SÃO LUÍS – Que o “esporte pode salvar vidas” você já deve saber. Pode parecer até um dos clichês mais comuns, mais isso não impede que seja uma verdade. Que o diga a atleta de fisiculturismo Luana Fernandes, 25 anos, classificada para o Mundial da modalidade deste ano nos Estados Unidos. Quem vê Luana exibindo suas curvas nos palcos das competições nem imagina que, há bem pouco tempo, ela sofria de bulimia e anorexia, distúrbios alimentares que ocasionaram até em depressão.

Luana Fernandes sempre foi uma menina acima do peso. Os quilinhos a mais nunca haviam sido um problema na infância. No entanto, na adolescência, o assunto tornou-se motivo para sofrer bullying. Apelidos tornaram-se inevitáveis, e com 16 anos, a já adolescente só queria uma única coisa: “ficar magra”.

Mas perder peso de qualquer forma pode ocasionar problemas sérios. Luana Fernandes sabe disso como ninguém. Perdeu 46 quilos rapidamente, mas de forma errada. O corpo sentiu os reflexos daquela inconsequência.

“Eu era bem gordinha no colégio e aí, com meus 16 anos, começou a ficar com frequência [o bullying]. Eu já me achava bem gordinha mesmo e, com bullying, começou a agravar mais ainda. Começou a ter xingamentos e tudo, e eu comecei a ficar com aquilo na cabeça de que eu teria que emagrecer. E isso era dentro do colégio. Quando em fiz 18 anos, eu fiquei seis meses sem estudar, só em casa. Mas o problema agravou. De uma bulimia veio uma anorexia. Eu me achava sempre gorda e eu fiquei com 52kg. De 98kg fiquei com 52kg”, recorda a agora fisiculturista.

Quem é você?

A ânsia de ficar em um falso padrão social fez Luana procurar métodos para perder peso. Um dos principais era o de botar o dedo na garganta para vomitar tudo o que acabara de comer. Com o passar dos dias, era visível a mudança física da garota que chegou a não ser reconhecida pela própria mãe.

“Eu era muito nova naquela época, não tinha nada na cabeça e eu descobri que tinha aquela forma de botar o dedo na garganta e vomitar. Aí eu comecei. Eu sei que dentro de uns quinze dias eu já tinha perdido dez quilos. E aí eu fui assim até chegar aos 52kg. Minha mãe, na época, trabalhava demais e então quase a gente não se encontrava em casa. Quando ela me olhou, ela não me reconheceu. Foi aí que ela foi notar. Eu comecei a chorar, a ficar bem deprimida. Ela me levou em um psicólogo e eu comecei a me tratar”, revela.

Esporte é saúde

Além do acompanhamento médico, Luana Fernandes viu no esporte a possibilidade em superar seus problemas. Um ano após o início do tratamento, a jovem encontrou na atividade física uma chance de ter saúde. Entrou na academia e não demorou para se apaixonar pelo fisiculturismo, que já lhe rendeu títulos estaduais e nacionais neste ano. Agora, o próximo desafio será o Mundial de Fisiculturismo, no mês de novembro, nos Estados Unidos.

“Depois que conheci o esporte a minha vida mudou. Amo musculação. Sempre tive um personal para me acompanhar. Minha alimentação mudou toda e eu estou aqui nesta vida. Gosto demais. Depois que passei por este problema, sempre tive este sonho de competir. Para mim, só chegar no Mundial é gratificante demais. É uma sensação inexplicável. O antes e o depois é sensacional. Não tenho do que reclamar. Me acho muito linda”, afirma a fisiculturista.

Além de Luana Fernandes, outros nove maranhenses também foram convocados para disputar o Mundial de Fisiculturismo de 2016. São eles: Ribamar Galvão, Orlando Gomes, Zeca Marques, Letícia Melo, Marcos Zuza, Wilson Maguila, Emerson Pinheiro, José Aguiar Neto e Wendel Alves.

A convocação dos maranhenses foi confirmada após o desempenho deles na edição de 2016 Campeonato Brasileiro de Fisiculturismo, realizado em Camaçari, na Bahia. O Maranhão contou com apenas dez atletas no evento e, todos, garantiram um lugar no Mundial dos Estados Unidos.

SAIBA MAIS

Anorexia: Caracteriza-se pela necessidade que a pessoa tem de diminuir o peso, recusando-se a comer e alegando falta de apetite. A recusa é voluntária e na fase inicial da doença, não ocorre uma perda real do apetite. Mais tarde, o organismo pode acostumar-se com a pouca alimentação e a pessoa pode chegar até a inanição (estado de debilidade extrema provocado por falta de alimentação, que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal).

Bulimia: Caracteriza-se por episódios repetidos de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados, tais como vômitos, uso indevido de laxantes, diuréticos e/ou outros medicamentos, jejuns e também pode associar exercícios excessivos. A pessoa sente uma fome excessiva e, em seguida, busca mecanismos para eliminar o alimento consumido.

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