Debate

Lideranças indígenas reprovam filme sobre missões evangélicas em aldeias

E afirmam: "ninguém nunca conseguiu catequisar o índio".

Jefferson Sousa/Imirante Imperatriz

Atualizada em 27/03/2022 às 11h48

IMPERATRIZ – O filme “Renascer – acendendo a chama outra vez” ,será lançado nesta terça-feira (11) e trata de missões evangélicas transculturais em povos do Brasil, Suriname e Bolívia. Na película, o autor, diretor e roteirista Luaran Lins conta, também, a história de uma índia expulsa de sua aldeia, que vai morar na cidade. Com o passar dos acontecimentos, ela se converte ao evangelho e retorna à comunidade com a missão de levar os ensinamentos aprendidos ao seu povo, com a ajuda de representantes da igreja.

 Cenas do filme Renascer. (Foto: Reprodução/Internet)
Cenas do filme Renascer. (Foto: Reprodução/Internet)

Essa visão retratada no longa-metragem é reprovada por lideranças indígenas. Eles relatam preocupação com a imagem distorcida da real visão da cultura do povo, que pode causar prejuízos à sua identidade cultural, por vez que o cinema é um poderoso meio de propagação de som e imagem.

Índia Krikatí e assistente técnica da Funai no Maranhão, Edilena Errouré Torino, acredita que a cultura pode sofrer interferências e até se adaptar à certos costumes, mas se preocupa com o modo em que é realizado o processo.

“De certa forma contribuíram com a troca do conhecimento do índio e não índio. Mas, eles (missionários), interferem na concepção de pensar de como é um deus e na forma da organização social, que pesa bastante. Daí, eles (índios) começam a ter valores que antes não existiam e isso começa a agregar valores que, não necessariamente, são dos índios”, reflete.

“E digo com toda a clareza do mundo que eles nunca conseguiram catequizar ninguém, porque, por mais que o índio diga que é evangélico ou católico, ele nunca consegue ter a mesma concepção que o branco tem, jamais. Essa é uma prova da resistência”, completa a representante indígena.

 As lideranças se preocupam com a reprodução incorreta da imagem da cultura do índio. (Foto: Reprodução/Internet)
As lideranças se preocupam com a reprodução incorreta da imagem da cultura do índio. (Foto: Reprodução/Internet)

Visão compartilhada pelo auxiliar em Indigenismo Felipe Batista Cavalcante, que resume essa interferência cultural como um “estupro ideológico”.

“Nossa formação é de saber que existem diferentes movimentos religiosos, diferente de chegar para um povo que não tem o mesmo preparo, que sempre acreditou numa cosmovisão daquela maneira e dizer: olha, tudo isso que você acreditou até agora está errado, a religião repassada pelos seus pais e avós não tem nenhum ponto de contato com a realidade e, se você não aceitar isso, você vai passar o resto da sua pós-vida queimando num lugar assim e assado. Essa estratégia provoca um estupro ideológico”, comenta Felipe Cavalcante.

 O filme conta a história de missões transculturais. (Foto: Reprodução/Internet)
O filme conta a história de missões transculturais. (Foto: Reprodução/Internet)

O diretor de Renascer, Luaran Lins, explica que o filme tem o objetivo de mostrar as missões evangélicas e não de interferir na cultura dos povos. E, mesmo questionando a divindade de outras religiões, o também autor da peça cinematográfica revelou que teve contato prévio com as lideranças dos índios Canela para conhecer a cultura deles, explicar o projeto e realizar as filmagens.

“O objetivo é levar a palavra de deus, que transforma. Diferente do que muita gente pensa, a ideia de um missionário não e mudar cultura. Não chegamos e falamos: você vai largar tudo e vai acreditar nisso. Tentamos entender um pouco da cultura, respeitar e tentar mostrar a luz da palavra de Deus, da bíblia. Um caminho para o céu, um caminho para a vida eterna, com Deus”, detalha.

“Se você chegar à Índia, tem um milhão de deus. Eles adoram tudo. Aquela parede pode ser um Deus. Nós acreditamos em um Deus que a bíblia fala, e é essa convicção de fé que nós apresentarmos, esse Deus que cremos que é o Deus verdadeiro. Cabe a cada um acreditar no que quiser”, complementa o diretor.

 O diretor relata que o filme não tem o objetivo de . (Foto: Reprodução/Internet)
O diretor relata que o filme não tem o objetivo de . (Foto: Reprodução/Internet)


Renascer

O longa-metragem “Renascer – acendendo a chama outra vez” foi dirigido por Gildásio Amorim e Luaran Lins. Renascer é o segundo do diretor Luaran Lins, que lançou, em 2011, o premiado filme Renúncia. Ambos têm cenas gravadas em Imperatriz.

O lançamento da película está programado para esta terça-feira (11), no auditório do Palácio do Comércio. Nessa segunda-feira (10), uma sessão premiére foi exibida.

Veja, aqui, o trailer oficial de “Renascer – acendendo a chama outra vez”

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