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni / Produção Executiva: Natalia Dias / Produção local: Júlia Martins / Design Gráfico e Fotografia: Daniel Barboza / Assessoria de imprensa: Danielle Moreira / Produtora Associada: Pagu Produções Culturais / Realização: Trupe Produções Artísticas / Patrocínio: Petrobras

Serviço

O quê: Espetáculo “Eu Capitu” chega pela primeira vez a São Luís
Local: Sesc Teatro Napoleão Ewerton, Avenida dos Holandeses, Quadra 24, s/n, Condomínio Fecomércio/Sesc/Senac, Jardim Renascença II, São Luís
Datas:
21/8 – Sessão gratuita e exclusiva para estudantes da rede pública de ensino
22/8 – 20h – Sessão gratuita aberta ao público
23/8 – 19h – Sessão gratuita aberta ao público, com audiodescrição e tradução em Libras
Ingressos: Retirada no link https://www.sympla.com.br/produtor/teatrosescnapoleaoewerton
Classificação: 14 anos
Duração: 90 min

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