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Demências: Como podemos evitar?

A reputação de envelhecer em nossa sociedade não é sobremodo positiva porque está associada a doenças crônicas e/ou degenerativas, com destaque para as demências

Dra Marcela Rodrigues

Atualizada em 27/03/2022 às 11h01
Diversos são os fatores de risco já descritos.
Diversos são os fatores de risco já descritos. (Foto: Kindel Media no Pexels)

Ruptura de memória, redução da capacidade cognitiva, dificuldade de aprender coisas novas e principalmente inabilidade em atividades rotineiras da vida como fazer compras, realizar cálculos, memorizar senhas e controlar o uso de medicamentos, são os aspectos mais relevantes do que denominamos síndromes demenciais.

É bem verdade que a conjuntura atual da pandemia Covid-19, mais especificamente a Síndrome Pós-Covid ou Covid longa, trouxe alterações neurológicas que muito se assemelham aos padrões de demências. Mas nesse texto vamos tratar das síndromes clássicas. Você já parou para pensar em como evitar?

Diversos são os fatores de risco já descritos, bem estabelecidos e amplamente investigados quando o assunto é demência, a ponto da comunidade científica afirmar que cerca de 40% dos casos são considerados evitáveis ou preveníveis. Os 60% restantes estariam associados a uma “perfeita” interação entre genética e ambiente, caracterizando o conceito moderno de epigenética (mudança na expressão dos genes).

A lista dos principais fatores começa com os geradores de “inflamação”: descompensação da pressão arterial (Hipertensão), da glicemia (Diabetes), do colesterol (Dislipidemias), aumento do índice de massa corpórea (sobrepeso e obesidade) e inatividade física. Em seguida vem os fatores tóxicos ao sistema nervoso central (cérebro): álcool, tabaco, drogas, poluição do ambiente. E por fim, hábitos de vida (má qualidade do sono) e fatores dietéticos (pobreza de nutrientes, excesso de contaminantes químicos – conservantes, edulcorantes, acidulantes, etc.). Grandes estudos sugerem uma taxa cumulativa de risco quando esses fatores se somam, por exemplo: enquanto a hipertensão eleva em 2x o risco de declínio cognitivo, se somada a dislipidemia passa a ser de 6,2x.

Mais recentemente, em 2017, uma Comissão Internacional para prevenção de Demências ampliou os estudos e acrescentou como fatores de risco o isolamento social, as perdas auditivas e os traumatismos cerebrais. As adversidades psicossociais como ansiedade, depressão e estresse crônico também sobrecarregam o declínio cognitivo mas seus mecanismos são pouco conhecidos. Vale destacar que se qualquer um desses fatores começarem a partir dos 40 anos maior será a chance de desenvolver algum modelo dessas doenças.

A essa altura você deve estar somando os seus fatores e calculando a sua probabilidade...ou não?! A boa notícia é as pesquisas que revelam os meios pelos quais nós podemos controlar todos eles são também muito extensas. Todavia elas não revelam apenas a mudança de hábitos ou melhor interação com o ambiente. Elas reforçam a premissa de que somos efetivamente resultado daquilo que “comemos”.

Segue abaixo a lista dos principais agentes nutricionais considerados “protetores” do cérebro, e que uma vez inclusos em sua dieta serão capazes de reduzir as chances de desenvolver demências:

- Ômega 3: o envelhecimento traz naturalmente a queda dos níveis de DHA (ácido graxo do ômega 3) no córtex cerebral, que se traduz em maior oxidação das células. Estudos revelam que mesmo nos casos de pessoas com declínio cognitivo já presente, o consumo do ácido graxo ômega 3 e/ou o consumo regular de peixes (3x semana) reduz substancialmente o risco de declínio cognitivo por reduzir inflamação, melhorar a circulação sanguínea cerebral e reduzir a degeneração celular;

- Polifenóis: são substâncias nativas encontradas em plantas, tais como flavonóides, taninos, lignanas e outros “fármacos” naturais. São considerados como antioxidantes potentes com elevada capacidade de reduzir os efeitos deletérios de radicais livres, proteger a agregação de compostos degenerativos intracelulares (substância amilóide) e melhora na “comunicação” neuronal, revelando melhor desempenho na capacidade cognitiva. Nesse grupo destacam-se: frutas vermelhas (framboesa, mirtilo, uva roxa), gengibre, cacau, cúrcuma, chá verde;

- Vitaminas: vitaminas E e C dos alimentos têm uma sinergia com os flavonóides e potencializam a proteção neuronal. No entanto, a suplementação isolada dessas vitaminas não garante essa efetividade, exceto nas situações em que se mostre efetivamente deficientes, ou seja, apenas sob recomendação médica;

A dieta Mediterrânea é o padrão alimentar que mais se adequa à proteção cerebral. Ela se caracteriza por um alto índice de ingestão de alimentos como peixe, nozes, cereais e gorduras insaturadas (ômega 3), uso controlado de gorduras saturadas e carnes não vermelhas, e moderada ingestão de vinho tinto. Vinho? Sim! Não existe uma explicação, mas os estudos epidemiológicos mostram um menor risco de doença de Alzheimer quando se consome menos de 1 taça de vinho (100 ml) por dia. Porém, isso só se aplica a não portadores de polimorfismos genéticos (presença de ApoE4, por exemplo).

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