Inquérito policial

Autores de agressão contra jovem negro em Açailândia serão ouvidos até o fim da semana, afirma delegado

Vítima foi tirada de dentro do carro e agredida por empresário e dentista em frente ao prédio onde morava.

Adriano Soares / Imirante.com

Atualizada em 28/07/2022 às 07h35
Gabriel foi agredido na porta do prédio onde morava, em Açailândia. (Foto: Reprodução)
Gabriel foi agredido na porta do prédio onde morava, em Açailândia. (Foto: Reprodução)

AÇAILÂNDIA – Serão ouvidos pela Polícia Civil, até o fim da semana, o empresário Jhonnatan Silva Barbosa e a dentista Ana Paula Vidal, que aparecem em um vídeo agredindo Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, dentro do próprio carro, em Açailândia, cidade distante 566 km de São Luís. A informação foi confirmada ao Imirante.com pelo delegado Saniel Ricardo Trovão, titular do 1º Distrito Policial de Açailândia.

As agressões contra Gabriel aconteceram em frente ao prédio onde morava, no dia 18 de dezembro de 2021. As imagens mostram que Jhonnatan e Ana Paula mandaram Gabriel sair do veículo e começaram as agressões. A vítima foi derrubada, sofreu chutes, pisões e tapas.

Durante as agressões, Ana Paula colocou os joelhos na barriga de Gabriel, enquanto Jhonnatan pisava no pescoço da vítima. A sessão de espancamento só parou quando um vizinho avisou que Gabriel era morador do prédio e dono do carro de onde foi retirado.

No dia das agressões, Gabriel foi à delegacia para fazer um boletim de ocorrência, mas em três tentativas diferentes, ele foi informado de que o sistema estava fora do ar. Por isso, só conseguiu registrar a queixa no dia seguinte, o que impediu a prisão em flagrante dos agressores.

Ao Imirante.com, o delegado Saniel Ricardo Trovão informou que, após a Polícia Civil tomar conhecimento do fato, por intermédio da própria vítima, foi aberto um inquérito policial que investiga, em princípio, o crime de lesão corporal, injúria e injúria racial.

Ainda segundo o delegado, com o desenrolar das investigações, a adequação ao fato pode resultar em uma tentativa de homicídio, visto que o vídeo que foi juntado ao inquérito policial, em que se constata uma série de agressões físicas, pode resultar, em tese, na adequação típica de tentativa de homicídio ou, também, no crime de tortura.

“Só as investigações é que permitirão fazer essa análise técnico-jurídica da tipificação penal”, explica o delegado.

O que já foi feito

O delegado Saniel Ricardo Trovão afirmou que a vítima já foi ouvida. Foram juntados ao inquérito policial o resultado do exame de corpo de delito e as imagens que mostram a agressão sofrida por Gabriel.

O titular do 1º Distrito Policial de Açailândia informou que uma testemunha ocular será ouvida nesta terça-feira (4) e que os autores das agressões serão ouvidas até o fim da semana.

“Os investigados já foram intimados. Até o fim da semana, pretendo ouvi-los para juntar no inquérito a versão dos investigados sobre o fato”, afirma o delegado.

Os investigados

Jhonnatan Silva Barbosa, que aparece nas imagens agredindo Gabriel, já foi condenado pela Justiça por ter atropelado e matado um homem de 54 anos, em 2013. A condenação foi de dois anos e oito meses de prisão, que foram convertidos em serviços comunitários e multa de um terço de um salário-mínimo.

Procurado pela reportagem do Fantástico, Jhonnatan não foi encontrado, mas uma pessoa que se identificou como tio dele informou que o sobrinho não daria entrevista. Em nota, Ana Paula Vidal, também agressora, pediu desculpas e disse que não teve uma atitude racista.

Jhonnatan Silva Barbosa e Ana Paula Vidal, autores das agressões. (Foto: Reprodução / Redes Sociais)
Jhonnatan Silva Barbosa e Ana Paula Vidal, autores das agressões. (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

Racismo

Para o advogado de Gabriel, o racismo é evidente. "Foi um caso de racismo. Muitas vezes se busca, para a caracterização de um episódio claro de racismo, a verbalização, a utilização de palavras que denotem o preconceito racial, mas isso não é o padrão brasileiro, baseado em racismo estrutural", defende o advogado Marlon Reis.

Este é o mesmo entendimento de José Carlos Silva de Almeida, da ONG Justiça nos Trilhos. "A partir do momento que eles olham o Gabriel, enxergam nele um bandido, um ladrão. Estão fazendo juízo de valor baseado na cor da pele, na vestimenta dele. Isso é racismo", diz.

Mudança

Gabriel comprou o carro há dois meses. Ele se mudou do prédio que morava porque o imóvel pertence à família de Ana Paula. Com medo, o jovem teve acompanhamento da polícia para retirar seus pertences do apartamento.

Veja o vídeo:

 

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